Um estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta para uma mudança de comportamento sobre a ocupação de áreas na Amazônia acreana. As informações fazem parte do artigo ‘Agrobandidagem e a Expansão da Fronteira na Amazônia Sul-Ocidental’, do pesquisador Ricardo Gilson da Costa Silva, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Se antes a grilagem estava em terras devolutas, esse modus operandi mudou. Agora, a tática é outra. Os grileiros passaram a ocupar áreas protegidas, como florestas públicas.
“No passado, a chamada indústria da grilagem agia em terras públicas devolutas. Hoje, sua estratégia, aliada à agrobandidagem, versa contra as áreas protegidas, muitas vezes mobilizando e financiando pequenos posseiros, constituindo uma espécie de “grilagem terceirizada”. Por isso, a defesa da redução de áreas protegidas, como ocorreu nas Assembleias Legislativas do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Amazonas, soma-se à urgência da regularização fundiária, que se transformou na legalização da grilagem. Em geral, a maior parte das áreas em disputa se deslocou, nos últimos anos, para os territórios protegidos”, afirma o artigo.
O estudo faz, ainda, uma reflexão sobre o que acontece no norte do estado de Rondônia, sul do Amazonas e leste do Acre, que, nos últimos anos, tem registrado aumento do desmatamento, crescimento da pecuária, invasões de áreas protegidas e conflitos por terra e território.
No Acre, em 2021, “foram registrados 59 conflitos por terra, sendo os posseiros (42%) e os seringueiros (41%) as categorias que mais sofreram violência. Em Rondônia, foram 52 conflitos, sendo os sem-terra (44%) e os indígenas (21%) as principais vítimas. No Amazonas, com 62 conflitos, tanto os indígenas quanto os posseiros representaram, cada um, 41% dos registros de violências sofridas. No outro polo, que qualifica os causadores dos conflitos, o quadro assim está distribuído: no Acre, os fazendeiros (73%) são os principais responsáveis pelos conflitos; em Rondônia, são os fazendeiros (29%), madeireiros (21%) e grileiros (15%); já no Amazonas, os agentes causadores são os fazendeiros (41%), grileiros (22%) e madeireiros (16%)”, diz o estudo que analisa dados obtidos pela Comissão Pastoral da Terra, publicados em 2022.
Ainda de acordo com o pesquisador, fazendeiros e madeireiros de Rondônia fazem pressão sobre essas áreas. “Os estados do Acre e do Amazonas são os que, recentemente, mais sofrem a pressão das economias neoextrativas. Nos territórios invadidos no primeiro estado [Acre], chamam atenção os posseiros presentes há muito tempo nas áreas rurais que não foram objeto de regularização fundiária, estando suas terras invadidas por fazendeiros e madeireiros oriundos de Rondônia. No caso dos seringueiros, grupo tradicional historicamente enraizado nas reservas extrativistas, seus territórios sofrem pelas práticas da agrobandidagem”.