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A tradição do botequim raiz

A tradição do botequim raiz

SANTOS 01Era início de 2016, quando adentrei pela primeira vez ao recinto. Não me lembro exatamente quem era a companhia. Provavelmente, um dos poucos e queridos amigos que tenho.

De fora, o ambiente de aparente discrição e sossego contrasta com o espaço interno, que se torna um verdadeiro pandemônio no auge dos jogos de purrinha e das discussões acaloradas que, amiúde, acontecem por lá.

A fachada traz o nome de fantasia "Bar Rodrigues", mas, internamente, foi criada uma nova denominação que dá nome ao nosso grupo de WhatsApp: Tonico's Bar. É um canal para compartilhamento de conteúdos voluptuosos, piadas quase sempre repetidas e até correntes com promessas de riqueza fácil para quem repassá-las adiante.

De modo geral, sou um dos mais novos frequentadores do boteco. Um neófito. Os cabeças-brancas são verdadeiros arquivos ambulantes da história cruzeirense; alguns com quase meio século de boemia e um conhecimento vasto e vivaz sobre tudo de mais bizarro que já aconteceu por estas paragens.

Particularmente, meu dia preferido, no boteco, é o domingo. Seja pela aura propícia que o dia enseja, seja pelos amigos que vão sempre nesse dia. Já que não dá para fazer referência a todos, cito apenas o Dilsinho, um frequentador assíduo e um grande expoente da malandragem cruzeirense. Quem não conhece a estória do morcego? Ele conta e jura de pés juntos que é verdadeira.

Resenhas de futebol, discussões políticas e histórias do panorama local são os temas mais recorrentes. Os mais eruditos conversam também sobre música, além de pitadas de poesia e literatura.

A sagacidade do Zé, o garçom, todos conhecem muito bem. Os trocos não devolvidos, a cerveja gelada que sempre acaba quando ele quer sair mais cedo ou quando a lista de fiados está muito grande. "Cerveja de jogo tem de ser à vista", sentencia. Isso é motivo de constantes reclamações por parte dos clientes mais abusados.

O antigo toca-fitas ainda é a principal fonte de som-ambiente, mas vem perdendo espaço para as caixinhas portáteis que alguém sempre leva, porque não suporta mais ouvir o som arrastado - e quase inaudível - das vozes de Roberto Carlos, Agnaldo Timóteo e Nelson Gonçalves.

Um momento tenso é a hora do tira-gosto. O Dislinho sempre acusa o Tonico, o proprietário, de favorecer os clientes mais ilustres e de ficar com parte do rango para consumos posteriores. Tudo implicância do Dilsinho!

Escrevo esta singela crônica como forma de homenagear o mais antigo boteco de Cruzeiro do Sul. Tem quase meio século de existência e foi passado de pai para filho. O garçom é o mesmo há quarenta anos. O lugar é um tipo de confraria, onde amigos de longa data reúnem-se para tomar cerveja e contar estórias.

Por fim, rendo, aqui, meus agradecimentos ao Zé e ao Tonico pelo atendimento respeitoso e sempre simpático e pelas vezes que me confiam uma breja fiado.

Romisson Santos - Professor e cronista