A noite do último dia 13 de fevereiro era para ser mais uma noite comum na vida da agricultura Maria Evanilza, que reside na Comunidade Cachoeirinha, em Marechal Thaumaturgo, se não fosse a agressão causada pelo ex-companheiro, Raimundo Nonato da Silva. Ela foi ferida a golpes de faca nas costas.
O caso de Maria Evanilza consta em um estudo produzido pelo advogado e pesquisador da USP, Jerffeson Nascimento. Ele analisou casos de feminicídio nos 27 estados brasileiros e no Distrito Federal. Em 2019, foram registradas 183 mortes e 127 tentativas de feminicídio, um total de 310 casos no País até o dia 3 de março.
O uso de arma branca, ou seja, faca ou terçado, lidera o ranking dos artefatos utilizados pelo agressor para ferir suas vítimas. Uma média de 41% dos crimes tem uso de arma branca, contra 21% de arma de fogo.
A utilização de facas no cometimento dos crimes está diretamente ligada a outro dado revelado na pesquisa realizada por Nascimento: 47% das ocorrências se dão em casa, contra 20% dos casos registrados em via pública, na rua.
Para endossar mais ainda essa mistura, 45% dos crimes de feminicídio são cometidos pelo marido, companheiro ou namorado. Ex-maridos, ex-companheiros e ex-namorados respondem por 26%. Vizinhos representam 6% dos crimes praticados contra as mulheres e 3% outros familiares.
Em resposta a esses atos, as Forças de Segurança Pública não tem medido esforços para elucidar os crimes e prender os autores. Pelo menos 56% dos agressores são presos, 37% foragidos (um percentual ainda alto) e 6% cometem suicídio após matar a companheira.
A pesquisa revela, ainda, que na região Norte, Acre, Amapá e Roraima registraram 1 tentativa de feminicídio cada. Amazonas (2 tentativas e 1 morte), Pará (2 tentativas e 4 mortes), Tocantins e Rondônia registraram 3 mortes cada e nenhuma tentativa.
Os estados de São Paulo (35 ocorrências entre mortes e tentativas) e Paraná (17 ocorrências entre mortes e tentativas) lideram o ranking no Brasil.
Delegada diz que conscientização das mulheres em denunciar é fundamental
No Acre, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) registrou um aumento de 20% em janeiro de 2019, com relação ao mesmo período de 2018 na abertura de inquéritos para apuração de crimes contra mulheres. É o que mostra dados da própria delegacia.
Para se ter uma ideia, em janeiro de 2018, 156 inquéritos foram abertos. Já em 2019, o número subiu para 196 inquéritos. A princípio, os números assustam, porém mostram o encorajamento das vítimas em denunciar seus agressores.
Além de crimes configurados como feminicídio, há uma especificação tão violento quanto o primeiro, o estupro. Em janeiro de 2019, seis mulheres denunciaram ter sofrido estupro, contra um caso de 2018 para o mesmo período.
Lesão Corporal e vias de fato saltou de 69 casos em janeiro de 2018 para 84 registros no mesmo período de 2019.
Para a delegada, Juliana D'Angelis, a conscientização tem sido fator fundamental para que as vítimas denunciem seus agressores. “Bem, essa consciência é um dos fatores mais importantes, pois os números da violência são velados, ou seja, muitas mulheres sofrem caladas, sem denunciar”, pontua.
A respeito do caso de Maria Evanilza, citada no início da reportagem, ela solicitou às autoridades acreanas medidas protetivas.