Política no Acre é tema permanente e as eleições são "entirissadas", “encangadas” umas nas outras: termina uma e já começa o debate sobre a próxima. O debate político aqui é Igual cantiga de grilo, não se acaba nunca. Por esses tempos, os assuntos favoritos são a antecipada polarização entre os ainda pré-candidatos a prefeito da Capital, Marcus Alexandre (MDB) e Tião Bocalom (PL) e, naturalmente, a composição da chapa majoritária de ambos.
A turma do entorno do prefeito Bocalom se compõe dos autodenominados bolsonaristas. Mais do que de direita, se assumem como conservadores, ultra-liberais e de extrema-direta. Fazem esforço no sentido de nacionalizar a polarização para tentar herdar o espólio de votos que o ex-presidente da República obteve, nas últimas duas eleições nacionais, nas Terras de Galvez.
Já a turma do entorno do Chame-Chame são os que integram a direita democrática, o centro e a esquerda progressista. Desse lado, o esforço é no sentido de municipalizar a polarização: em que pese não desconsiderar o embate ideológico e nacional, as soluções para os problemas da cidade devem preponderar no debate. Nessa aliança não há espaço para extremismos.
Para vice de Bocalom se anunciou, no final de maio, o então secretário estadual Alysson Bestene (PP), até dia desses também pré-candidato a prefeito, em uma aliança que unirá ambas as máquinas, prefeitura e governo.
Sobre o(a) vice de Marcus Alexandre, há ainda um debate em aberto. Salvo uma natural disputa que hoje envolve o PSD e o PSB, não se vê, nos demais partidos que integram o campo progressista, um esticar de corda ou um cavalo de batalha em torno disso. A única questão que sempre salientamos é que, como aliados, queremos ter assegurado o direito de participar desse debate, sem vetos apriorísticos. A decisão final, qualquer que seja ela, é do pré-candidato a prefeito e será por todos nós respeitada.
Bocalom, assim como diversos outros políticos da direita acreana, são como jacamins. Falam mal da esquerda, mas, não se incomodam em se aproveitar dos feitos desta, sem nem ao menos reconhecer a autoria do Governo Federal e do Presidente Lula nas parcerias que trazem benefício à população acreana e rio branquense. Na condição de presidente do Partido dos Trabalhadores no Acre já fiz diversas falas públicas a esse respeito, principalmente para dizer que, mesmo diante da ausência de reconhecimento do prefeito, o PT do Acre não pode e nem quer impedir que o Governo Lula firme parcerias com a Prefeitura de Rio Branco: jamais trabalharíamos para atrapalhar a celebração de tais parcerias, porque o prejudicado seria o povo da nossa querida Capital.
Nesse sentido, entendemos que cabe ao candidato que apoiamos assumir o protagonismo do bom combate, na condição de antagonista ao prefeito Bocalom. Para isso, não é necessário adentrar no embate Lula versus Bolsonaro. Mas, de igual forma, esse debate não pode ser despolitizado. Afinal, a disputa não é para saber quem é o candidato mais eficiente no ofício de tapar os buracos das ruas. A disputa se dá entre distintas visões de mundo: do lado de cá, no campo democrático, situam-se aqueles que desejam resolver os problemas da cidade de forma plural, construindo soluções de maneira dialogada com a população; do lado de lá, no campo autoritário, estão aqueles que pensam saber de tudo e ter soluções prontas para tudo, que se julgam "professores de Deus" e que mandam sentar a porrada em quem lhes contraria. O lombo dos garis que o digam.
*Daniel Zen é doutorando em Direito pela UnB, mestre em Direito pela UFSC e professor do Curso de Direito da UFAC. Presidente do Diretório Regional do PT/AC, é contrabaixista da banda de rock Filomedusa, ativista do Circuito Fora do Eixo e colaborador da Mídia Ninja. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..