Conheça Raimundo Nonato Balbino, o Dom Galo, o mais famoso vendedor ambulante de Rio Branco
"Olha a panelada! Olha a menina pelada! Tem da loira ou da morena?!"
O mais conhecido grito de um vendedor ambulante, notadamente, nos anos 1980 e 1990, é de Raimundo Nonato Balbino, o Dom Galo, hoje com 68 anos, mais conhecido como o "homem da panelada".
Por vezes numa bicicleta cargueira ou em uma Monark barra forte, Raimundo Nonato Balbino circulava pelas ruas de Rio Branco às tardes de segunda a sábado com seu grito inusitado que chamava a atenção de uma rua inteira.
O futebol da rua parava e o mais gaiato da turma gritava "menina pelada". "Até hoje onde eu passo tem gente que chama pela menina loira ou morena pelada", diz.
O apelido Dom Galo surgiu, segundo Seu Balbino, na época em que ele era jovem por causa de sua fama de sujeito namorador. E é assim, por esse apelido, que ela gosta de ser chamado.
Dom Galo começou a trabalhar cedo, aos 12 anos de idade, como vendedor de panelada. À época, não existia por aqui a Organização Internacional do Trabalho e tampouco leis que impediam crianças de trabalharem.
"Tinha um matadouro ali na Corrente (rodovia AC-40) e foi de lá o primeiro lugar que eu comecei a vender. Depois fui para a BR-364 e depois lá pro matadouro do Seu Osvaldo Português", conta.
Mas não era o trabalho de vendedor, ainda, a principal motivação daquele menino pobre morador do Bairro 15, no famoso Rabo da Besta, lugar onde viveu parte da adolescência e juventude, no 2º Distrito de Rio Branco. Foi o pai da primeira namorada de Raimundo Balbino que o colocou para trabalhar. "Como eu queria conquistar a menina, eu topei. Aí ganhei uma bicicleta e fui vender panelada", rememora.
Raimundo Balbino trabalhou como vendedor de panelada durante 50 anos. Nesse período possuiu 14 bicicletas. As duas últimas que ele tinha como relíquia, entre elas uma cargueira que já durava 20 anos e que ele cuidava com zelo, foram roubadas.
Com o dinheiro que ganhava das vendas mal conseguia o sustento próprio e da família.
"Conseguia com dificuldade sustentar a família. Mas hoje não tenho mais coragem de sair por aí e vender panelada. É perigoso."
De vendedor a roçador de quintal
Foi na rua Tamboatá, no bairro Taquari, na periferia de Rio Branco, onde Seu Balbino mora com uma enteada, que o Notícias da Hora o encontrou e o entrevistou.
A casa de dois andares construída em alvenaria e madeira é preparada para eventuais alagamentos. Nos últimos 10 anos, ele conta que sofreu com a família pelo menos duas grandes enchentes. E recorda a de 2015 quando o rio Acre atingiu 17, 88 metros.
"A água bateu aqui", diz ele apontado para a marca na parede a acima da altura da geladeira. "Encheu, mas a gente ficou aqui em cima", acrescenta.
Dom Galo vive atualmente com uma aposentadoria mensal de mil reais e dos ganhos diários como roçador de quintal. Há 12 anos deixou a venda de panelada. Na frente da casa ao lado da porta há uma placa da extinta Secretaria de Pequenos Negócios, pasta criada no governo Tião Viana, cujo objetivo era fomentar pequenos negócios. A plaquinha avisa que na residência há alguém que trabalhar como roçador.
Como os dias são outros e a aquela Rio Branco pacata de décadas atrás não existe mais, Raimundo Balbino não tem coragem de se arriscar em uma bicicleta como vendedor como fazia.
Na época em que vendia panelada, Dom Galo saia de sua casa com uma rota definida de pelo menos 15 bairros. Chegava a percorrer entre 60 e 80 quilômetros por dia.
"Eu nunca morri" e graças a Deus tenho minha saúde
Raimundo Balbino diz que há quem fique suspreso quando o vê. Muita gente acha que ele morreu.
"Teve essa história que eu tinha morrido, esse boato, né. Uma vez me chamaram para uma entrevista lá na Baixada da Colina e teve gente que quando me viu começou a tirar foto e até chorar porque achava que eu tinha morrido. Mas eu tô aqui vivo."
Raimundo Balbino é um homem saudável. Seu único problema é em um dos joelhos, mas não por causa das pedaladas.
Aos 68 anos, ele se gaba de sua saúde e diz que deve isso aos 50 anos de pedaladas pelas ruas de Rio Branco.
Feliz da vida, Dom Galo conta que quando é reconhecido na rua três coisas acontecem: "Dizem que achavam que eu tinha morrido, pedem para tirar fotos e pedem autógrafo".