O mês de setembro nem bem começou e o Acre já tem registrado os dois primeiros focos de incêndios florestais em 2020; ou seja, aqueles que ocorrem dentro da floresta em pé. Se até aqui o fogo estava restrito a queimadas em áreas de agricultura e pecuária - além para limpeza de desmatamentos recentes - aos poucos os satélites vão registrando sua presença no interior da floresta, cujos danos ambientais são irreparáveis.
Segundo dados do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (LabGama), da Universidade Federal do re (Ufac), um dos focos de incêndio florestal foram detectados no município de Xapuri, mas fora da Reserva Extrativista Chico Mendes; segundo o monitoramento, a área da unidade de conservação com registro de incêndio florestal fica em seus limites no território de Rio Branco.
A situação é preocupante após o Acre bater recorde no registro de queimadas em agosto, ocupando a terceira posição entre os estados da Amazônia Legal. Com as condições climatológicas favoráveis à propagação do fogo dentro da floresta em pé ainda se mantendo ao longo de setembro, a tendência é a ocorrência de incêndios florestais aumentar.
Se agosto já foi um mês crítico, pesquisadores também se preocupam com setembro, tradicionalmente o mês do fogo no estado, em especial na região Leste. Desde 2019 o Acre também acumula aumentos recordes dos níveis de desmatamento - se mantendo este ano - o que cria muito material combustível para queimar nestes meses de “verão amazônico” que, conforme a Nasa, tende a ser mais severo e prolongado.
Em maio, a agência espacial dos Estados Unidos divulgou estudo apontando que, entre os estados da Amazônia brasileira, o Acre é o que tem a maior probabilidade de ser atingido por incêndios florestais: 85%. O principal motivo para isso é o aquecimento das águas do Oceano Atlântico, que tem como efeito a redução da umidade na parte mais sul da Amazônia e uma concentração maior ao norte. O fenômeno é conhecido pela sigla em inglês AMO, cuja tradução é Oscilação Multidecadal do Atlântico.
Este foi o mesmo fenômeno que levou o Acre a ter queimada uma área de 350 mil hectares de floresta no ano de 2005, sendo a Resex Chico Mendes a mais afetada A anomalia se repetiu em 2010, também causando grandes prejuízos ambientais.
O baixo volume de chuvas típico desta época do ano fica ainda mais reduzido com o AMO, cujo outro efeito é retardar o início do período chuvoso que se inicia em outubro, o chamado inverno amazônico. O reduzido volume de pluviosidade (que consequentemente provoca a queda na umidade do ar) e as altas temperaturas criam o que cientistas definem como “estresse hídrico”.
“Quando falamos em estresse hídrico nós estamos, em tese, falando direta ou indiretamente da redução de umidade no solo que vai causar um prejuízo para o bom funcionamento das plantas, das árvores. Ou seja, teremos um estresse por falta de água”, explica o professor William Flores, professor da Ufac e doutor em Ciências das Florestas Tropicais pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Diante das projeções científicas sérias e do já conhecimento tradicional de setembro ser marcado por bastante fogo, as ações de repressão às queimadas se mostram ainda mais necessárias para se evitar a repetição da tragédia de 15 anos atrás.
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