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Sensibilidades - Por Antônia Tavares

Educação é tudo

Educação é tudo

Recebi como uma prece a mensagem da professora de matemática (que não vou dizer o nome) dizendo como ela recebeu “Sensibilidades”. Sem querer, mas com muita intenção, conseguimos nos comunicar com educadores. Vivemos na “era do conhecimento” e, embebidos em fake News, rastejamos na sarjeta da ignorância. Dizem que é uma crise epistemológica, não sei, e, como se sabe, hoje é. O quê? É. Seria tão bom se a pedagogia de Paulo Freire entrasse na era da ciência da computação, não é mesmo? A gente sabe das coisas, mas não conhece; conhece, mas não sabe o que é. O Patrono da Educação brasileira nos ensinou que, para conhecer, precisamos viver a experiência do conhecimento. Tanta ilusão nas máquinas que até me desespero, mas sou modesta demais para isso e não gosto de elogios, prefiro reconhecimento.

Teletrabalho

Estou em teletrabalho. Demorei a me adaptar ao contato frio da tela, mas dentro da gente sempre tem um calor que aquece. Hoje amanheci pensando vermelho, é que para estudar vitimologia na atual conjuntura a gente precisa comer carne e eu não gosto do sabor de sangue na boca. Tive insônia.

Sonhei com Deus

Sonhei com Deus. Ele não tinha uma forma propriamente definida, mas algo grande e poderoso falava no silêncio macio e cinzento do quarto. Exausta, depois de alguns dias sem dormir, o intestino dava sinais de infortúnio e o lado direito do corpo tremia sem a minha permissão. A falta de sono e cansaço ofende a vista, a luz causa desconforto e perturbação mental. Olhei a cadela dormindo em seu matinal banho de sol e pensei: tudo que tem vida dorme. O sono é uma espécie de alquimia regenerativa integral do corpo para uma mente sã. Sem sono, me desentendi com Deus. Rezei com raiva e num ponto auspicioso da oração duvidei do pendor da palavra santa, desacreditei da verdade da criação, mesmo sendo (eu) parte de sua obra, como o dia e a noite, as águas e o firmamento, os luzeiros e os enxames de coisas viventes.

Sala de aula

Antes que eu insinuasse um terror eriçado diante Dele, mesmo estando tomada de entusiasmo por saber que estava dormindo e que, acordada, ninguém acreditaria naquela brincadeira, Ele disse: procura. Saí pela casa consciente do delírio, que já não era mais a casa e sim o imenso corredor frio do colégio, a sala de aula e o professor de matemática.

O jardim

Deus fez a terra e tudo que tem no céu e para além de tudo isso. Deus criou o infinito desconhecido e nos colocou para morar no Jardim. A palavra Éden significa “delícia”, “prazer”. O que tinha antes de Deus? O caos, diz a ciência. Mas, existindo o caos, não é uma boa razão para existir Deus, já que ele é o criador de tudo?

A fruta proibida

Quem enviou e abriu as portas do Paraíso para a Serpente dissimulada e ardilosa entrar? O que Deus pensou quando plantou a árvore da sabedoria no meio do jardim e proibiu ao homem e a mulher, seres superiores a todas as outras vidas criadas por Ele, que comessem da fruta proibida? Por que Ele mesmo pôs em risco a sua própria criação? Ah, sim, sim, o livre arbítrio, bem sei.

Salvação

Acordei, peguei o livro. Era um livro fino com apenas 100 páginas surradas, empoeiradas, vindas de muito longe. Era um testamento, pacto entre Deus e o Homem. Era a renovação do pacto consagrado com o sangue de Jesus, o Cristo que morreu na cruz como sacrifício para nossa salvação. Salvação?
O que vou contar agora aconteceu comigo no Parque da Maternidade, quando eu aprendia a correr de mim.

Uma manhã no Parque ou mudança de estação

A mudança de estação nos faz lembrar que os ciclos são a vida de tudo que nasce e morre. A garoa das 6h quase me fez desistir da caminhada matinal que é parte do tratamento de saúde que iniciei recentemente.

Caminhei aproximadamente 200 metros imersa numa aleluia por mais um dia de graça e, de súbito, um homem, em sentido oposto ao meu, montado numa bicicleta enferrujada, freou na minha frente e disse em espanto:

- Uma espada e duas estrelas!

Parei. Pensei que fosse mais um alerta dos perigos do Parque, ontem mesmo uma mulher me falou dos meninos que saem dos esgotos.

O que o senhor disse? – perguntei enfática.

- Me desculpe pelo grito, é que faz tempo que não vejo essas coisas. Moro ali no Esperança, disse apontando o braço esquerdo à sua frente. Trabalho ali, levantou os olhos para o céu deixando a bicicleta pender sobre os joelhos. Meu nome é Francisco, venho do trabalho, nunca ando aqui por dentro. Quando lhe vi me assustei, é que tenho medo dessas coisas, sabe?

Que coisa? Perguntei. Por acaso eu pareço uma bruxa? brinquei.

- Não, não, a senhora é muito bonita para isso.

Pois é assim que as bruxas se escondem, sorri com um certo pudor. Você é religioso? perguntei.

- Não.

Tem medo de Deus? indaguei.

- De Deus, não, da onipotência; veja esse vírus, que coisa mais surpreendente. Esse tipo de visão ocorria quando eu era criança e agora já tenho 50. A senhora sabe o que representa a espada? a estrela?
Miticamente a espada representa o pensamento, a razão, o poder mental, o relâmpago, o elemento ar, e as estrelas só brilham no escuro, respondi.

- Não vou falar das estrelas porque a senhora já sabe, elas brilham e a senhora tem duas que lhe iluminam, mas a espada no meio da testa indica que a senhora está numa guerra.

Contra quem estou lutando? perguntei.

- Toda guerra é interior, disse, e foi andando para trás, me acompanhando.

Sentou-se no banco ao lado da Igreja Quadrangular e falou que tinha uma filha que mora em Fortaleza e veio lhe visitar. Disse que quando me viu estava planejando o café da manhã que iria preparar para ela, e se assustou com a luz.

Falou palavras idênticas ao vocabulário dos samurais nos livros e, no final, entendi que falava da “Jornada do Herói”, sem saber que o mitologista deixara um tratado escrito sobre o que dissera.

Continuei, corri, lembrei que Madame Blavatsky, em sua A Doutrina Secreta, revela a heroica sina do guerreiro de luz e sua espada flamejante em busca do verdadeiro caminho de retorno à unidade de Deus e toda sua glória.

O guerreiro deve desejar sua espada e se esforçar para merecê-la.