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Acre tem mais de 670 mil hectares em 56 áreas de conflitos, diz relatório da Comissão Pastoral da Terra

Acre tem mais de 670 mil hectares em 56 áreas de conflitos, diz relatório da Comissão Pastoral da Terra

Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam que no Acre 670.132 mil hectares estão em áreas de litígios. O número expressivo compreende a 56 localidades distribuídas entre os municípios de Senador Guiomard/Capixaba (1), Rio Branco (8), Acrelândia (15), Porto Walter (1), Porto Acre (1), Manoel Urbano (1), Cruzeiro do Sul (4) e Bujari (1) e Sena Madureira (1).

Também há áreas localizadas na fronteira do Acre com o Amazonas, especialmente nos limites dos municípios de Boca do Acre/Rio Branco (23). Nos pontos citados, 4.994 famílias moram nessas zonas de conflitos na Amazônia acreana e aguardam decisões judiciais ou demarcações pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). As informações fazem parte de um relatório referente aos conflitos agrários no Brasil em 2018.

Para se ter ideia da dimensão do problema, em Acrelândia, município acreano com maior número de conflitos no campo, são 25 mil hectares sem definição a quem pertencem a posse, se às comunidades tradicionais, formadas por extrativistas e ribeirinhos, ou a fazendeiros que tentam a todo custo provar na justiça a legitimidade de propriedade da terra.

Em Rio Branco, segundo maior detento das áreas litigiosas, posseiros e fazendeiros discutem a posse dos seringais Cachoeira, São Bernardo, Remanso, Macapá, Humaitá, Belo Horizonte, São Francisco do Espalha e São Francisco do Iracema.

Apesar dos conflitos, no Acre, em 2018, não se registraram mortes no campo. Uma ameaça de morte foi registrada pela Comissão Pastoral da Terra. Ela ocorreu no Seringal Novo Andirá, no mês de maio, a um posseiro que não teve o nome relevado na pesquisa. Se por um lado as ameaças se restringiram apenas a um caso e não houve mortes, por outro as denúncias de crimes de pistolagem chegam a 24 casos.

Em abril deste ano, o trabalhador rural sem terra, Nemes Machado de Oliveira, 50 anos, foi assassinado por pistoleiros contratados por grileiros e madeireiros que têm interesses na área do Seringal São Domingos, município de Lábrea-AM, fronteira com o município acreano de Acrelândia.

Para o professor e pesquisador do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal do Acre, Enock da Silva Pessoa, doutor em psicologia social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o Acre é um dos estados da Amazônia com uma característica peculiar: falta investimento para fixar o homem no campo.

“O grande problema da terra no Acre é que os governos não dão condições tecnológicas de produção e escoamento dos produtos. Os trabalhadores rurais preferem vir pra cidade aventurar um emprego, a ficar no campo. Lá não tem educação e saúde para os filhos. A violência na cidade é resultado do êxodo rural. Hoje não creio que quem está na cidade queira voltar para o campo. Há, todavia, muita terra do governo que poderia ser entregue a trabalhadores rurais. O Acre não tem produção agrícola”, explica o pesquisador ao aponta a necessidade de se trabalhar uma política agrária com base na agricultura familiar.

Enock Pessoa conclui dizendo que “a solução do progresso do campo está na tecnologia e condições de escoamento da produção”.