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Do seringal em Manoel Urbano a empresário bem sucedido: conheça Adem Araújo

Do seringal em Manoel Urbano a empresário bem sucedido: conheça Adem Araújo

Quando a família Araújo deixou o Seringal Santa Cruz, às margens do Rio Purus, eles embarcaram numa aventura de sonhos de uma vida melhor, rejeitando aquilo que o destino lhes impusera. Era início dos anos 80, momento em que a extração da borracha perdia o seu valor, culminando na desativação dos seringais, o que arruinou a principal fonte econômica do Acre. Esperança não havia naquelas remotas paragens.

A propriedade ficava em Manoel Urbano, distante 250 quilômetros de Rio Branco. Somente para ir à sede do município, era preciso viajar no mínimo três dias de barco. Em uma época em que as estradas eram intrafegáveis durante oitos meses do ano, chegar à capital foi outra epopeia.

Os mais velhos passaram por dificuldades de toda ordem. Depois de trabalhar como balconista, o visionário Aldenor aceitou a sugestão do cunhado, Peregrino Pereira, e montou, com ele, a Mercearia Santa Cruz, um rústico imóvel com menos de 100 m², alugado, e com um pequeníssimo sortimento, disposto em prateleiras de madeira.

“Eu tinha 13 anos quando comecei a trabalhar”, relembra Adem, o nono de uma família de 15 irmãos.

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O estabelecimento vendia basicamente produtos da cesta básica. “Os hortifrútis raramente chegavam, pois não havia essa cultura de consumo. Tomate, cebola e batata eram raros”, detalhou o empresário, que virou uma espécie de ‘braço direito’ do irmão.

Nessa trajetória de 40 anos, os irmãos se uniram, separaram-se e voltaram a se unir para formar a maior rede de supermercados do Acre, a nona da Região Norte/Nordeste e em nível nacional a posição 53, de acordo com o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS). “Não somos empresários, mas sim empreendedores”, frisou Adem Araújo, para quem o melhor negócio é quando a sociedade vai bem.

O grupo Arasuper deu um upgrade no marketing, especificamente quebrando o paradigma da relação dinheiro x clientes, e criou um novo conceito de valor, que pode ser traduzido em grandeza, respeito e amor ao próximo. “A maior de todas as nossas felicidades é presenciarmos a satisfação daqueles que são a razão da nossa existência – os senhores e senhoras clientes.”

A reportagem quis saber sobre as comemorações da longeva data, porém, ao perceber as origens e a trajetória da família, fez uma imersão nos personagens, que revelaram virtudes como pioneirismo, ousadia, bravura e muita resiliência. “Onde houver mudanças, incertezas e crises, haverá oportunidades”, assim resumiu, sorrindo, o empresário.

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Veja os principais trechos da entrevista:

NH - Quais são as origens da família Araújo?

O meu pai era filho de cearenses e nasceu em um seringal no Rio Purus. A minha mãe era oriunda de potiguares e também nasceu no Purus. As duas famílias vieram no primeiro ciclo da borracha. Eles se conheceram e se casaram nessa mesma região. Mas o papai, que era viúvo, já tinha seis filhos do primeiro casamento. Ele era regatão [comerciante que se desloca em um barco e negocia com a população nativa]. Depois, com a ajuda da família Ale, foi morar em um seringal e começou a sua história, desta feita como arrendatário na localidade onde eu nasci. Quando ele chegou por lá, não existia sequer uma casa.

NH - O senhor nasceu no Seringal Santa Cruz? Como foi a sua infância?

Pouco tempo depois que nasci, os meus irmãos mais velhos já estavam na cidade. Uns trabalhando, outros estudando. Todos, quando completavam 12 anos, passavam a morar em Sena Madureira. Eu peguei a fase boa. Não faltavam alimentos e outras coisas básicas para a manutenção de uma família. Eu comecei a trabalhar com sete anos. O meu pai, que era visionário, construiu uma escola e foi ao então distrito de Manoel Urbano solicitar professores. Eles, infelizmente, não se fixavam lá por muito tempo. A localidade era isolada. Quando eu completei 12 anos, vim direto para Rio Branco.

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NH- E foi por essa época que vocês montaram um comércio em Rio Branco, mais precisamente no bairro Estação Experimental?

Antes, o Aldenor tinha vindo morar em Sena Madureira. Depois, aqui na capital, trabalhou como vendedor nas Casas Pernambucanas. Por providência divina, ele foi demitido. Na época, o papai havia mandado um dinheiro para o meu cunhado, o Pelegrino Pereira, construir uma casa para a gente morar. Foi com o que sobrou dessa pequena quantia que ele montou aquilo que seria o embrião do nosso negócio. Era no máximo uma caminhonete de produtos, num pequeno local, alugado, e com prateleiras de madeira. Embora existissem muitos comércios nas proximidades, a gente se destacou por vender mais barato. O custo era baixo porque procurávamos os melhores preços, os funcionários eram da própria família e não tínhamos nenhuma vaidade. O nosso transporte, por exemplo, eram bicicletas.

NH - Nestes 40 anos, vocês se uniram, separaram-se e voltaram a se unir para formar a maior rede de supermercados do Acre, a nona da Região Norte/Nordeste e nacionalmente a posição 53. Qual é o seu maior desafio nos dias atuais?

