Depois de alguns meses afastados da boa prática da escrita, nos quais, admito, senti muita falta – tive que sacrificar este hábito até aqui, pois estava envolvido em alguns projetos que me exigiram muito tempo de estudo para sua modelagem, e adianto para você que vêm coisas novas, grandes e inovadoras e terão a assinatura deste acreano –, agora tenho o privilégio de retornar com mais uma coluna para que, assim, os meus ilustres dois leitores, – sempre em referência ao mestre Ray Melo que detém o feito único de ter três leitores, e eu ainda não estou no seu nível meu amigo, então aceito satisfeito esses dois! – que apreciam nossa coluna possam se debruçar e desenvolver junto comigo uma análise mais qualificada sobre o tema abordado.
Quero convidar você a falarmos hoje de um tema que está batendo à nossa porta, um debate que já está ganhando forma e muita repercussão nas mídias e redes sociais: vamos abordar hoje sobre eleições 2022 e o que deve ser observado por aqueles que pretendem não só disputar, mas querem, sim, vencer as eleições gerais do próximo ano!
Tanto em nível nacional, quanto em nível estadual, observamos uma polarização ainda muito evidente, a eterna luta do “bem contra o mal”.
Esta necessidade de se ter uma disputa antagônica vem sendo a estratégia adotadas por muitos grupos políticos nada mais é que uma grande cortina de fumaça para evitar que os reais dados, os problemas e as propostas que podem solucioná-los sejam analisadas com a devida importância por quem busca oportunidade e dias melhores para nosso povo.
A Direita tem se apresentado como o “bem” para aqueles que querem a defesa das pautas da família e dos bons costumes, os chamados “conservadores”, a defesa do Estado Mínimo e uma economia liberal, e passam a demonizar a esquerda e suas “ideologias” com suas pautas progressistas.
Já a Esquerda se apresenta como o “bem” para aqueles que querem oportunidade, politicas públicas inclusivas com maior alcance aos que estão em situação de vulnerabilidade social, geração de emprego e melhor distribuição de renda, e demonizam a direita e suas ações “liberais” para economia, que amplia a desigualdade social gerando pobreza e fome.
Assim, meu caro leitor, quero mais uma vez convidar você ao nosso exercício de esvaziar nossas xícaras de pré-conceitos e olharmos para os fatos sob outra PERSPECTIVA!
O instrumento mais comum utilizado para se aferir a aceitação, a rejeição e até a avaliação das atuais gestões, e nomes que estão pleiteando um espaço eletivo de representação popular – seja esse cargo para o executivo ou legislativo – é a pesquisa de opinião, que mediante a utilização de metodologia cientifica se define um “universo amostral”, ou seja, a proporcionalidade geográfica da amostra, de maneira a garantir que a aferição pretendida, de fato, representa estatisticamente o universo de modo efetivo.
Diversos modelos matemáticos podem ser aplicados a fim de ampliar o nível de confiança e assertividade dos resultados obtidos nesse tipo de pesquisa. Quanto maior a amostra e melhor distribuída ela for e quanto mais variáveis incluídas na análise, maior a probabilidade de acertos em seus resultados.
As pesquisas de opinião podem ser quantitativas ou qualitativas e se ambas seguirem a metodologia definida, a distribuição amostral geográfica, e o perfil socioeconômico dos participantes, irão expressar um sentimento momentâneo, devendo os analistas e consumidores de tais informações atentarem para algumas variáveis importantíssimas para não caírem em equívocos quando forem discorrer sobre os resultados encontrados.
No nosso Estado, recentemente tivemos a divulgação de duas pesquisas realizadas e em ambas buscou-se aferir cenários para as eleições do próximo ano, especialmente para os cargos de Presidente, Governador e Senador, os chamados cargos majoritários.
