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“Tenho orgulho da minha profissão”, diz mulher que há uma década trabalha como coveira em cemitério de Rio Branco

“Tenho orgulho da minha profissão”, diz mulher que há uma década trabalha como coveira em cemitério de Rio Branco

Aos 37 anos, Joseline Barroso Lima trabalha como coveira no Cemitério São João Batista, em Rio Branco. Concursada, desde 2011 ela exerce a profissão que para muitos seria “coisa de homem”, mas que executa com dedicação e carinho, mantendo assim o sustento dos três filhos.

Durante a pandemia, viu seu trabalho aumentar conforme o número de vitimas fatais da Covid-19 crescia na capital acreana. Chegou a trabalhar mais de 12 horas, mas mesmo assim afirma que não troca sua profissão por nenhuma outra.

Em uma rápida entrevista ao Notícias da Hora, a única mulher a exercer a profissão de coveira em Rio Branco falou um pouco da sua profissão, de como encara a morte, preconceitos e até mesmo sobre assombração, Confira abaixo a entrevista com Joseline Lima.

Notícia da Hora: Como e quando você decidiu ser coveira?

Joseline Lima: Em 2006 a Prefeitura de Rio Branco lençou concurso público e neste concurso tinha vaga para coveiro e então decidi me candidatar a uma dessas vagas. Fiz o concurso e fui aprovada, mas so comecei a trabalhar 4 anos depois quando a prefeitura decidiu convocar os aprovados no concurso.

Noticías da Hora: Então você é a única mulher coveira aqui no São João Batista ?

Joseline Lima: Não só no São João Batista, mas sou a única mulher a exercer a profissão de coveira nos cemitérios de Rio Branco

Notícias da Hora: Como você define sua profissão?

Joseline Lima: Pra mim essa é a melhor profissão que tem, é tranquila, e sempre costumo dizer que é a profissão onde o cliente nunca reclama...(risos). Brincadeira a parte, é a profissão que eu amo, eu amo o que faço, apesar dos problemas, sou muito feliz,

Notícias da Hora: E a família, marido e filhos o que diz da sua profissão?

Joseline Lima: Não sou casada, sou solteira, mas tenho três filhos e eles me admiram e me apoiam. É com a minha profissão, trabalhando de forma honesta com dedicação, carinho e muito respeito que sustento eles com dignidade.

Notícias da Hora: Você já sofreu preconceito por ser coveira e por ser mulher ?

Joseline Lima: Sim! Sempre tem preconceito, tem muito, vários, principalmente por ser mulher e trabalhar nessa área, muitas pessoas não acreditam que só tem eu de mulher e coveira. Mas todos os serviços da minha profissão eu faço aqui, exumação, cavo as covas, entendeu? Tudo que é da minha profissão eu faço!

Notícias da Hora: Mas o que as pessoas falam quando você diz que é coveira?

Joseline Lima: Geralmente quando eu falo que trabalho no cemitério elas já se assustam, pois é um local que muita gente não gosta, né? E fazendo o que eu faço ai que o preconceito é maior, pois acham que por eu ser mulher não tenho força física e que não consigo fazer o que eu faço.

Notícias da Hora: E como foi trabalhar no momento mais critico da pandemia, onde dezenas de pessoas morreram diariamente?

Joseline Lima: No pico da pandemia a gente trabalhou muito. não parávamos passávamos praticamente o dia todo com a roupa de proteção. Vários sepultamentos num dia, você enterrava um caixão e já ia buscar outro para sepultar, foi muito estressante e cansativo.

Notícias da Hora: Quantos sepultamentos você realizou em um único dia?

Joseline Lima: Num dia de trabalho eu cheguei a realizar com meus colegas 13 sepultamentos de vítimas de Covid-19. Nesse dia nem café eu consegui tomar, sepultamos da hora que eu cheguei até às 19h30. Quando cheguei em casa passava das 21h.

Notícias da Hora: As pessoas sempre contam relatos de aparições, espirito de pessoas mortas, assombrações, entre outros. Você já viu algo de estranho aqui no cemitério?

Joseline Lima: ...(risos)... sou muito tranquila quanto a isso. Eu mesmo nunca vi nada, ando por toda a parte aqui no São João Batista e nunca avistei ou me assustei com nada, graças a Deus! Mas tem colegas aqui que já viram vultos, pessoas que passaram e falaram com eles e quando eles viravam não havia ninguém. As vezes tem barulho de varrendo folha no pátio e quando foram vê não tinha nada... essas coisa, mas eu mesmo nunca passei por isso.

Notícias da Hora: Para finalizarmos, você tem planos de no futuro mudar de profissão ?

Joseline Lima: Não! Não tenho interesse em outra profissão. Aqui trabalho com tranquilidade fazendo o que gosta, o que ama, isso não tem preço. Eu faço o que gosto. Já teve alguns concursos mas eu não fiz não quero outra profissão, pode até parecer estranho, mas eu faço o que eu gosto, tenho orgulho da minha profissão e trabalho com amor.