É prestar um serviço de excelência para aqueles que são a razão da nossa existência: os clientes. Para isso acontecer, é preciso lidar com pessoas. Ensinar e treiná-las melhor. Queremos que elas se sintam bem e imprescindíveis para a empresa. Estamos sempre buscando um ambiente mais agradável para que produzam melhor. Os colaboradores são um dos nossos maiores patrimônios.

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NH - Qual é o significado da palavra “excelência”?

É o nível máximo de desempenho que se pode alcançar. É oferecer produtos como se fossem para nós. Tudo o que a gente pensa e faz acontecer é o que gostaríamos de consumir, bem como receber aquele atendimento. Quando existe um item com pouca aceitação, ou com algum problema, a gente descarta imediatamente. Não pensamos em perdas ou prejuízos. O nosso pensamento é sempre fazer o melhor possível, ou seja, disponibilizar um serviço de excelência.

NH- O que vocês fazem para conseguir um bom controle de qualidade?

É um conjunto de fatores. Toda empresa do setor precisa trabalhar em cima de um programa de controle de qualidade dos alimentos. Entre as exigências estão a comunicação interativa, a gestão de sistema, o controle dos riscos de segurança, a melhoria e a atualização frequentes do sistema de gestão de segurança alimentar. Se fizermos prevenção, capacitação de mão de obra e seguirmos o manual de boas práticas dos órgãos fiscalizadores e da empresa, não teremos problemas. Graças a Deus, a gente tem um sistema de prevenção muito eficaz, o 5S, que é uma sigla japonesa cuja metodologia é focada na organização e na conquista da qualidade total: Seiri (utilização), Seiton (organização), Seiso (limpeza), Seiketsu (normalização) e Shitsuke (disciplina).

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NH - Qual é a relação do grupo com os fornecedores locais? A empresa os prestigia?

A nossa intenção é fomentar a produção local, para que possamos gerar mais emprego e renda. A gente ajuda o pequeno agricultor a montar certas estruturas, principalmente na época das chuvas. Temos muitas dificuldades porque o empreendedorismo rural no Acre, infelizmente, não é exitoso. Mesmo com todos os percalços, sempre demos prioridade para a produção local, exigindo qualidade, claro. Mas em determinado período do ano, infelizmente, faltam produtos como a mandioca, a banana e o carvão.

NH- Por que o grupo não se instala em Cruzeiro do Sul, que é uma cidade-polo?

Devido à logística, estrategicamente é melhor nos expandirmos para Rondônia. Além de não termos uma produção agrícola autossuficiente, não dispomos de uma boa infraestrutura, principalmente em se falando de estradas. A gente já teve peixe, mas, infelizmente, os produtores não conseguiram se estruturar para atender às exigências sanitárias, além dos onerosos custos da ração. Mesmo com o imposto e o frete, é mais vantajoso comprarmos o peixe de Ariquemes (RO). Com o possível avanço do agronegócio, quem sabe essa produção não possa ser retomada? A gente compra boi in natura (com ossos), e isso no Centro-Sul não existe mais. Aqui não há fornecedores de carne desossada. Para completar a demanda, a gente compra esse produto de Rondônia.

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NH - Comente sobre a agroindústria local.

Existe consumo de banana chips no mundo inteiro. Os países caribenhos produzem, industrializam e exportam para os EUA, Canadá e Europa. Da mesma forma que a banana, a mandioca também seria outra alternativa para a nossa região, pois agregaríamos valor e geraríamos empregos. Mas existe produção para isso? Não temos banana e mandioca nem para atender ao consumo in natura local.

NH - O que é responsabilidade social?

Não basta fazer o básico, ou seja, pagar impostos e gerar empregos. É preciso retornar para a sociedade uma parcela daquilo que ela nos dá. Mantemos parcerias com entidades ligadas ao esporte, à cultura e ao lazer para levar cidadania e outras perspectivas para aqueles que não tiveram oportunidades. Antes das leis, a gente já empregava idosos. Pessoas com deficiência e adolescentes, no primeiro emprego, também fazem parte do nosso quadro de colaboradores. Estes últimos são exigidos por lei.

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NH - Qual é o perfil dos seus funcionários?

Não existe um perfil definido. Porém, a maioria deles é de origem humilde, vindos do interior ou de bairros afastados aqui da capital. São dedicados e com vontade de vencer na vida. Para muitos é o primeiro emprego, e uma parte considerável é contratada por outras empresas. Isso se dá porque eles têm muitos contatos, ou seja, a empresa acaba sendo uma espécie de vitrine na qual acontecem saltos profissionais maiores.

NH - O que o nome “empreendedorismo” diz para o senhor?

Criação de negócios para gerar emprego, renda e riqueza para o país. É fazer uma boa gestão de pessoas. É ainda sinônimo de inquietação e criatividade. Existem pessoas que têm a chamada personalidade empreendedora, ou seja, possuem energia, autoconfiança, iniciativa, aceitam responsabilidades e correm riscos. Também formam equipes, não aceitam as medidas impostas e buscam recursos diferentes, além de terem atitudes positivas diante do fracasso. Para que haja justiça social, é preciso existir prosperidade.

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NH- Qual é o maior legado deixado por vocês e por seus pais?

Eu não vejo o patrimônio físico como um legado, embora seja o resultado de um trabalho. O mais importante é conseguir botar em prática aquilo que trouxemos do berço e fazer as coisas darem certo. Os princípios que aplicamos são: retidão, justiça e respeito ao próximo, além de ajudar as pessoas sempre na medida do possível. Tudo o que aconteceu, ao longo de nossas vidas, foi de forma natural e positiva, graças a Deus.