A primeira foi realizada pelo instituto Delta, que ouviu 865 (oitocentos e sessenta e cinco) entrevistados entre os dias 26 de outubro e 06 de novembro, sendo distribuída 465 (quatrocentas e sessenta e cinco) entrevistas na capital e 400 (quatrocentas) entrevistas em 13 (treze) municípios do interior, aferindo-se o perfil dos entrevistados, sexo, faixa etária, escolaridade, religião, ocupação e renda familiar.
Observou-se que não consta no documento de divulgação da pesquisa Delta os níveis de confiança e nem a margem de erro que devem ser levados em consideração para as devidas análises.
Houve ainda uma segunda pesquisa realizada pelo instituto Big Data que ouviu 600 (seiscentos) entrevistados, entre os dias 29 de novembro e 30 de novembro.
Registra-se que na distribuição amostral existe algum equívoco, pois segundo documento de divulgação oficial da pesquisa, foram ouvidas 46% (quarenta e seis por cento) das pessoas de Rio Branco, 26% (vinte e seis por cento) das pessoas do Vale do Acre e 14% (quatorze por cento) das pessoas do Vale do Juruá o que totalizaria uma distribuição de apenas 86% (oitenta e seis por cento) dos entrevistados, gerando dúvida sobre os demais 14% (quatorze por cento) de entrevistados que não são encontrados nessa distribuição amostral.
Os níveis de confiança dessa pesquisa são de 95% (noventa e cinco por cento) e com uma margem de erro de 3% (três pontos percentuais) para mais ou para menos. Não foi aferido nenhuma informação sobre o entrevistado, nem seu perfil socioeconômico.
Destaco esses pontos, pois, em minha visão, de ambas as pesquisas divulgadas constam pequenos detalhes que podem colocar em cheque as informações divulgadas.
Para que consigamos fazer a melhor análise sobre os dados que as pesquisas nos apresentam, faz-se necessário alguns conhecimentos prévios, somente assim conseguiremos entender o que está sendo representado de acordo com o perfil dos entrevistados.
Segundo o site do Tribunal Regional Eleitoral – TRE, em suas informações estatísticas mais atualizadas, o Estado do Acre teve, na eleição de 2020, o total de 561.261(quinhentos e sessenta e um mil, duzentos e sessenta e um) eleitores aptos a votar, dos quais Rio Branco concentra 256.673 (duzentos e cinquenta e seis mil, seiscentos e setenta e três) eleitores (cerca de 45,73%), seguido de Cruzeiro do Sul com 55.749 (cinquenta e cinco mil, setecentos e quarenta e nove) eleitores (cerca de 9,93%) e Sena Madureira com 28.985 (vinte e oito mil, novecentos e oitenta e cinco) eleitores (cerca de 5,16%) de modo que em qualquer pesquisa de opinião que busque expressar, de fato, as intenções da população, é necessário que seja promovida uma boa distribuição da amostra respeitando o peso (proporcionalidade) de cada município.
Ainda sobre o eleitorado do Acre, cerca de 12,42% dos eleitores possuem idade entre 25 até 29 anos, 11,65% entre 35 até 39 anos, 11,63% entre 30 até 34 anos.
Quando se trata de escolaridade temos o grupo sem instrução até o fundamental incompleto que representa cerca de 39,98% dos eleitores, aqueles que possuem ensino fundamental completo até médio incompleto compreendendo cerca 20,52% dos eleitores, o grupo com ensino médio completo até o ensino superior incompleto, representando cerca de 29,60% dos eleitores, e aqueles com ensino superior completo, que representam cerca de 9,90% dos eleitores.
Um dos aspectos mais importantes a ser observado do eleitorado é a renda média que cada um desses grupos de instrução tem atualmente.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média da renda do Estado do Acre é de R$ 917,00 (novecentos e dezessete reais), as médias de renda dos grupos são:
Quando aprofundamos um pouco as informações temos a real dimensão do nível de pobreza do nosso Estado.
De acordo com dados do Ministério da Cidadania, nós temos PEA (População Economicamente Ativa) de 573.909 (quinhentos e setenta e três mil, novecentos e nove) pessoas, levando em consideração somente pessoas entre 15 anos e 60 anos.
