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Brasileiros que estudam Medicina em Puerto Evo Morales, fronteira com o Acre, denunciam abusos, assédio sexual e negligência

Brasileiros que estudam Medicina em Puerto Evo Morales, fronteira com o Acre, denunciam abusos, assédio sexual e negligência

Estudantes brasileiros que cursam Medicina na Universidade Amazónica de Pando (UAP), localizada em Puerto Evo Morales, na fronteira com Plácido de Castro, no Acre, estão denunciando uma série de abusos, negligência e condições precárias que colocam suas vidas em risco. Promessas não cumpridas, falta de infraestrutura e um ambiente de estudo marcado por pressões psicológicas têm gerado indignação e preocupações.

Quando inaugurada no final de 2023, a UAP garantiu aos estudantes uma estrutura de alto nível, com laboratórios modernos e recursos fundamentais para o ensino de Medicina, incluindo cadáveres para estudos anatômicos. Entretanto, segundo os alunos, a realidade é completamente diferente.

Os laboratórios frequentemente alagam, o teto ameaça desabar, e os banheiros são considerados inutilizáveis. Os estudantes relatam que, em muitas ocasiões, são obrigados a improvisar para lidar com as falhas estruturais. A situação chegou ao extremo quando um incêndio, causado por problemas na instalação elétrica, expôs todos a um grave risco de vida. Durante o incidente, os alunos salvaram equipamentos enquanto a direção permanecia inerte.

Além das condições dentro da universidade, o acesso ao campus é um desafio por si só. Durante as chuvas, o único ramal que liga a UAP à cidade se transforma em um lamaçal, dificultando a passagem de veículos. Muitos dependem de colegas que possuem caminhonetes para chegar às aulas.

As dificuldades financeiras também são uma constante. Os estudantes denunciam a cobrança excessiva de taxas para manutenção de laboratórios, participação em feiras acadêmicas e até para reformas no campus. Em troca, a universidade promete pontos extras para os alunos que colaboram, mas frequentemente não cumpre o acordo, deixando os estudantes frustrados e no prejuízo.

O ambiente acadêmico é descrito como tóxico. Estudantes relatam que professores humilham alunos em sala de aula, expulsando-os por respostas erradas ou por motivos triviais, como bocejar. Crises de ansiedade e ataques de pânico têm se tornado recorrentes, mas a direção ignora as demandas por apoio psicológico.

Uma denúncia de assédio sexual envolvendo um professor foi divulgada pela ativista Mariely Arruda nas redes sociais, mas, segundo os alunos, a instituição não tomou medidas efetivas para apurar ou resolver o caso.

A situação se agravou com o cancelamento da quarta parcial, uma das principais avaliações do curso, após casos de cola durante a prova. A universidade decidiu que todos os alunos deveriam refazer o exame, punindo a maioria que realizou a avaliação de forma honesta. “Estamos sendo prejudicados pela falta de organização da própria instituição”, desabafou um dos estudantes.

Os alunos brasileiros afirmam que, além de enfrentarem barreiras acadêmicas e estruturais, estão lutando por dignidade e segurança. “Nos sentimos abandonados. Viemos aqui para construir um futuro na Medicina, mas estamos sendo tratados com descaso”, relatou um estudante. Com apenas um ano de funcionamento, a UAP em Puerto Evo Morales já acumula reclamações graves, colocando em dúvida a qualidade e a responsabilidade da instituição em formar profissionais capacitados.