Uma nova fiscalização realizada pela equipe do Conselho Regional de Medicina do Acre junto com representantes do Ministério Público flagrou, nesta terça-feira (10) inúmeras irregularidades no pronto-socorro de Rio Branco. Entre elas a superlotação, falta de profissionais, de remédios e equipamentos e problemas estruturais.
A vistoria foi realizada pela presidente do Conselho, doutora Leuda Dávalos, além dos conselheiros Virgilio Prado, Marcus Vinicius, Ricardo Mantilla e Marcelo Grando e do funcionário do Departamento de Fiscalização do CRM, Janderson Ribeiro. A equipe vistoriou todos os setores da unidade, entre eles o centro cirúrgico, a UTI, enfermarias, observação adulto masculino e feminino. Além do setor pediátrico, de emergência pediátrico e adulto e sala de gesso.
De acordo com o conselheiro e primeiro secretário do CRM, Dr. Virgilio Prado, o objetivo da ação foi fazer uma vistoria completa da unidade para que um relatório seja elaborado e discutido em uma reunião que deve acontecer nos próximos dias com o secretário de Saúde do Estado, secretária-adjunta de Saúde, direção da unidade e MP-AC.
“Constatamos grande déficit de carga horária de médicos, situação que a direção relata estar ciente e que solicita frequentemente à Sesacre a reposição da carga horária. Por exemplo, no último andar, na parte nova do PS, tem uma UTI com dez leitos e ela, nesse momento, está sendo utilizada como unidade de dor torácica, ou seja, tratamento de emergências em cardiologia, especialmente infarto, só que apenas um leito está ocupado pela falta de profissionais. A escala de cardiologista tem grandes furos, tem dias inteiros que não tem nenhum médico para fazer o plantão”, afirmou Virgilio Prado.
Apesar de ser uma unidade nova, a equipe de fiscalização constatou problemas de falta de equipamentos, a montagem e calibração do equipamento de raio-x não foi finalizada. Outra irregularidade é a falta de bombas de infusão, equipamento essencial para administração de medicamentos em unidades de terapia intensiva. A unidade deveria ter 40 bombas de infusão, porém existem apenas duas delas.
“Existe um equipamento de raio-x portátil na unidade que nunca teve utilidade. Apesar de ser uma unidade utilizada para tratamento em cardiologia, ela sequer tem um aparelho de eletrocardiograma, que é algo básico e que custa cerca de R$ 2 mil. Então, você está tratando pacientes em cardiologia sem o exame mais básico, que é o eletrocardiograma”, disse o conselheiro.
Existem ainda nove pacientes idosos aguardando há um mês por cirurgia de fratura de fêmur. A gerência informou que o médico especialista que faz esse tipo de cirurgia está afastado por problemas de saúde e que, portanto, eles vão ser encaminhados para o TFD.
Nas enfermarias foi constatada a falta de leitos. Apesar dos mais de 70 leitos novos na unidade, ainda assim, foram encontrados alguns pacientes nos corredores da unidade, situação que, segundo a administração, ao longo do dia iria normalizar. Além disso, não há nenhum médico de plantão nos três andares de enfermarias. Quando há algum paciente precisa de uma avaliação de emergência, ele é colocado em uma maca e levado para outros setores do pronto-socorro, acarretando demora no início do tratamento em mais de cinco minutos, o que pode, inclusive, ser fatal.
“Dentro da unidade existem alguns problemas estruturais mais sérios, por exemplo as enfermarias que possuem janelas comuns, sem proteção, o que representa um risco à integridade dos pacientes. Segundo o pessoal da enfermagem informou, faltam medicamentos básicos como dipirona e tramal, e antibióticos como cefazolina e cefalotina, que estão em falta há mais de um ano. Também foi constatada a superlotação da unidade de emergência clínica, uma unidade que no momento da nossa visita estava com 11 pacientes graves e intubados, acima da sua capacidade. A observação para adulto, que é uma unidade para tratamento de pacientes menos graves, também estava lotada”, informou Virgilio Prado.
Outra irregularidade encontrada foi que na unidade de tratamento para os traumatizados, aqueles acidentados que chegam no pronto-socorro, faltam equipamentos básicos como fios de sutura e instrumental cirúrgico para a realização de pequenos procedimentos.
“Como de praxe, a administração da unidade, o Ministério Público e a Sesacre receberão relatório completo da vistoria. Mas, neste caso, o CRM discutirá com todas as partes os problemas encontrados e exigirá soluções para melhoria no funcionamento do principal hospital de urgências e emergências do nosso estado”, finalizou o conselheiro Virgilio Prado.