No último dia 02/03, na Quarta-feira de Cinzas, iniciou mais uma Quaresma. E, com ela, a Campanha da Fraternidade de 2022 que, neste ano, traz como tema "Fraternidade e Educação: 'fala com sabedoria, ensina com amor' (Pr 31:26-31)."
A quaresma é um período de reflexão espiritual e, portanto, pedagógico: é tempo de jejum, de oração, de caridade e de conversão. Nenhuma passagem bíblica explica melhor isso do que o evangelho de Mateus (6:1-18):
“Ficai atento para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus.
Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, de modo que, a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.
Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.
Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.”
Fora da Bíblia, nenhuma ocupação humana explicaria melhor essa lição de fé, esperança e amor do que a Educação. Logo, não poderia haver tema mais oportuno para o momento - de rescaldo de uma pandemia e de início de uma guerra - do que o escolhido para esta Campanha da Fraternidade: a importância de valorizar, cada vez mais, a Educação e os seus profissionais.
O magistério carrega consigo muito do ofício dos sacerdotes: o docente precisa da mesma humildade daqueles que pregam o Evangelho para compartilhar aquilo que aprendeu, com a consciência de que, quem ensina, mais aprende do que ensina.
As simbologias da Quaresma, por sua vez, são as maiores lições de humildade de todo o Evangelho. Já escrevi, em outra oportunidade, que o Lava-pés - celebrado no Sábado de Aleluia, ao final da Quaresma - é, para mim, uma das cerimônias cristãs mais bonitas e carregadas de simbolismos: humildade, alteridade (enxergar a si próprio no outro, ainda que o outro seja completamente diferente de si), senso de missão e consciência de serviço. Tanto quanto na Eucaristia, Cristo demonstrou, no Lava-pés, o mais completo senso de desprendimento e humildade.
Exatos 40 dias antes disso, na Quarta-feira de Cinzas somos levados a refletir sobre a máxima de que não somos nada: "ash to ash, dust to dust". Do pó viemos, ao pó voltaremos. E, antes que voltemos à nossa origem eterna - ou seja, ao pó - que saibamos, com ajuda do jejum, da oração, da caridade e da conversão, fazer a parte que nos cabe, a cada um de nós, nas transformações de que o mundo tanto precisa. E, olha, talvez o que o mundo mais esteja precisando, nesse momento, além de saúde e de paz, é mesmo de Educação
*Daniel Zen é doutorando em Direito (UnB). Mestre em Direito, com concentração na área de Relações Internacionais (UFSC). Professor Auxiliar, Nível 1 (licenciado), do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas (CCJSA) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Contrabaixista da banda de rock Filomedusa. Colunista do portal de jornalismo colaborativo Mídia Ninja. Deputado Estadual, em segundo mandato, pelo PT/AC. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..