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Perspectiva | Com Raphael Bastos Jr.

A inexperiência custando vidas

A inexperiência custando vidas

A vida é feita de escolha e que estas, por sua vez, trazem-nos consequências boas ou ruins, isso todos nós sabemos. Porém, os últimos acontecimentos me fizeram refletir profundamente sobre algumas delas, e gostaria de convidar você, caro leitor, a esvaziar a sua xícara de opiniões para fazermos juntos uma nova análise de alguns fatos, olhando sempre por outras PERSPECTIVAS.

Desde o início dessa pandemia é defendido pela Organização Mundial de Saúde – OMS, pelo Ministério de Saúde – até então conduzido pelo ex-ministro Mandetta –, pelos Governadores, Secretários Estaduais e Municipais de Saúde e Prefeitos a adoção das medidas de isolamento social. Os Poderes Legislativos – Federal, Estaduais e Municipais – e até a própria Suprema Corte referenda que o isolamento seja adotado, ato confirmado com a decisão de dar essa autonomia aos Governos Estaduais e Municipais para decidir sobre o tema.

O motivo é simples: o achatamento da curva de contágio, possibilitando ao Sistema Único de Saúde brasileiro o atendimento mínimo necessário aos que necessitarem de tratamento hospitalar.

Porém, desde a primeira semana que se foi adotado a medida de isolamento e distanciamento social, os órgãos de saúde estaduais com apoio financeiro do Ministério de Saúde, deveriam ter feito agressivos investimentos para ampliação de leitos de tratamentos semi-intensivo e intensivo com intuito de ampliar a disponibilidade já deficitária de longos anos de defasagem causadas pelas gestões passadas, que não priorizaram os investimento em saúde, mas que outrora alimentaram a política de “pão e circo” com dois grandes eventos (Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016), os quais deveriam ter deixado legados de desenvolvimento, mas só nos deixou evidências de que o brasileiro ainda precisa evoluir, e muito, a forma de avaliar as escolhas de seus representantes.
Hoje, o quadro que temos são vários Estados da Federação vivenciando verdadeiros colapsos em seus sistemas de atendimento de saúde, além de recordes sendo batidos diariamente no número de mortos pela COVID-19. A falta de leitos de tratamento intensivo já é uma realidade nas grandes capitais e os hospitais públicos e privados já ultrapassam a marca de 80% (oitenta por cento) da taxa de ocupação, deixando o famoso sinal vermelho ligado de que em mais alguns poucos dias, estaremos totalmente impotentes diante dessa doença.

Sobre este ponto que chamo sua atenção, leitor: de que adiantou os quase 60 (sessenta) dias de quarentena e isolamento social se não houve por parte do Poder Público a capacidade efetiva de ampliação de leitos, aquisição de equipamentos, ampliação das equipes e compra dos devidos equipamentos de proteção individual – EPIs?

Somente o isolamento social não irá resolver a situação que estamos vivenciando por um motivo bem simples: com a taxa de isolamento de 50% (cinquenta por cento) que é a média que vem conseguindo ser alcançada pelos Estados, só diminui a propagação do contagio de 2,5 pessoas, para 1,25 pessoas, ou seja, numa famosa “conta de padaria”, como não foi ampliado efetivamente os leitos, o que fizemos foi ganhar alguns dias para se estrangular o sistema da mesma forma.

A exemplo, o Estado do Acre possui cerca de 50 (cinquenta) leitos de UTI e sem isolamento levaria 30 (trinta) dias para ocupação total dos leitos. Com a taxa de 50% (cinquenta por cento) de isolamento social, esses mesmos leitos vão levar agora cerca de 60 (sessenta) dias para sua ocupação, o que seria uma ótima notícia se tivesse sido feito planejamento das ações e desde o início a Secretaria de Saúde tivesse atuado na direção correta, pois, assim, teria o dobro do tempo para tentar ampliar a disponibilidade de vagas e não permitir o colapso total do sistema.

Ocorre que estamos exatamente próximos ao final dos dias para ocupação máxima de nossos leitos e até a presente publicação não houve novas entregas e nem a ampliação de vagas de leitos de atendimento intensivo. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o Estado do Acre tem o 4º (quarto) pior índice de distribuição espacial de médicos a cada 100.000 (cem mil) habitantes, e o 5º (quinto) pior índice de distribuição de respiradores para cada 100.000 (cem mil) habitantes.

Mediante o constante aumento dos casos confirmados, a pauta desta semana foi adotar mais uma rigorosa medida, conhecida como Lockdown, que seria o fechamento total das atividades não essenciais, com fiscalização rígida e punições para as pessoas que forem encontradas fora de suas residências sem motivo previamente justificado e autorizado pelas autoridades sanitárias. Tal medida deve ser adotada por no mínimo 14 (quatorze) dias, podendo ser prorrogada, o que daria mais alguns dias de sobrevida ao Sistema de Saúde. Só que, mais uma vez, esse tempo a “mais” sem o devido planejamento de nada irá adiantar, pois precisamos de gestão eficiente e ações totalmente sincronizadas entre Estados e Municípios.

Já foi noticiado que a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do 2º Distrito – que está como unidade de referência para receber pessoas com sintomas ou suspeitas de contaminação pela COVID-19 – estaria sobrecarregada porque os Munícipios não assumem esse papel da triagem inicial. Os Municípios deveriam realizar em suas Unidades Básicas de Saúde a triagem e a aplicação dos testes rápidos diminuindo, assim, a taxa de contaminação.

Imaginemos um paciente que tivesse um sintoma leve e fizesse esse procedimento na UPA, onde tem confirmados diversos casos de pessoas contaminadas. Essa pessoa amplia as chances de ir com sintoma de uma gripe e lá na sala de espera da UPA sair após uma testagem negativa com o vírus da COVID-19 adquirido na própria unidade e que só se manifestaria alguns dias depois.

Outra ação que deve ser vista como prioritária por parte do Poder Executivo estadual seria a implantação de um hospital de campanha na Capital, que amplie de fato os leitos para tratamento da COVID-19. Estruturas subutilizadas como o Hospital Regional de Brasiléia também poderiam ter uma grande quantidade de leitos habilitados.

O fato é que de nada servirá a ampliação do isolamento, ou a implementação de um Lockdown, sem um plano concreto, com ações claras e bem definidas, que tragam esperança para as pessoas que porventura possam vir a precisar de leitos para o tratamento dessa doença que vem assustando todos os Estados e até mesmo os países desenvolvidos.

Na última quarta-feira, dia 06 de maio, o Senado Federal aprovou por unanimidade o Projeto de Lei que garante ajuda financeira para Estados e Municípios, um orçamento de R$125.000.000.000,00 (cento e vinte e cinco bilhões de reais), sendo R$60.000.000.000,00 (sessenta bilhões de reais) repassados diretamente e mais R$65.000.000.000,00 (sessenta e cinco bilhões de reais) para renegociação de dívidas com a União e Bancos Públicos, além dos organismos internacionais. Dessa forma todos os Estados vão ter condições de fazer seus investimentos para combate a COVID-19, sendo necessário somente elencar prioridades.

Considerando todos esses fatos relatados, só resta esperar os próximos passos que o Governo Estadual e os Municípios irão dar e acreditar que seja possível reverter esse cenário apocalíptico que se projeta para a segunda quinzena de maio e para todo mês de junho. Caso isso não ocorra, já está bastante claro que o preço a ser pago pela inexperiência dos Poderes Executivos Estadual e Municipais será a morte de muitos cidadãos.