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Perspectiva | Com Raphael Bastos Jr.

A corrida dos ratos

A corrida dos ratos

Gostaria de iniciar a nossa primeira interação do ano de 2022 desejando a cada um de vocês um ano cheio de paz, saúde, sabedoria e que possamos colocar em prática tudo que aprendemos – a duras penas – durante os anos anteriores, principalmente valorizar cada vez mais as pessoas e os momentos mais simples que possamos desfrutar.

Pois do mesmo modo que uma vela se apaga com um soprar do vento, assim essa pandemia tem nos mostrado o quanto nossa vida nessa terra é curta e passageira.
Então vivamos intensamente cada momento ao lado das pessoas que amamos. Isso fará toda a diferença!

Acredito que todos vocês já ouviram essa expressão “a corrida dos ratos”, bastante utilizadas para exemplificar a vida adulta sem educação financeira.

Em síntese, trata-se daquele adulto que tem necessidades para sobreviver e para supri-las precisa de dinheiro, então percebe que não tem dinheiro e começa a trabalhar para que possa ganhar um pouco. Ao ganhá-lo para gastar e cobrir suas necessidades, descobre-se novamente sem dinheiro e, assim, inicia-se o ciclo novamente. Um ciclo vicioso, sem fim, totalmente autodestrutivo que lhe consome toda a energia até que se finda sua vida.

Hoje quero convidar você a juntos analisarmos o que nos leva a entrar por diversas vezes, e em diferentes áreas, na “corrida dos ratos”, entendendo o que exemplifiquei acima.

Vamos aprender a entender os hábitos que nos colocam nesse vício menta e, assim, fazermos de fato um 2022 diferente, apenas melhorando nossas escolhas.
Quero te provar que o que vamos abordar aqui irá servir não apenas para sua vida pessoal, profissional, amorosa, financeira e, claro, o que não poderia faltar nesse espaço, política, afinal, como sempre faço questão de enfatizar, somente pela política somos capazes de mudar a vida de centenas de milhares de acreanos, e é a sua escolha que irá definir essa mudança.

Assim, meu caro leitor, quero novamente convidar você ao nosso exercício de esvaziar nossas xícaras de pré-conceitos e olharmos para os fatos a seguir sob outra PERSPECTIVA!

Para iniciarmos de maneira assertiva nosso exercício de hoje, primeiramente, precisamos entender quatro conceitos básicos para lograrmos êxito daqui por diante.

Você sabe o que é livre arbítrio?
Você sabe o que é consciência?
Você sabe o que é aprendizado?
Você sabe o que é hábito?

De maneira simples e direta vamos detalhar cada um desses elementos para que possamos ter clareza e nivelarmos nossos conhecimentos.

O livre arbítrio nada mais é do que o poder de escolha que todos nós temos, sempre que estamos diante de uma situação que se apresenta com duas ou mais opções. Nesse momento temos o poder da decisão, e é a esse poder de livre escolha que é dado o nome de livre arbítrio.

Por exemplo: Quando você acorda e entra no banheiro para tomar um banho, você tem a opção de usar água fria, água morna ou água quente, esse poder de escolha é o livre arbítrio.

Já a consciência é uma característica humana de percepção sobre si, sobre o ambiente e sobre as diversas variáveis em que cada atitude tomada pode resultar, e para desenvolvê-la de maneira sadia precisamos alimentá-la de conhecimento.

Por exemplo: Quando você fica de frente ao chuveiro e tem que decidir sobre que água você vai usar no banho, exercendo seu livre arbítrio, sua consciência faz uma breve análise do ambiente externo e usa o conhecimento prévio para avaliar qual a melhor temperatura para seu corpo, e é a consciência que lhe auxilia nesse momento para a tomada de decisão. Se for um dia quente sua consciência vai lhe sugerir um banho com água fria, porém se for em um dia frio com toda certeza sua consciência irá lhe levar a escolher uma água mais aquecida.

Já o aprendizado é um processo por meio do qual adquirimos nossas habilidades e/ou desenvolvemos nossas competências para que se gere o conhecimento, que por sua vez alimentará a consciência que irá auxiliar no livre arbítrio.

Existem várias formas de aprendizado. Porém, de acordo com psiquiatra americano Willian Glasser existem dois principais modos de aprendizado: o passivo (ler, escrever, observar e ver/ouvir) e o ativo (discutir, praticar e ensinar).

Por exemplo: A primeira vez que você vai tomar banho sozinho, em uma manhã fria e não sabe que tem opções de escolha para água, somente abre o chuveiro e sente aquele jato frio, você acabou de adquirir um conhecimento de que água fria não é tão agradável nas manhãs frias.