Dentro desse grupo temos números alarmantes: são 240.790 (duzentas e quarenta mil, setecentos e noventa) pessoas que não possuem renda oficial para sua sobrevivência, 31.082 (trinta e uma mil e oitenta e duas) pessoas que sobrevivem com ¼ do salário mínimo por mês [+ou- R$ 270,00], 28.475 (vinte e oito mil, quatrocentos e setenta e cinco) pessoas que sobrevivem com ½ do salário mínimo por mês [+ou- R$ 540,00] e 111.703 (cento e onze mil, setecentos e três) pessoas que sobrevivem com 1 (um) salário mínimo por mês.
Se atentarmos somente para esse grupo de pessoas são 412.050 (quatrocentos e doze mil e cinquenta) pessoas que sobrevivem com até 1 salário mínimo.
Apenas para fins comparativos, somente 0,84% (oitenta e quatro décimos por cento) da população acreana tem renda superior a 10 (dez) salários mínimos.
Ainda de acordo com dados oficiais fomos o Estado em que, proporcionalmente, o auxilio emergencial teve um maior alcance: foram 327,3 mil pessoas elegíveis [53,2% de mulheres], ou seja, tivemos cerca de 57% da nossa população economicamente ativa precisando do auxílio emergencial, além de aproximadamente 70% (setenta por cento) da população de nosso Estado necessitando diretamente do programa de transferência de renda para sobreviver nesse período de pandemia.
Além das pessoas desalentadas e em situação de extrema pobreza o impacto foi ainda maior pois os profissionais autônomos, os profissionais liberais e prestadores de serviço tiveram sua renda comprometida com as medidas de restrição, necessárias para controle da pandemia.
Somente após o diagnóstico supramencionado será possível fazermos uma análise precisa dos dados apresentados ao público pelas pesquisas de opinião, e avaliar com mais clareza os cenários que se vislumbram para o próximo ano, entendendo todas as variáveis e até fazendo uma previsão da fórmula que deve levar os candidatos a uma vitória no próximo processo eleitoral em 2022.
Quando nos debruçamos sobre os cenários apresentados temos as seguintes informações: para Governador, quando perguntado “Em quem você votaria?”, sem apresentar opções ao entrevistado para que ele responda espontaneamente, o atual governador Gladson Cameli aparece com 30% das intenções, segundo a pesquisa do Instituto Big Data e 21,85% das intenções segundo o Instituto Delta.
Se aplicarmos as margens de erro, percebe-se que os resultados de ambas as pesquisas são plausíveis, o que está dentro da margem natural para quem está na situação de poder, algo que sempre foi observado nos tempos em que a extinta FPA (Frente Popular do Acre) comandou o Estado.
Chamou a atenção, ainda, a discrepância das pesquisas quando observada a rejeição do atual governador, onde se aferiu 27% na pesquisa realizada pelo Big Data e somente 7,19% na pesquisa realizada pela Delta.
Estas informações se ratificam nas pesquisas quando se fala na avaliação da gestão, onde o somatório de ruim e péssimo totalizam 21%, segundo o Big Data e apenas 10,87%, de acordo com a Delta. Levando-se em conta a margem de erro novamente fica coerente os números apresentados pelos institutos.
Não irei analisar individualmente os demais nomes postos nos cenários apresentados pois, na minha visão, ainda não retrata a realidade do que deve ser o próximo pleito, e existe informações mais relevantes nesse momento, e quero chamar a atenção de todos para ela.
Ainda na análise dos números do cenário espontâneo, observa-se que um grande e massivo número de entrevistados não sabem ou não quiseram responder em quem votariam se as eleições fossem hoje – foram 44% dos entrevistados de acordo com o Instituto Big Data e 63% dos entrevistados na pesquisa realizada pela Delta –, e chamo o caro leitor para a análise desses números, pois será nele que iremos encontrar a fórmula para entender o que irá acontecer nas próximas eleições, e ainda o que deve ser levado em consideração para que o eleitor saia desse grupo de indefinidos e tome uma escolha consciente.
