Apenas políticos em período eleitoral optam pelo atendimento na rede pública de saúde. Desconheço que outras pessoas tenham preferência por esse sistema. Ora! Quem opta, em caso de saúde, pelo serviço mais demorado? Ninguém! É isso que mostra a saúde pública não como opção, mas como uma necessidade da população. No Acre, é bom a gente saber, quase 100% da população depende do Sistema Único de Saúde, o SUS.
Em quase seis anos escrevendo textos sobre o setor, cansei-me de ligar, mandar e-mails ou mensagens de celular para gestores, em busca de ajudar pessoas carentes que estavam, por vezes, há mais de 24 horas esperando por um médico de sobreaviso que não aparecia para trabalhar. Pessoas que não tem dinheiro para pagar o serviço privado e acabam correndo aos hospitais públicos em busca de atendimento.
Sendo justo, o problema na saúde não é apenas dos governos, mas o sistema em si. Com a burocracia para compra de suprimentos, a falta de profissionais realmente qualificados – leia-se preparados- para a função que exercem e, ainda, de espaços salubres e dignos de um atendimento, acabam ponto ao chão o que as “formiguinhas” do dia a dia das unidades tentam fazer: o muito, com pouco.
Ao comemorar os 117 do início da Revolução Acreana (dia 06 de agosto de 2019), o governador Gladson Cameli entregou pouco mais de 100 novos leitos em um novo prédio do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb). Uma obra que se arrasta há 10 anos (e acredite, ainda vai continuar), mas que, enfim, começa a ser realmente utilizada por pacientes.
A estratégia de marketing foi acertada: teve helicóptero, fogos de artifício, bombardeio sobre o assunto nas redes sociais, e o melhor de tudo: 10 metros de bolos confeitados. Este último, ironicamente, para fazer menção à década que a obra está completando. O projeto foi iniciado em 2009, no governo do professor Binho Marques, e seguiu sob o comando do médico Tião Viana, que após 8 anos deixou o posto de governador em 31 de dezembro de 2018.
Curiosamente, Viana entregou, antes de deixar o Palácio Rio Branco, uma das alas do hospital. O problema é que nada funcionava, e as fotos foram feitas num espaço preparado justamente para a visita do então governador. Moral da história? A população continuou sem novos leitos e os corredores do antigo prédio, lotados de macas e pacientes à espera de socorro.
Agora, voltando ao presente, num discurso para lá de espontâneo, Cameli disparou: “Não veremos mais as imagens de pessoas sofrendo nos corredores”. Disse o que talvez não consiga cumprir. Esqueceu (ou não foi informado pelos assessores) que naquela manhã, horas antes da inauguração, já com os pacientes transferidos à nova ala, havia mais de 30 macas nas rampas da unidade de saúde.
Naquele hospital havia, detalhadamente, três andares de descaso e sofrimento. Eram idosos, crianças e jovens. Pais e mães de família. Trabalhadores e desempregados. Eram pessoas que necessitavam da saúde pública para sobreviver. Seres humanos que não podiam optar por um serviço particular. Cidadãos que pagam impostos e que chegam à unidade “com a conta paga”. Gente que precisa de cuidado e dignidade no atendimento. Pessoas que precisam de respeito.
A saúde do Acre agora pode respirar por mais alguns dias. Não se sabe quanto, nem até quando, mas vai. Enquanto novos servidores não são contratados, os poucos que restam no hospital tentam, minuto a minuto, salvar as vidas que passam por ali. “Sob nova direção”, a Secretaria de Saúde do Acre passa por reformas. Alguns até reclamam, mas se não reclamar, a coisa não acontece. Ou muda de vez, e faz acontecer, ou as coisas continuaram como ficaram nos últimos anos, um descaso total.
A atual secretária, Mônica Feres Kanaan, como nas poucas palavras que tem dito, foi taxativa ao lembrar a missão do hospital: “Uma assistência diferenciada, valorizando os nossos servidores e sempre de braços abertos para acolher o cidadão no momento mais frágil de sua vida, é a nossa missão”. Agora, terá de cumprir o que falou. A população espera por isso!
Tem que ter dignidade, tem que ter respeito. Chega mesmo de sofrimento nos corredores. Chega! Volto a dizer: saúde pública não é opção, é necessidade!