Já o hábito nada mais é que a prática de uma ação ou comportamento, normalmente adquirido por constante repetição, tornando-se tão natural e espontâneo que passamos a fazê-lo quase de maneira automática, sem aplicar os devidos filtros gerados pelo aprendizado, pelo conhecimento e pela consciência.

Por exemplo: Se você mora em um local naturalmente quente, seria comum usar a água mais fria para tomar banho, e em um dia atípico de frente fria, se você entrar no chuveiro no “automático” a força do hábito irá fazer você tomar aquele jato frio de água, se sua consciência não for ativada e avaliar o ambiente externo.

Observe que os três primeiros conceitos apresentados estão intimamente interligados e são os principais responsáveis por nossas escolhas e, naturalmente, pelos resultados, isso para aquelas pessoas que conseguem diariamente colocá-los em prática.

Já o ultimo conceito é um tanto delicado, vez que pode nos levar a cometer uma série de equívocos, pois quando agimos levados diretamente pela força do hábito, isso pode trazer péssimos resultados, uma vez que não levamos diversas variáveis em consideração para tomada de decisões, e abrimos mão do uso da nossa consciência, e dos aprendizados gerados que poderiam ser aplicados para auxiliar na melhor escolha, ou seja, a força do hábito é um anestésico para o livre arbítrio, que impede o uso consciente de nossos aprendizados para melhorar nosso poder de escolha.

Quero compartilhar com vocês uma pequena parábola que sempre utilizo em meus treinamentos quando quero falar do poder do hábito na vida das pessoas, e como no nosso cotidiano aplicamos vários hábitos herdados sem nunca sequer termos nos questionados o porquê de tal ação, ou se esta ainda faz sentido nos dias de hoje.
“Em uma bela manhã na véspera de natal, a mãe se levanta prepara o café e convida a filha para a ajudar na preparação da ceia natalina que será servida a toda família nessa noite, a menina se anima e logo levanta, toma seu café e ajuda a mãe a tirar o peru de natal do congelador.

Após o descongelar da ave, elas abrem a embalagem, lavam, e começam a temperar seguindo a boa e velha receita da família, uma receita que era passada de geração a geração, e quando elas finalmente terminaram o preparo do prato principal da ceia, a menina observou que sua mãe antes de conduzir a bandeja com peru para o forno para que o mesmo fosse assado, teria retirado suas assas e suas coxas, colocando esses pedaços ao lado na mesma bandeja.

Daí a menina pergunta a mãe o motivo que a levou a retirar aqueles pedaços do peru antes de colocá-lo no forno, e a mãe de pronto responde, minha filha isso é a chave da receita de sua avó, ela fazia isso todos os natais e o peru sempre estava macio e suculento.

Não se dando por satisfeita, a menina vai até a avó e questiona, vovó porque tirar as assas e as coxas do peru antes de colocar no forno? E sua avó sorrir e responde, minha neta, eu tirava porque o forno que a vó tinha não caberia a ave inteira para assar, então era necessário que eu tirasse para garantir o bom preparo”.

Concluímos que muitos dos hábitos que herdamos – na família, no trabalho ou nos relacionamentos – são comportamentos que fizeram sentido em algum momento dentro de algumas variáveis e aplicada a um determinado contexto, mas será se até hoje as variáveis permanecem as mesmas? Reflitam.

Se existe um local onde é muito fácil identificar esse tipo de situação relatada acima é no serviço público.

Em diversas repartições vários servidores desempenham diariamente suas funções, muitas delas sem nunca terem se questionados o real motivo, mas apenas porque alguém lhe disse que seria daquela forma, e continuou reproduzindo um hábito que nunca foi seu, mas do ambiente, sem avaliar se elas seriam satisfatórias e se ainda se aplicava àquele contexto.

Os conflitos existentes entre as relações familiares, amorosas e profissionais, muitas vezes são divergências culturais – cultura é um conjunto de hábitos consolidados! –, ao passo que na política, além da divergência de hábitos, existem variáveis como ideologia e interesses que dão um toque mais forte nos conflitos nesse campo de relações.

Você já se perguntou de onde o brasileiro herdou o hábito de querer se dar bem em todas as situações, de ganhar benefícios onde não merece, ou até mesmo de dar jeitinho nas coisas para não fazer o que deveria ser feito? De onde vem essa cultura de corrupção entranhada em nossa sociedade?

Pois bem, quero chamar a sua atenção, caro leitor, para uma cultura que herdamos ainda da época de nossa colonização, e como alguns dos hábitos estão arraigados no nosso dia a dia e, claramente, visualizamos essa herança maldita entranhada na classe política e em muitos que se dizem representantes dos interesses coletivo e que na verdade estão fazendo mais do mesmo, apenas dando sequência à força do hábito.

