O auditório da Prefeitura de Rio Branco se transformou em sala de cinema para um público que raramente tem acesso a esse tipo de atividade: pessoas em situação de rua. A sessão realizada na tarde desta terça-feira, 19, integrou o Projeto Porto Cine Itinerante, iniciativa da cineasta, artista plástica e gestora cultural Queli Cá, que desde 2014 percorre comunidades urbanas, rurais e ribeirinhas do Acre, democratizando o acesso ao audiovisual.
O filme exibido foi “Aegypti, a Mosquita da Floresta”, primeira animação acreana em 2D, produzida pelos cineastas Kélen Gleysse e Enilson Amorim. A obra despertou sorrisos, reflexões e pedidos do público para que novas sessões sejam realizadas em locais como o Centro Pop, a Casa da Dona Elsa e o Restaurante Popular.
Um olhar sensível para a inclusão
Segundo Queli Cá, foi a primeira vez que o Porto Cine direcionou suas ações a pessoas em situação de rua — experiência que emocionou tanto o público quanto a equipe.
“Em 11 anos de Porto Cine atendemos diversos públicos, mas nunca tínhamos feito uma sessão para pessoas em extrema vulnerabilidade social. Pude ver a felicidade nos olhos deles e a atenção com cada cena. Vamos trabalhar para manter essa parceria com o Centro Pop e realizar atividades permanentes para esse público que tanto necessita”, afirmou a idealizadora.
A mobilização contou com o apoio do coordenador do Centro Pop, Gabriel, que contribuiu para reunir os participantes.
O Projeto Porto Cine Itinerante – Ações Rio Branco 2025, aprovado no edital 6 PNAB da Fundação Garibaldi Brasil (FGB), tem como missão aproximar a população da cultura, da história e do cinema, sobretudo quem não pode arcar com o custo de uma sala comercial.
Mais do que lazer, o projeto busca fomentar reflexões. A cada exibição, discussões são abertas sobre os temas apresentados, abordando desde a Revolução Acreana e a memória histórica do estado até questões atuais como violência contra a mulher, trabalho infantil, seca, combate à dengue e desigualdade social.
Mais de 30 mil pessoas alcançadas
Desde sua criação, em 2014, o Porto Cine já levou cinema gratuitamente a mais de 30 mil pessoas, entre moradores de bairros periféricos, comunidades de difícil acesso, ribeirinhos e agora, pessoas em situação de rua.
O projeto também promove a circulação de obras de cineastas acreanos e brasileiros, que autorizam voluntariamente a exibição de seus trabalhos, garantindo que a população conheça e valorize produções locais.
Parceiros permanentes como o 3º Batalhão da Polícia Militar de Rio Branco e o BPM de Porto Acre também apoiam as atividades.
A sessão especial desta semana marcou um passo importante na trajetória do projeto: o cinema como instrumento de acolhimento, inclusão e dignidade para quem vive às margens da sociedade. “Essa é a essência do Porto Cine: levar o cinema a quem nunca teria condições de pagar por um ingresso no shopping. Mais do que filmes, levamos histórias, sorrisos e a certeza de que a cultura é um direito de todos”, resume Queli Cá.