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Geral

Senadinho nos bairros: o poder da cultura na vida das pessoas idosas

Senadinho nos bairros: o poder da cultura na vida das pessoas idosas

Imagine um lugar onde os idosos se reúnem independente da classe social, nível de escolaridade ou idade, e que lá são protagonistas de um espaço onde podem se expressar culturalmente por meio da dança, prezando pelo bem-estar e a qualidade de vida.

Esse é o Senadinho nos Bairros, um projeto da Prefeitura de Rio Branco, por meio da Fundação Garibaldi Brasil (FGB), que tem como objetivo trabalhar a musicalidade tradicional de forma descentralizada, valorizando as memórias das diversidades etno-cultural da população, usando como pilar o forró tradicional já existente.

A iniciativa começou ainda na primeira gestão de governo de Jorge Viana, sendo realizado apenas no Centro da cidade. Em 2013, a gestão municipal ficou responsável pelo projeto, porém em um formato descentralizado, ou seja, indo aos bairros mais distantes. Assim, atendeu de início mais de 20 bairros, tais como: Tancredo Neves, Mocinha Magalhães, 06 de Agosto, Cadeia Velha, Recanto dos Buritis e Sobral, entre outros.

Atualmente, o projeto Senadinho nos Bairros está presente no Centro Cultural Neném Sombra (Bairro 15), no Centro Cultural Lydia Hammes (Aeroporto Velho), Centro de Convivência da Pessoa Idosa – Cosme Morais (Calafate), e Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) – Sede da Regional da Sobral.

Para o presidente da Fundação Garibaldi Brasil, Sérgio de Carvalho, o Senadinho é a expressão máxima de que a cultura pode ressignificar a vida das pessoas: “A Prefeitura de Rio Branco compreende que a música e a dança, além de fazerem bem para o corpo, iluminam a alma das pessoas na oportunidade do encontro festivo que ocorre no Senadinho. A prefeita Socorro Neri reafirma seu compromisso com o projeto, dada a importância da atividade, especialmente para o público da terceira idade”.

A arte de viver melhor no Centro Cultural Neném Sombra

Próximo à margem do Rio Acre, no Segundo Distrito, uma casinha laranja e bege chama atenção de quem passa na Rua 16 de Outubro, no Bairro Quinze. Lá é localizado o Centro Cultural Neném Sombra, que há 11 anos, foi criado pela gestão municipal para ser um ponto de cultura da comunidade do entorno.

Entre as diversas atividades oferecidas, está também o projeto Senadinho nos Bairros, que é realizado todas as sextas-feiras, das 18h às 20h30.

Aparecido Costa, de 60 anos, é visitante frequente do projeto há três anos. Ele conta que começou a participar porque os amigos o convi daram: “Quando vim a primeira vez já gostei, e agora vou também em outros Senadinhos. Sou de São Paulo e tenho três filhos lá, mas já estou no Acre há algum tempo, por isso, sempre que posso, estou nesses espaços de dança, pois acho muito tranquilo, não tem bagunça, todo mundo só quer curtir o momento”, conta.

A pedagoga aposentada Vanderlúcia Nunes nasceu em Epitaciolâdia e veio para Rio Branco ainda pequena. Ela frequenta o Senadinho do Neném Sombra porque sua grande amiga, Rosa, a convidou para conhecer.

“Dançar é uma forma de lazer saudável, me torna mais viva e com qualidade de vida, além de aumentar nosso ciclo de amizade e também nos proporcionar a sair da zona de conforto e conhecer outros municípios com os passeios que eles realizam. Isso me faz sentir que estou vivendo melhor’’, declara Vanderlúcia.

SENADINHO 02

O exercício da dança no Lydia Hammes

O primeiro aeroporto do Estado – Estação de Passageiros Salgado Filho, entregue à população em março de 1950, abriga hoje o Centro Cultural Lydia Hammes, localizado no bairro Aeroporto Velho, atendendo os moradores da Regional da Baixada – uma das maiores da cidade. Lá, os fazedores de cultura têm um espaço aberto para realizar diversas atividades, além da Prefeitura de Rio Branco oferecer uma programação semanal diversa e de forma gratuita.

O local também é um dos que recebe o Senadinho nos Bairros durante todos os sábados, das 16h30 às 19h.