Para isso convido você a mais uma contextualização.

De modo bem simplório, nossa colonização teve início a partir do financiamento, pelos Reinos da Espanha e Portugal, de diversas missões marítimas para buscar expansões territoriais e comerciais. Em 1492 descobriu-se o “Novo Mundo”, que conhecemos como América, e em 1500, Pedro Álvares Cabral desembarca em nosso Brasil – inicialmente, chamado Ilha de Vera Cruz.

Pois bem. A partir de então, novas expedições foram feitas com a finalidade de povoamento e exploração, e daí se implantou um dos hábitos que quero destacar.

Em 1548 foi criado o sistema de Governo Geral: todas as riquezas eram levadas para a Coroa Portuguesa para que a mesma desfrutasse de grande luxo e riqueza, enquanto nas Colônias (leia-se: Brasil!) o que existia era exploração de mão de obra escrava – inicialmente, os indígenas foram escravizados e depois os negros trazidos do continente africano assumem o papel na escravidão do Brasil – e a clara política extrativista de Portugal.

Mas, algo aconteceu nesse processo de colonização, que muitas vezes passa despercebido aos nossos olhos: as pessoas enviadas pela Coroa para a “Nova Terra” eram, em geral, exilados, pessoas condenadas por diversos crimes, assassinatos, estupro e outras mazelas que a Metrópole já não queria em seu convívio na Europa.

Portugal fez uma verdadeira limpeza social, deixando suas terras apenas para a realeza, os nobres e os afortunados, e enviando todo seu expurgo para as terras do Brasil, pessoas que, na sua grande maioria, não tinham consciência de crescimento coletivo e buscavam única e exclusivamente se darem bem de alguma forma.

Porém, mesmo passados cinco séculos, os hábitos se repetem e as histórias que vivenciamos atualmente não são tão diferentes. Escândalos e mais escândalos vêm marcando a história do Brasil. Governantes entram e saem, mudam os nomes, mas as mesmas práticas continuam a ser adotadas.

plicando tudo isso ao nosso Acre, percebemos que não tem sido muito diferente. Recentemente, assistirmos mais uma vez nosso Estado ser lembrado na mídia nacional pelas velhas práticas de corrupção que nos acompanham desde os tempos de Colônia.

Pior que ainda existem grupos de pessoas que querem defender a qualquer custo seus líderes políticos, argumentando que “ele vem de família rica”, “ele é rico e não precisa disso”.

Trago novamente o exemplo utilizado da nossa colonização: foi a família real e os mais afortunados os grandes responsáveis pelo maior saque que essa nação já viu, levaram tudo e deixaram somente esse sentimento que eles não precisavam pois já eram ricos, mas sua riqueza não os impediram de roubar e explorar os que aqui viviam.

A operação Ptolomeu é a ponta de um iceberg, onde existe um emaranhado de ligações, diversos indícios e muitas perguntas sem respostas.

Ouvimos falar do escândalo dos precatórios, de indícios na Educação, na Saúde com recursos do COVID, nas obras de Infraestrutura com direcionamento para as empresas envolvidas na operação e pagamentos indevidos em reconhecimento de dívidas inexistentes, todos esses temas são alvos de investigação pelas Polícias Civil e Federal.

Esse câncer não está só no Executivo estadual!

Há parlamentar investigado por peculato, outros pela prática de “rachadinha”, por candidaturas laranjas e etc, que precisaria de outro artigo só para enumerar tantos os indícios daqueles que deveriam estar na defesa de nossos interesses comuns, mas atuam apenas na defesa de seus próprios interesses.

Meus caros leitores... trago essas informações – e esta reflexão! – para que vocês possam refletir sobre o que lhe levou a escolher seu voto em 2018.

Será que houve influência de alguns hábitos (bons ou ruins) nessa escolha? Todas as variáveis foram analisadas de maneira consciente? Os representantes por quem você optou eram de fato preparados para tal missão? Tinham experiência para o que se propuseram? Você já os acompanhava para avaliar corretamente sua preferência?
Ficou claro que quando não usamos os aprendizados gerados, de maneira consciente, nosso livre arbítrio pode ser totalmente ludibriado pelos nossos hábitos e culturas herdadas e trazer resultados horríveis.

Agora que aprendemos sobre esses quatro conceitos e suas aplicações, vamos colocar este aprendizado em prática, diariamente, em tudo que fizermos e fazer de 2022 um ano melhor, não somente por um sentimento alimentado de uma esperança subjetiva, mas sim de um reflexo real da melhoria de nossas decisões e atitudes.
Suas escolhas hoje vão tornar seu amanhã muito melhor!

Feliz ano novo!