Toda a comunidade ayahuasqueira se entristeceu neste final de semana com a passagem espiritual do senhor Luiz Mendes. Estava marcada uma grande festa na Fortaleza do Abunã, no Acre, em janeiro de 2020, a comunidade fundada por ele, para comemorar os 80 anos, do velho companheiro do Mestre Raimundo Irineu Serra. Viria gente de muitos lugares do mundo para a festa espiritual, mas um AVC levou o daimista repentinamente, no Dia de São Pedro, o Guardião das Portas do Céu, antes da celebração da data marcante. Mas é assim mesmo, a morte e o nascimento estão sempre numa estranha simbiose que transcende o entendimento humano.
O Senhor Luiz Mendes, era conhecido como Mestre Conselheiro. Isso porque gozou do circulo de amigos próximos ao Mestre Irineu, fundador da Doutrina do Santo Daime. Orador inspirado, o Padrinho, como muitos o chamavam, tinha a capacidade de usar palavras luminosas e de conforto dentro da força nos trabalhos espirituais com a ahayuasca.
Numa ocasião, em Campina Grande (PB), no final dos anos 90, durante um trabalho com o Daime, comandado pelo Senhor Luiz Mendes, tive uma atuação mediúnica muito forte com um outro mestre da Doutrina Espírita Amazônica, o Padrinho Sebastião Mota de Melo. Meu corpo serviu de instrumento para que o “velho mestre da floresta” já desencarnado pudesse transmitir as suas palavras aos discípulos presentes na sessão. Alguns membros da comunidade pareceram não entender aquilo que aconteceu. Olharam-me desconfiados e duvidosos como se fosse uma “atuação teatral”. Mas o Senhor Luiz Mendes com a sua sabedoria explicou o acontecido. Ele deu o testemunho da presença espiritual viva do Padrinho Sebastião que aconteceu diante de todos.
“Sebastião Mota esteve aqui conosco para ensinar e mostrar que a morte é apenas corporal. O nosso espírito continua vivo muito além da matéria e pode manifestar o seu conhecimento quando encontra um aparelho (corpo) preparado para recebe-lo”. Foram mais ou menos essas palavras do Mestre Luiz Mendes que estava visivelmente emocionado por sentir a presença espiritual do seu amigo Sebastião Mota de Melo naquela sessão.
Esse acontecimento criou um laço entre mim e o Padrinho Luiz Mendes. Participei de poucos trabalhos espirituais sob o seu comando. Alguns em Visconde de Mauá (RJ), outros em Rodrigues Alves (AC) e Cruzeiro do Sul (AC) e, na Paraíba como citei. Mas o encontrei inúmeras vezes nos aeroportos indo ou voltando ao Acre. O trabalho do Padrinho Luiz Mendes se tornou conhecido em muitas partes do mundo e sempre era convidado para viajar a outros países. A sua próspera comunidade na zona rural de Capixaba (AC) ajudou milhares de buscadores atrás da cura e da iluminação espiritual proporcionada pelo Santo Daime.
Recentemente, em janeiro deste ano, justamente na noite de São Sebastião, em que o Padrinho Sebastião fez a sua passagem espiritual, no início dos anos 90, encontrei o filho do Luiz Mendes, Sólon. Estávamos na Aldeia Puyanawa, em Mâncio Lima, para fazermos uma pajelança. Veio à minha lembrança aquela noite memorável de atuação mediúnica na presença do Mestre Conselheiro. Contei a história ao Sólon muito emocionado com a sincronia do acontecimentos do mundo espiritual. Cantamos e dançamos no cupichaua sagrado dos Puyanawas e no final, juntamente com o Sólon, apresentamos alguns hinos do Padrinho Sebastião e do Luiz Mendes aos indígenas. Narrei também a história da presença espiritual dos grandes mestres que continuam a cumprir as suas missões mesmo depois de abandonarem o corpo.
Assim para encerrar essa pequena preleção escrita, só posso dizer um até logo ao Senhor Luiz Mendes. Porque sei que o seu trabalho irá seguir vivo através dos tempos ensinando e mostrando aos buscadores que a morte é uma ilusão. Uma breve passagem do tempo que se desdobra em diferentes formas espirituais. As sementes plantadas por esse Mestre do Santo Daime continuarão a germinar e a gerar frutos para alimentar aqueles que tem fome de amor, de paz, de saúde física e mental e de entendimento da eternidade e imortalidade.