Frequentador assíduo do projeto, Francisco Lima, de 78 anos, é natural do município de Plácido de Castro, onde trabalhava como seringueiro. Em 1968, veio para Rio Branco ser ambulante.

“Foi a minha esposa, Francisca Silva, que me trouxe para conhecer o forró do Senadinho, e desde então, participamos sempre. Além desse, vamos também em outros. Meu exercício é dançar, o que facilita muito, porque o ambiente é bom e todo mundo é amigo”, comenta Francisco.

Já Maria Helena, de 68 anos, conta que não mede esforços para participar todos os sábados do Senadinho, nem que para isso, precise pegar dois ônibus. “Gosto de dança, e sempre venho porque não gosto de ficar em casa sozinha. Essa é a forma que encontrei de sempre estar com pessoas ao meu redor”, relata.

A dança como o remédio da alegria no Centro de Convivência da Pessoa Idosa

Com diversas atividades voltadas ao público da terceira idade, o Centro de Convivência da Pessoa Idosa é gerenciado pela prefeitura de Rio Branco. No espaço, localizado na Travessa Luiz Pereira, na Estrada do Calafate, além de aulas de alfabetização, leitura e escrita, yoga, e cursos de artesanato, entre outros, também oferece, durante todas as últimas quintas-feiras de cada mês, das 8h às 10h, o projeto Senadinho nos Bairros

Antônia Trindade, conhecida como Nice, tem 67 anos, e é natural de Humaitá (AM), onde trabalhava com seringa. Ela conta que começou a participar das atividades do Centro por conta da depressão.

“Na época que meu pai faleceu e, logo em seguida, me divorciei, comecei a ter crises de depressão. Foi então que uma colega me convidou para participar das aulas de ginástica no Cosme Morais, e isso me ajudou na cura. Além disso, ainda estudo aqui, algo que não pude fazer quando era mais nova. Minha perspectiva é fazer faculdade de pedagogia. Com isso, parei de tomar os remédios e passei a frequentar sempre as aulas de dança e aeróbica, e claro, o Senadinho, que é muito divertido”, afirma Antônia

Antes de conhecer o Centro de Convivência, Luizinho Nunes, de 72 anos, conta que não cuidada da saúde, mas decidiu mudar de hábito quando se aposentou: “Fui convidado por um amigo para conhecer esse espaço, pois eu não fazia exercícios, nunca fiz quando era mais novo, além de sempre ter tido uma alimentação pouco saudável. Hoje é diferente: sinto a necessidade de participar várias vezes da semana da ginástica, e também faço caminhada. E toda última quinta do mês venho ao Senadinho para dançar”.

O fim da solidão no Senadinho do CRAS

Na Regional da Sobral, mais especificamente na Rua São Salvador, nº. 125, há um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), e entre os diversos serviços oferecidos, está mais um Senadinho nos Bairros, realizado uma vez ao mês, sempre pela parte da manhã.

Participante há três anos, o técnico de eletricista e agora aposentado Francisco Oliveira, de 66 anos, conta que participa da atividade para não ficar sozinho em casa. “Tenho muitos amigos no Senadinho, e o que eu mais gosto aqui é que todo mundo é animado. Tenho amigos que com 90 anos de idade dançam duas horas direto, coisas que muitos jovens nem fazem”, relata, com muito bom humor.

Além de ser um ponto de encontro de amigos, o Senadinho do Cras também proporcionou um reencontro amoroso. Francisco Maciel e Maura Gama, de 77 e 71 anos, respectivamente, são de Tarauacá e lá viveram um romance. Depois de muitos anos, se reencontraram na capital acreana e passaram a frequentar o local juntos.

“Eu venho aqui há mais ou menos quatro anos, e sempre me divirto muito. Faço ginástica, dança e também participo do Senadinho toda vez que tem”, diz.

Já Francisco perdeu a visão há três anos, e durante a adaptação, ficou em casa por muito tempo, e achou que essa situação não mudaria. Porém, ele reencontrou uma nova vida quando seu genro o levou para conhecer o Cras há oito meses. “Eu já estava ficando com dores musculares de tanto ficar deitado, e aí passei a ir ao Senadinho e lá tive a grande surpresa de reencontrar a Maura. Começamos a namorar e agora já moramos até juntos. E agora, chegamos aqui como um casal feliz”, contou.