O professor Daniel Klein, doutor em história e pesquisador da Universidade Federal do Acre (Ufac), alerta que não há evidências concretas de que houve batalha armada no bairro 6 de Agosto, durante a Revolução Acreana, no início dos anos 1900. A informação foi estampada pela Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM) na caixa d’água do bairro, que passou por restauração e teve a pintura em cor azul duramente criticada por historiadores e moradores da comunidade.
Ao copiar e colocar um texto da Agência de Notícias do Acre, datado de 2016, publicado no aniversário do bairro, o governo acreano colocou na caixa d’água a seguinte mensagem em letras garrafais: “Bairro 6 de Agosto, palco de batalha da Revolução Acreana. O bairro Seis de Agosto nos orgulha com sua história”. Antes, a estrutura era toda pintada na cor bronze, lembrando a possível cor que a estrutura tinha quando foi construída, no início do século XX.
Segundo o professor, consultado pelo portal Notícias da Hora, o fato de contar a história relatando fatos sem evidência científica é o que se pode chamar de “história colecionista”. Antes, sugere o doutor em história, o governo deveria investir na área de pesquisa para, somente depois, contar ou não histórias como esta pintada na caixa do bairro. Além disso, o professor destaca que não se pode colocar interesses políticos à frente da verdadeira história do bairro, da cidade ou do Acre.
“Isso é o que eu chamo de história colecionista. Por exemplo, quando tem o aniversário de Rio Branco, eu sempre digo que não dá para saber em qual data Neutel Maia chegou à cidade. Se sabe que chegou no final de 1882, mas a data em si, aí eu não tenho como saber. Hoje em dia é possível dizer, mas de antes de 1950, é muito difícil. Portanto, dizer com precisão se houve batalha ali no bairro, naquelas ruas, é impossível. Sabe-se que houve no Seringal [Volta da Empreza], à margem do Rio Acre, mas não há evidências dizendo que foi onde hoje está o bairro. Isso não se tem em registros”, questiona o professor universitário, que tem várias pesquisas publicadas sobre a história do Acre.
Klein completa dizendo que conseguiu há algum tempo documentos que relatam detalhes sobre as batalhas, e que, mais uma vez, nenhum desses documentos - datados da década de 1940- confirmam que o bairro 6 de Agosto sediou batalhas na “Guerra do Acre”, como referenciou o Daniel. E dispara: “Se disserem outra coisa, eu digo na cara: está mentindo!”.
Ainda de acordo com o professor, “teve conflitos na margem do Rio Acre, e a margem não tem dono. Não dá para dizer uma data, e nem atender aos anseios políticos de ninguém. Não tem precisão nenhuma sobre isso. A evidência que se tem é da margem, apenas isso. É o que os seringueiros estão dizendo. São 240 fichas de um acervo que eu achei. Não tem local, nem data, os seringueiros só dizem que lutaram dentro do Volta da Empreza”, completa Klein.