Para entendermos o porquê do foco da análise na pesquisa espontânea e não para os cenários induzidos, é que se partirmos da máxima de que na ausência de opções (candidatos/projeto de desenvolvimento para Estado) o eleitor acaba sendo induzido naquele momento a realizar uma escolha, na ausência de informações é natural que ele escolha o nome de maior evidência no momento.
Trata-se do uso da memória recente, situação em que o entrevistado segue o instinto, e que nos levará a uma análise de momento equivocada, situação que muda quando tivermos certezas dos nomes/projetos que irão disputar de fato a eleição.
Vamos definir algumas premissas para iniciarmos nossa análise: o atual governo foi eleito em 2018 com 53,71% dos votos válidos, resultado obtido com a união da maior parte do grupo de oposição à FPA, somado ao sentimento de desgaste natural do poder e ao antipetismo que foi uma onda real em todo país.
Esse grupo contava com algumas personalidades politicas que foram importantes para vitória, dentre as quais destaco o Senador reeleito Petecão (alcançou a maior votação de todos os tempos para senado federal), o atual vice-governador Major Rocha (Deputado Federal à época mais votado do grupo da oposição), além de outras forças políticas que se uniram naquele momento para fazer o enfrentamento ao Partido dos Trabalhadores.
Evidencio somente os dois nomes citados, pois, atualmente, ambos estão entre os que certamente irão marchar contra a reeleição do atual governo e representarão uma fatia significativa de apoio que irão sair da base de referência numérica da primeira vitória.
Somando as perdas de apoio aos entraves vivenciados pelo atual gestão, que vem tendo dificuldades técnicas para o cumprimento das promessas e compromissos assumidos na última campanha eleitoral, tais fatos são constatados na ausência de projetos e obras relevantes em três anos conclusos de governo, que até o momento não aponta para nenhum legado ou marca para sua gestão, além de várias investigações e denúncias de corrupção praticadas por membros do governo, que vêm, mês a mês, tomando conta das páginas policiais.
A seu favor, o atual governador tem um carisma que lhe é peculiar, a composição com forças políticas [partidos, parlamentares e personalidades] que lhe eram opositoras no pleito passado e a atuação na saúde durante a pandemia.
O fato é que o atual governo não deve abraçar tais pesquisas como verdade absoluta e seguir com o pensamento de que a sua reeleição está bem encaminhada.
Os verdadeiros impactos da pandemia na vida do cidadão acreano ainda serão sentidos no próximo ano: a falta de implementação dos programas de governo e investimentos públicos, a ausência de oportunidades e o desemprego, somados à fome, podem ser fatores determinantes nessa equação difícil.
Vale ressaltar que cerca de 70% das pessoas foram alcançadas pelo auxílio emergencial, e aqueles que não conseguirem ser atendidos pelo novo programa Renda Brasil vão exercer forte pressão nos índices de avaliação e popularidade do atual Governo.
Concluo esse artigo afirmando que: as pesquisas expostas até o momento ainda não trazem todas as variáveis para nos dar segurança a uma análise mais aprofundada, pois a vantagem momentaneamente conferida do atual Governador não reflete claramente um favoritismo real.
O próximo governador será aquele que apresentar o melhor Plano de Governo, com propostas exequíveis, que gere confiança na iniciativa privada, que crie oportunidades aos jovens, que proporcione um ambiente favorável para atração de investimentos e fomente políticas públicas eficazes e inclusivas visando ao alcance das famílias vulneráveis e trazendo esperanças de um Acre mais digno e próspero.
Vamos aguardar as próximas pesquisas, torcendo para que os institutos que as forem realizar se atentem aos detalhes expostos aqui e consigam trazer dados com uma qualidade superior para análise dos cenários, dando ao público uma informação qualificada.