Em parceria com o Iphan, empresa investe na educação patrimonial de comunidade rural que convive com o sítio arqueológico Jacó Sá - o mais conhecido do mundo
“Piloto de avião”. É essa a resposta de como Samuel Magalhães, de 8 anos, se vê no futuro. A paixão pelos ares foi herdada do pai, um dos principais incentivadores do sonho do filho. Inclusive, ambos já voaram juntos pelos céus da Vila Pia, onde moram. A comunidade está localizada no km 52 do município de Senador Guiomard, distante 50 quilômetros de Rio Branco (AC), e abriga o Sítio Arqueológico Jacó Sá, que é o primeiro geoglifo do Brasil tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2018.
Mesmo com experiência de sobrevoo pela região, o garoto disse que nunca havia reparado nas figuras geométricas (quadrado e círculo) que compõem a estrutura milenar, datada de 1,5 a 2,5 mil anos atrás. E seus colegas da Escola Rural Estadual São Francisco de Assis II também só sabiam da existência pela boca dos outros ou por vê-las fotografadas em livros, sem nem imaginar que os povos originários do Brasil são os autores das imagens - antes mesmo dos colonizadores portugueses começarem a explorar as riquezas do país.
Samuel e outros 180 alunos do ensino fundamental 1 e 2 estão inseridos em um robusto programa de educação patrimonial que é executado pela empresa de arqueologia Inside Consultoria Científica, sediada no Pará, em parceria com o Iphan. A ação está em andamento desde novembro de 2023 e deve ser concluída nos próximos meses deste ano.
Oficina, inventário participativo e exposição final
A escola foi introduzida ao conceito do que é patrimônio cultural por meio de uma oficina e debateu a importância disso para a construção identitária de um povo, contribuindo para a formação cidadã, preservação da história e manutenção da memória local.
Aliando teoria e prática, os alunos receberam orientação de uma arqueóloga para que identificassem aquilo que entendem como bens materiais da região. Enquanto as crianças se expressavam através de desenhos, os adolescentes elaboraram uma extensa lista de coisas que tornam a Vila Pia única - a exemplo dos geoglifos.
A proposta da ação é promover conhecimento com dinâmicas prazerosas que estimulem a criatividade e o senso crítico dos mais jovens, em uma região que é dominada pela expansão da fronteira agrícola.
“O Sítio Arqueológico Jacó Sá é o mais conhecido do mundo e queremos mostrar isso à comunidade. Assim, eles poderão entendê-lo como parte de sua identidade e cuidar desse e de outras centenas de geoglifos descobertos no estado do Acre”, explica o arqueólogo Wagner Veiga, coordenador do projeto.
Agora, a equipe se mobiliza na aplicação de fichas para criar um inventário participativo com o registro de lugares, objetos, saberes tradicionais, celebrações e formas de expressão que fazem parte da vida da população.
Não só a escola participa nesta última fase, mas toda a comunidade. O resultado da pesquisa será apresentado nos próximos meses de 2024 durante uma celebração popular no galpão da Paróquia São Francisco.
Lá, os desenhos produzidos pelos alunos serão expostos, assim como o conjunto de informações do inventário sobre o patrimônio cultural. Segundo a Inside Consultoria Científica, a data deve ser divulgada ainda no primeiro trimestre.
Elaborada pelos próprios moradores da Vila Pia, uma seleção de comidas típicas vai entrar no cardápio da festa para deixar a confraternização mais acolhedora, inclusiva e afetuosa.
Veja imagens áreas do sítio arqueológico Jacó Sá no vídeo abaixo: