Há algumas semana atrás (em 20/11/2022, para ser mais preciso) escrevi, aqui mesmo neste espaço, sobre os humores e dissabores do mercado para com o novo presidente, então recém eleito, sobretudo em virtude das reiteradas declarações em que reafirma sua prioridade para com o que denomina de “responsabilidade social”, sem no entanto se opor a uma desejável “responsabilidade fiscal”.
Nem bem se passaram dois meses e o "Deus Mercado", que não cansa de renovar suas demonstrações de maus bofes para com o novo governo, expôs suas vísceras e revelou suas fragilidades com a fraude nas Lojas Americanas. O escândalo que detectou "inconsistências contábeis" no balanço da empresa aponta para uma dívida de mais de R$ 43 bilhões. Os principais prejudicados são fornecedores, acionistas minoritários e, claro, os funcionários da empresa.
O caso é mais uma clássica demonstração do que podemos denominar de "parasitismo econômico fraudulento": depois de adquirir o controle acionário e fagocitar os seus próprios empreendimentos - reduzindo drasticamente os custos, ampliando as margens de lucro ao patamar da ganância irresponsável e maquiando a contabilidade de forma criminosa - os parasitas do capitalismo selvagem regurgitam a carcaça do "negócio" para acionistas minoritários, funcionários e clientes a quem, desprovidos do generoso amparo das seguradoras que socorrem aos controladores, só resta chupar o dedo.
Não bastasse isso, tanto os integrantes do grupo de três acionistas que controla as Lojas Americanas (Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira) quanto outros bilionários também mantém os seus tentáculos estendidos sobre a Educação e a Política, com suas fundações "benfazejas" e seus institutos "RenovaBR" da vida. Com isso, além de disseminar sua visão "liberal na economia e conservadora nos costumes" de mundo, tentam "limpar a barra" de suas atuações empresariais socialmente predatórias, como se fosse bastante mitigar suas irresponsabilidades no campo econômico financiando projetos culturais ou de governança social e ambiental.
Definitivamente, a vida não é apenas um jogo de aparências que se possa resolver em um tabuleiro de ESG. Quem não os conhece, que os compre - a eles e as ações de suas empresas - ou se deixe enganar pelo engodo de suas benfeitorias sociais.
*Daniel Zen é doutorando em Direito pela UnB, mestre em Direito pela UFSC, advogado e professor do Curso de Direito da UFAC. É contrabaixista da banda de rock Filomedusa, ativista do Circuito Fora do Eixo, colaborador da Mídia Ninja e colunista do site Notícias da Hora. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..