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Jovem relata dias de terror vividos no Hosmac durante duas internações 

Jovem relata dias de terror vividos no Hosmac durante duas internações 

andressa webUma jovem de 23 anos identificada por Andressa Pascoal escreveu um relato do que teria passado enquanto esteve internada no Hospital de Saúde Mental do Acre ( Hosmac). A publicação feita em seu perfil chamou atenção de muitas pessoas que fazem parte da sua rede de amigos, assim como desconhecidos que lamentam a história escrita por ela enquanto esteve internada. 

Com um pouco mais de 700 curtidas, 574 compartilhamentos e 309 comentários, a postagem viralizou e chegou inclusive a outros estados do Brasil, que também conheceram a história de Andressa. 

Entre os vários comentários na publicação há quem se  revolte, como é o caso de Ingride Silva: “Não consigo imaginar que alguém possa deixar seu ente querido ali naquele “inferno” e espera que depois de 15, 20, ou até mesmo 30 dias a pessoa esteja BEM!

Na verdade  essa seria a expectativa. Mas a realidade é totalmente diferente. Só quem viveu essa experiência sabe como que funciona.  Pessoas totalmente DESQUALIFICADAS. começando pela ATENDENTE, na recepção....AS ENFERMEIRAS....E o pior de tudo são OS MÉDICOS que se dizem PSIQUIATRAS. Eles podem ser tudo menos médico PSIQUIATRAS. Ali não se escapa nada os nossos governantes deveriam fazer uma varredura naquele local. Pois eu acredito que pra qualquer coisa que você vá fazer precisa ter AMOR. E ali na maioria das vezes não são remédios....que a pessoa esteja precisando mas sim uma boa conversa...um voto de confiança....enfim um gesto de carinho...cura até uma plantinha imagine um ser humano”, desabafa.

Leia na íntegra o relato de Andressa Pascoal extraído de sua página no Facebook:

Meu nome é Andressa Pascoal e eu fui internada duas vezes no HOSMAC.

Na minha primeira internação foi um choque, o HOSMAC é tabu.

“Ninguém sabe

Ninguém viu

Só se ouviu falar

De alguém que se perdeu

Enlouqueceu

E foi parar lá...”

Quando cheguei, dei muita sorte... por causa do meu sobrenome Pascoal, pois lá dentro tinha uma interna (vamos chamá-la de “Sol”) que dizia ser prima do Hildebrando Pascoal, então ela começou a me tratar como prima, como família; ela que eu me lembre era mulher de facção, a mais forte e perigosa das internas, mas pelo sobrenome gostou de mim – logo virei sua protegida. E assim eu descobri que existem as leis das enfermeiras – e as leis das internas... Certa vez uma mulher que não gostava da Sol e consequentemente não gostava de mim também, nos provocou. Sol rapidamente me falou para vigiar as enfermeiras do lado de fora do quarto, levou essa mulher para dentro, a segurou pela garganta e lhe deu vários socos na boca do estômago, saiu rindo para mim e dizendo que ela não iria mexer conosco tão cedo.

Lá dentro rola tráfico, e por eu estar ao lado da Sol – estava sabendo o que acontecia lá dentro. Uma das internas estava traficando tabaco e pó na vagina. Eu mesma vi o pó, e a Sol me fez bolar o tabaco.

Lá tem uns hábitos nada higiênicos, pois todas as calcinhas são compartilhadas. É  exatamente isso, você usou uma calcinha na segunda, ela é lavada e na quarta-feira outra interna usa, e não se surpreenda quando eu disser que algumas fazem xixi ou cocô nas calcinhas. Nisso também tive sorte, pois minha família em nenhum momento me deixou desamparada, tanto nos meus produtos de higiene pessoal, como nas medicações e roupas íntimas.

A grande ironia é que cada interna tem sua própria escova de dentes.

Lá é triste, pois existem aquelas pessoas que a família abandonou e nunca mais foi ver e nem tirar dali. Conheci uma senhora chamada de dona Sebastiana, ela não tinha um dentinho na boca, mas era o sorriso mais gostoso de se ver naquele lugar... seu carinho era meu canto de paz.

Ela não andava, passava o dia sentada no chão sozinha, fiz dela a minha melhor companhia, sempre fui criada por avó então assistir aquela situação me partia o coração todas as vezes, no meu último dia internada lá ela me balbuciou um “eu te amo”, foi o suficiente para eu passar quase meia hora chorando e ir embora sabendo que nunca mais iria esquecer aquela avó do coração.

O HOSMAC é dividido em 2 alas, a masculina que fica aos fundos e a feminina que fica à frente. Elas não se misturam – na teoria. Existe uma diferença gritante no perfil das internAs e dos internOs, as internas na maioria das vezes são apenas mulheres que por algum motivo acabaram “enlouquecendo”, e não apresentam tanto perigo; os homens internados em sua maioria são estupradores e agressivos que não são considerados “sãos” para serem formalmente presos.

Entrei uma única vez na ala masculina, pois a psicóloga estava atendendo lá e iria me atender também, lá fede e tem cheiro de perigo. Os homens te olham como se fossem te engolir, em alguns olhos eu via estupro, outros eu via assassinato. O meu.

E isso nem é exagero, uma das internas me falou que foi estuprada, só que ela era nitidamente “especial” e nenhuma das enfermeiras acreditou em seu relato, por isso ela veio contar e desabafar comigo.

HOSMAC não é Hollywood, quando você surta não existe aquela linda camisa de força que nós vemos nas séries, a vida real ali é bem diferente. As enfermeiras lhe jogam na cama, pegam quatro cordas (uma para cada braço e perna) e lhe amarram na cama, cada pulso em uma quina e cada canela nas outras, você fica amarrada na cama como um enorme X, enquanto elas lhe afogam com remédios e água para te dopar.

Isso nunca aconteceu comigo, mas foi quase, duas vezes. Vi outras mulheres sendo amarradas e decidi que não queria essa experiência para mim, então me controlei ao máximo.

Mas, nem tudo são críticas. Lá não pude reclamar um dia sequer da comida, são seis refeições por dia.

•Café da manhã

•Lanche da manhã

•Almoço

•Lanche da tarde

•Janta

•Ceia?

A comida era sempre ótima e eu saí de lá uma semana depois quase 3kg mais pesada.

O HOSMAC não é nenhuma superprodução arquitetônica, é apenas um único corredor branco com quartos sem portas e um grande pátio para visitas. Os banheiros não tem privadas, acredito que o nome daquilo que tem lá seria “latrina”. Um nojo ao final do dia.

Lá tem dias e horários para as visitas, que eu bem me lembro eram as quartas e domingos, 1h de visita. Era triste tanto para as pessoas internadas que viam os olhares de sua família, a dor era nítida, eu vi essa dor na minha família. E mais triste para as que eram abandonadas por ela, assistiam todas as visitas das grades da área interna pro pátio, como a dona Sebastiana fazia sozinha sentada no chão.

Por último: A família que leva a sua medicação, se você “não tem” família que leve, o governo dá (se tiver esse remédio na versão genérica oferecida por ele próprio) se não tiver o genérico e nem família que compre, bom, você fica sem. Ou se adapta com o que dá. Quem não tem cão caça com gato, né?