O uso de ozônio como forma de tratamento complementar para a Covid-19 foi defendido nesta segunda-feira em reunião com o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello. Ele abriu um horário na agenda para atender Maria Emília Gadelha Serra, presidente da Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica, que estava acompanhada do deputado federal Giovani Cherini (PL-RS), que comanda a Frente Parlamentar Mista em Defesa de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e da Felicidade.
A pasta informou, em nota, que o efeito da aplicação de ozônio nos pacientes de Covid-19 é "desconhecido" e que seu uso "não é recomendado como prática clínica".
Segundo Cherini, a reunião teve como objetivo explicar sobre o uso de aplicação do ozônio há mais de cem anos para várias enfermidades, bem como apresentar duas pesquisas em andamento sobre a prática no caso de pacientes com Covid-19. Ele afirmou ao GLOBO que o intuito foi pedir apoio para os estudos em curso, que são todos privados, e não para que seja incorporado neste momento no SUS.
"Somente queremos apoio para a pesquisa. Primeiro o conhecimento (por parte do Ministério da Saúde) e depois a possibilidade de recursos para a pesquisa", destacou o deputado.
Segundo a Associação Brasileira de Ozonioterapia, o primeiro estudo que teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa no contexto da Covid-19 vai aplicar a terapia em pacientes internados. O gás, nesta pesquisa, é insuflado pelo ânus. O estudo, ainda conforme comunicado da entidade, está sendo feito em três hospitais (no Rio de Janeiro, em Campina Grande e em Cascavel), mas não foi informado o nome das instituições.
A prefeitura de Itajaí (SC) aderiu ao protocolo da pesquisa, segundo a entidade. O prefeito da cidade, Volnei Morastoni (MDB), defendeu em vídeo a aplicação do ozônio, via retal, como parte do tratamento nas redes sociais, o que gerou polêmicas.
"É uma aplicação simples, rápida, de dois ou três minutinhos por dia, provavelmente vai ser uma aplicação via retal. É uma aplicação tranquilíssima, rapidíssima de dois minutos com cateter fino, e isso dá uma resultado excelente", afirmou em transmissão virtual.
A entidade lamentou em nota que a prática tenha sido retratada nos últimos dias em "memes e de forma jocosa", ignorando se tratar de "técnica tão séria e respeitada mundo afora". Além da aplicação via retal, é possível também aplicar ozônio no sangue do paciente, após retirado do corpo, e depois reintroduzi-lo no organismo.
O segundo estudo aprovado, de acordo com a entidade, vai testar o uso do ozônio em pacientes ambulatoriais da Covid-19. Locais interessados em participar terão que atender ao protocolo exigido pela Associação Brasileira de Ozonioterapia, sob coordenação de um médico.
O GLOBO não conseguiu contato com a Associação Brasileira de Ozonioterapia.
O Ministério da Saúde afirmou que nota técnica publicada em abril deste ano apontou que "o efeito da ozonioterapia em humanos infectados por coronavírus (Sars-Cov-2) ainda é desconhecido" e que o uso "não deve ser recomendado como prática clínica ou fora do contexto de estudos clínicos".