O Conselho Cultural do Acre anunciou que o poeta Alessandro Borges será agraciado com a Ordem do Mérito Cultural Acreano, a mais alta honraria estadual concedida a personalidades que contribuem de forma significativa para a arte e a cultura. A cerimônia de entrega acontecerá no próximo dia 10 de setembro, no Museu dos Povos Acreanos, em Rio Branco, reunindo artistas, educadores, gestores culturais e autoridades.
O reconhecimento marca os 20 anos de carreira literária de Borges, cuja obra se consolidou como uma das mais expressivas da literatura contemporânea acreana. Conhecido como o “Poeta da Baixada” e também como o “Poeta surdo”, ele se tornou um símbolo de resistência, inclusão e valorização da cultura popular. Sua poesia, ao mesmo tempo lírica e crítica, articula o cotidiano da periferia com temas universais, como identidade, superação e dignidade.
Trajetória marcada pela periferia e pela inclusão
Nascido e criado na Baixada da Sobral, uma das regiões mais populosas e marginalizadas de Rio Branco, Alessandro Borges transformou sua vivência na comunidade em fonte inesgotável de inspiração. Em seus versos, o território periférico aparece como espaço de luta, mas também de beleza, solidariedade e criatividade.
Deficiente auditivo, ele ressignificou sua condição como elemento central de sua produção artística. Sua frase mais conhecida, retirada de um de seus poemas — “Surdez não é incapacidade, é outra forma de escutar o mundo” — sintetiza sua visão de mundo e sua maneira singular de traduzir a experiência da deficiência em linguagem poética.
Ao longo das últimas duas décadas, publicou diversos livros de poesia, entre os quais se destacam “Minha Cidade em Versos”, “Poesias de Surdo” e “Palavras Dão Asas”, obras que unem lirismo e crítica social, além de explorarem o universo da surdez e da cultura periférica. Sua produção também integra antologias nacionais e internacionais, ampliando o alcance da literatura acreana para além das fronteiras do estado.
Atuação na educação e na cultura
Além de poeta, Borges tem se dedicado intensamente à educação e à gestão cultural. Atuou em escolas públicas, bibliotecas comunitárias e centros culturais, desenvolvendo projetos de alfabetização e oficinas de criação literária. Seu trabalho busca estimular jovens da rede pública a se aproximarem da leitura e da escrita, promovendo não apenas a formação de leitores, mas também de novos autores.
Ele também participou de iniciativas voltadas à inclusão social, especialmente no campo da acessibilidade cultural. Nessas ações, defendeu o direito de pessoas com deficiência a usufruírem de arte e conhecimento em igualdade de condições, tornando-se uma voz ativa em prol da democratização da cultura.
A Ordem do Mérito Cultural Acreano é destinada a artistas, intelectuais e personalidades que se destacam pela contribuição à identidade e ao patrimônio cultural do estado. Ao conceder a honraria a Alessandro Borges, o Conselho Cultural do Acre reconhece não apenas a relevância estética de sua obra, mas também o impacto de seu trabalho junto às comunidades periféricas e às pessoas com deficiência.
Para representantes do setor cultural, a homenagem simboliza um marco importante na valorização da diversidade e no fortalecimento de políticas inclusivas na arte. Borges, com sua trajetória, demonstra que a poesia pode ser tanto uma ferramenta de expressão pessoal quanto um instrumento de transformação social.
No próximo dia 10 de setembro, o poeta subirá ao palco do Museu dos Povos Acreanos não apenas para receber uma medalha, mas também para ser celebrado como um dos principais expoentes da cultura acreana contemporânea, cuja voz ressoa do coração da periferia para todo o país.