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Há 35 anos, tradicional bar da capital na beira do rio Acre resiste entre cheias e ameaças de remoção

Há 35 anos, tradicional bar da capital na beira do rio Acre resiste entre cheias e ameaças de remoção

Bar do Zé do Branco, o porto da boemia

Há 35 anos o Bar do Zé do Branco resiste entre cheias e secas do rio Acre. Permanece firme na curva do rio, no Bairro da Base. Virou um patrimônio, lugar de convergência de reuniões informais entre militantes, jornalistas, advogados, boêmios, gente de estilo simples, despreocupada e de paradeiro incerto. Um verdadeiro porto da boemia.

Em sua fachada desgastada e de cores desbotadas pelo efeito do tempo, a placa amarela patrocinada por uma marca de cerveja anuncia um tal Jiquitaias Bar, mas é pelo apelido do dono do estabelecimento, o aposentado José Antônio Veras (64), o Zé do Branco, que o espaço é conhecido.

Nascido no seringal Novo Andirá, em Boca do Acre (AM), Zé do Branco chegou ao Acre em 1970 com os pais e mais 11 irmãos dentro de um batelão em uma viagem que durou três dias pelo rio Acre.

WhatsApp_Image_2021-09-04_at_16.04.10.jpegEm sua fachada desgastada e de cores desbotadas pelo efeito do tempo, a placa amarela patrocinada por uma marca de cerveja anuncia um tal Jiquitaias Bar, mas é pelo apelido do dono do estabelecimento, o aposentado José Antônio Veras (64), o Zé do Branco, que o espaço é conhecido

Zé lembra que seu pai atracou o barco no cais da Cadeia Velha e lá, dentro do batelão, uma família com 14 pessoas morou por seis anos.

Em 1975, ele começou a trabalhar no Serviço de Transporte Fluvial do Deracre. Sua experiência no setor o ajudou a dar assistência durante muito tempo aos ribeirinhos que chegam à cidade e se hospedam no flutuante do governo.

"A gente que levava o pessoal das escolas da zona rural do Cajazeira, Barro Alto, Nova Olinda, Catuaba, Bagaço, Colibri, todos esses seringais. A gente levava o serviço de transporte fluvial, levávamos o material de escola, da área de saúde. Eu sou conhecido como "rei do ribeirinho", né? Por causa do trabalho que eu faço", conta.

As três filhas de seu primeiro casamento: Valéria, Vanessa e Vanuza trabalham com ele no bar. Todas têm tarefas definidas. Fazem de tudo um pouco, da cozinha ao atendimento ao cliente.

"As minhas irmãs trabalhavam aqui, mas eu vim porque quando eu chegava dentro do bar e contava piada, as pessoas gostavam quando eu estava aqui, e quando eu saia o pessoal não vinha, só queria vir quando eu estava aqui.

WhatsApp_Image_2021-09-04_at_16.05.05.jpegAs três filhas de seu primeiro casamento: Valéria, Vanessa e Vanuza trabalham com ele no bar. Todas têm tarefas definidas. Fazem de tudo um pouco, da cozinha ao atendimento ao cliente

Meu pai fez um batelão para a gente morar dentro. Passamos seis anos. E nele viemos de Boca do Acre para Rio Branco. Mas me considero acreano. Cheguei aqui registrado com nove anos. Nunca um vereador ou deputado concedeu um Título de Cidadão Acreano ou Rio-branquense."

Na linha do tempo do bar, Zé do Branco recorda a passagem de políticos pelo estabelecimento, como o ex-governador Jorge Viana, o senador Sérgio Petecão, deputados e vereadores, mas também rememora o auge e a decadência dos festivais na Praia da Base na curva do rio.

"Passei aqui pelo Cruzeiro, o Cruzado, os festivais de Praia da Base. De lá para cá virou um bar tradicional que todo mundo conhece e tem respeito. Aqui vem criança, jovem, homem, mulher, família. Vem todo mundo. Já passaram muitas autoridades também. Já passou Jorge Viana, passou Petecão. Senadores, deputados federais, estaduais. Aqui a gente conversa sobre política, história, história do Acre, porque eu trabalhei em quase todos os seringais."

Apesar de toda nostalgia, Zé não tem dúvidas de que o estabelecimento vive seu melhor momento. Com um cardápio variado de comida caseira, do mandim frito ao assado de panela; das variadas cervejas, o bar é o endereço de muita gente de terça a domingo.

"A gente está passando o melhor momento do Bar do Zé do Branco. Ele passou altos e baixos, mas agora a gente está no patamar bem elevado. Graças a Deus bem estruturado, ganhando um recurso melhor, empregando", avalia.

A relação com o rio Acre tem seus momentos conturbados e de crise. Nesses 35 anos, o bar sobrevive ao
sobe e desce do rio e a grandes enchentes como as de 2015, 1997 e 2012.

WhatsApp_Image_2021-09-04_at_16.05.46.jpegNa linha do tempo do bar, Zé do Branco recorda a passagem de políticos pelo estabelecimento, como o ex-governador Jorge Viana, o senador Sérgio Petecão, deputados e vereadores, mas também rememora o auge e a decadência dos festivais na Praia da Base na curva do rio

Candidatura

Em 2008, Zé do Branco resolveu se candidatar a vereador pelo PRP: obteve 836 votos. Depois, em 2012, candidatou-se outra vez, para uma vaga na Câmara Municipal: tirou mil votos. "Fui bem votado, mas aí conversei com a família e resolvi parar, porque não tinha condição. Só ganha eleição quem tem dinheiro", afirma.

Emoção

"Teve um momento aqui de uma criança com Síndrome de Down. Eu cuidei dela com leishmaniose. Os pais dela vieram aqui, me agarraram, eu com um monte de prato na mão, colher e copo e eles me agarraram. Ele, o pai, me agarrou nas minhas pernas, me abraçou, chorou agarrado comigo, e falou que era Deus que tinha me deixado aqui para cuidar deles. Esse foi um momento que eu passei na minha vida que eu nunca esqueço. Eu chorei muito."

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Ameaça de demolição

Há anos, o fantasma da possível demolição do bar persegue Zé do Branco. Ele já foi informado pela prefeitura em gestões passadas que seu estabelecimento está localizado em área de risco.

Mas o peso e apelo do tradicionalismo até hoje mantêm o bar intacto e funcionando. O proprietário aceitaria deixar o lugar, porém indenizado.

"A gente aceita uma indenização, né, porque a gente não vai sair daqui sem nada. Querem tirar e não querem dar nada. Eu só saio daqui se indenizar. É melhor indenizar do que deixar aqui sem nada, a gente sair sem nada."