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 Cientistas mostram preocupação com possível nova variante do zika

Cientistas mostram preocupação com possível nova variante do zika

Mutação do vírus pode causar nova onda de casos da doença, que ainda não conta com vacina

Diante do alerta para um possível novo surto mundial, o zika volta a preocupar o Brasil. Cientistas apontaram que o surgimento de uma nova variante mais transmissível seria capaz de gerar nova onda de casos da doença, para a qual ainda não há vacina disponível. Com 1.480 casos, o número saltou 31,8% no país ao longo do primeiro trimestre de 2022 em comparação à mesma época do ano passado.

Apesar do recente alerta, especialistas ouvidos pelo GLOBO concordam que o Brasil não deve viver uma nova emergência médica provocada pelo zika como a de 2016. Entre os motivos, está a imunidade natural de pessoas já infectadas, sobretudo no Nordeste, onde houve prevalência de casos. A vigilância epidemiológica também poderia atuar para dar respostas mais rápidas nessa situação. 

“Acho difícil (ter uma nova emergência médica) a não ser que aconteça uma variação no zika suficiente para infectar pessoas já infectadas em 2016”, afirma o chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Amilcar Tanuri. “O aumento de casos nos dá um alerta, mas temos que entender que havia baixa incidência de zika em 2021. Não podemos baixar a guarda e devemos ficar vigilantes.” 

Nesse cenário, o Nordeste tem sido o mais afetado neste ano, mostram dados do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado nesta semana. Sozinha, a região registrou 1.011 casos — mais de dois terços do total. Também registrou o maior avanço da doença, com 62% a mais que em igual período de 2021. 

É no Nordeste que estão os municípios que se sobressaem com o maior número de notificações no acumulado de 2022. Petrolina (PE) lidera ao registrar 119 casos. Em seguida, vêm Quebrangulo (AL), com 67, e Santo Antônio (RN), com 63. A média atual é de 0,7 caso por 100 mil habitantes no país.

“O aumento dos casos de zika faz parte de um fenômeno de todas as arboviroses, incluindo a dengue e a chikungunya. Com o retorno das atividades de rotina e da circulação de doenças, aumenta o risco de transmissão das doenças, porque o vírus é transportado por pessoas. O mosquito só voa 200 metros em torno de cada domicílio”, analisa o professor de Epidemiologia da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic André Ribas Freitas.

Depois do Nordeste, vem o Norte, com 266 infectados — o que representa 37,8% a mais. Entre as regiões, o número de infectados despencou 50,5% no Sudeste, com 97 casos, e 8,8% no Centro-Oeste, com 83. Já o Sul teve um aumento de 21,2%, representando 23 diagnósticos, abaixo da média nacional. O levantamento da pasta reúne casos prováveis de zika de janeiro a março, dos quais exclui diagnósticos já descartados. 

Segundo o Ministério da Saúde, houve 258.353 diagnósticos e 21 mortes por zika — nenhum desde 2020 — na série histórica de 2016 a 2022. Os dados do ano passado ainda estão em consolidação. O pico foi no ano da emergência médica, que corresponde a 82,5% dos casos e a mais de metade dos óbitos. Ao todo, foram 213.350 infectados em 2016, dos quais 11 tiveram as vidas ceifadas, mostram os números oficiais. 

Um dos riscos da doença é a infecção em mulheres grávidas, já que o vírus pode causar microcefalia em fetos. Nessa malformação congênita, a cabeça do feto passa a ser menor que o esperado, muitas vezes sem o desenvolvimento adequado do cérebro. 

Assim como a dengue, o zika vírus também é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Dor de cabeça e nas articulações, febre baixa, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos figuram como os principais sintomas, que costumam durar de três a sete dias. 

Não há tratamento específico contra a doença. Sem vacina, a principal forma de enfrentar a doença é eliminar criadouros do mosquito, isto é, locais com água parada em calhas, telhados, vasos de planta e pneus, entre outros. Especialistas também indicam o uso de repelentes, sobretudo para gestantes em áreas de risco. 

“O Ministério da Saúde vem intensificando as ações de prevenção e controle das arboviroses, apoiando estados e municípios nas capacitações de manejo clínico e diagnóstico das arboviroses. Essas ações são fundamentais para evitar aumento no número de casos e possíveis surtos. Além disso, a pasta acompanha estudos e pesquisas relacionados à vigilância, prevenção, controle e manejo clínico das arboviroses em território brasileiro”, diz a nota da pasta enviada ao GLOBO.