05 de novembro de 1989. Maracanã lotado. 80 mil flamenguistas e vascaínos. Campeonato Brasileiro. Não era uma final como a do Campeonato Carioca deste domingo à tarde. Mas era um Flamengo e Vasco. E todo Flamengo e Vasco é um campeonato à parte, como costumava dizer Eurico Miranda, o eterno presidente do clube da Cruz de Malta.
Ninguém no Acre rememora um Flamengo e Vasco com tantas cores e emoção como Marcelo Ribeiro, o Bujica, autor dos dois gols que deram a vitória aos rubro-negros naquele confronto.
O jogo foi cheio de ingredientes de um verdadeiro Clássico dos Milhões. Era a primeira partida do ex-atacante Bebeto, antigo ídolo da Gávea, contra seu ex-clube.
Mas eis que surge o herói improvável Marcelo Bujica, o camisa nove do time da Gávea, que havia sido promovido das categorias de base do Flamengo.
O primeiro gol saiu de uma arrancada e passe de Alcindo, que tocou para Bujica empurrar para o fundo do barbante, como gritara o narrador. O segundo gol foi ainda mais marcante. Saiu de um toque de Junior para Zico, que arrancou e lançou para Bujica só ter o trabalho de correr para comemorar com a torcida na antiga geral do Maracanã.
"Zico é fora de série. Um ídolo. O passe dele foi algo marcante. Imagine só receber o passe de quem você costumava ver na TV e de repente estar lá com seu ídolo no campo", conta.
A vitória foi bastante comemorada. Bujica virou herói. Virou capa de revistas e jornais. Porém em 1989, o Gigante da Colina foi campeão brasileiro em cima do São Paulo, em pleno Morumbi, com um gol de Sorato e uma partida marcante do goleiro Acácio.
A chegada à Gávea e a carreira no futebol
Natural de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, Marcelo Robeiro é filho de Sebastião Ribeiro, o Seu Buja, e Valdemira de Oliveira Ribeira, a Dona Buja, como são conhecidos. Tem três filhos: Marcelinho, Matheus e Julliano
O sonho de jogar no time de coração começou a virar realidade aos 14 anos quando Bujica jogava no Estrela do Norte, time sediado na cidade em que ele nasceu.
Durante um amistoso no Rio de Janeiro um dirigente do Flamengo o viu em campo, gostou do seu futebol e conversou com seu pai. Dias depois, Seu Buja e a diretora da escola em que ele estudava interrompem a aula, chamam Bujica e anunciam sua ida ao Rio para ingressar nas categorias de base do time.
"Eu estava dentro de sala de aula. Ele chegou com a diretora. Disse que eu tinha viajar. Já tinha providenciado tudo", relembra.
Bujica passou a compor o grupo dos meninos da Gávea ao lado de Marcelinho Carioca, Junior Baiano, Djalminha, Marquinhos, Fabinho, Piá, Paulo Nunes, a base do time que mais tarde, em 1992, seria campeão brasileiro em cima do Botafogo, e em 1990 se sagraria campeão da Copa do Brasil.
"Fiz o teste. Comecei no time infantil na reserva. Com o time reserva vencedor com um gol meu. Aí o Seu Dida, um dos maiores ícones que o Flamengo tem, me colocou no time de titular, que virou para 2 a 1, e eu fiz os dois gols. Depois daí era matar um leão todo dia. Chegavam muitos meninos para fazer teste. A gente tinha que mostrar muito serviço."
Foi Telê Santana o responsável por levá-lo ao time profissional aos 19 anos.
Bujica fez 12 gols em 48 jogos durante dois anos, entre 1989 e 1990 no time profissional do Flamengo.
"Eu nunca fui um atacante de fazer muitos gols. Sempre de muita mobilidade. Taticamente de ajudar na marcação e a movimentação para abrir espaço para outros atletas", conta.
O sucesso de Bujica no Flamengo despertou o interesse do rival Botafogo. O presidente do time alvinegro na época, Emil Pinheiro, desembolsou U$$ 180 mil em Bujica que sequer foi consultado, e contra a sua vontade teve que se transferir para o time da Estrela Solitária.
"O Flamengo estava precisando do dinheiro. A transação foi feita pelo Léo Rabelo, um dos empresários do futebol brasileiro. Eu treinei pela manhã normal no Flamengo, fui para a concentração normal, aí me colocaram num carro e disseram: 'vamos ali que tem um negócio para você'. Me levaram ao escritório do Léo Rabelo e quando cheguei ele disse que eu tinha sido vendido ao Botafogo. Eu disse que não queria ir e ele disse que não tinha mais jeito".
No Botafogo, apesar de ter passado três anos e ter feito gols inclusive no Flamengo, Bujica tem poucas recordações. Do Botafogo, Bujica se transferiu para o América do Rio de Janeiro.
Fazer parte do mesmo time de Zico é o que há de mais marcante na vida futebolística de Marcelo Ribeiro. Ele relembra com gratidão que jogou na despedida do Galinho em fevereiro de 1990 no jogo contra a Seleção do Resto do Mundo. O confronto terminou 2 a 2.
"Zico é um caso à parte. Merece todo sucesso que ele tem", diz.
A história com o Acre começou há 12 anos. Primeiro ele passaria em Rio Branco 15 dias. Depois retornou para fazer um vestibular em Educação Física na Ufac, passou e se formou na Universidade Federal.
Em Rio Branco, Bujica coordenou trabalhos sociais com meninos carentes por meio do projeto Bom de Bola, Bom na Escola.
Apesar de ter deixado o Rio há algum tempo, o Flamengo ainda continua parte presente em sua vida. O ex-jogador foi homenageado ano passado pelo clube rubro-negro pelos dois gols contra o Vasco e vez por outra é lembrado na imprensa nacional. Chegou a ser tema de um Baú do Esporte da TV Globo. Bujica ainda mantém contato com ex-companheiros como Junior, atualmente comentarista de futebol da Globo; Zinho, tetracampeão mundial pela seleção brasileira; e Zico.
Atualmente, ele é coordenador de eventos esportivos e de lazer na Diretoria de Esporte da prefeitura de Rio Branco, setor comandado pelo professor Afrânio Moura.
Perguntado sobre sua aposta para o placar do Flamengo e Vasco deste domingo, 21, pela final do Campeonato Carioca, Bujica não tem dúvida: "3 a 0 para o Flamengo. Três gols do Bruno Henrique".