Segundo cientistas, os testes de anticorpos podem não ser o suficiente e, apenas por tê-los, não quer dizer que o indivíduo esteja necessariamente imune
Muito se fala sobre um futuro próximo no qual a humanidade, por meio da imunidade de rebanho, não estará mais suscetível a contrair certos vírus, como é o caso da covid-19. A teoria, na prática, funciona quando uma vacina é criada. Mas, para cientistas chineses e americanos, os seres humanos podem nunca desenvolver uma imunidade contra o novo coronavírus.
A conclusão, que ainda não passou pelo peer review, ou seja, ainda não foi avaliada por outros membros da comunidade científica e nem está perto de publicada em uma revista da área, foi baseada em um estudo que analisou se profissionais na área de saúde em Wuhan, na China, apontada como o local de origem do vírus, haviam desenvolvido anticorpos contra a doença no ínicio da pandemia. Pelo menos um quarto das mais de 23.000 amostras foram infectadas com o vírus, mas somente 4% criaram anticorpos até abril — o que não significa que eles estão imunes. Uma notícia não muito agradável em meio à pandemia.
Enquanto para outras doenças causadas pelo coronavírus, como foi o caso da sars e do MERs, as pessoas desenvolviam anticorpos capazes de dar uma imunidade de até quatro anos para quem foi infectado, não se sabe se o mesmo vale para a covid-19. A pesquisa mostra que nem todo mundo que foi infectado produziu os anticorpos necessários para barrar futuros contágios da doença e, quando produziram, eles não duraram muito tempo.
Quase seis meses depois do início da pandemia, Wuhan decidiu colocar em prática um programa inédito no mundo para testar toda a população de 11 milhões de habitantes. Até o dia 25 de maio, cerca de 6,8 milhões passaram pelos exames e os resultados iniciais haviam acendido um alerta. Os testes identificaram 206 pessoas com o vírus ativo no organismo. E, mesmo sem sintomas, elas estavam espalhando a doença. E amostras coletadas em março e abril por pesquisadores chineses indicam que só 10% da população havia desenvolvido anticorpos contra o vírus, o que mostra que, sem uma vacina, ficará ainda mais complicado de que todo o mundo desenvolva uma imunidade à doença somente por contraí-la.
Segundo os pesquisadores, os testes de anticorpos podem não ser o suficiente para dizer se alguém foi infectado e, apenas por tê-los, não quer dizer que o indivíduo esteja necessariamente imune. O que joga ainda mais terra em cima da teoria da imunidade de rebanho e até mesmo em terapias de anticorpos para o tratamento da Sars-CoV-2.
Um outro estudo feito pela Universidade de Tsinghua, em Beijing, sugere que, quanto mais anticorpos os pacientes de coronavírus produzem, piores os resultados — de acordo com eles, quem tinha o anticorpo mais forte, acabou morrendo.
Outros cientistas, no entanto, pedem cautela e sugerem que o estudo não seja levado a ferro e fogo. O estudo foi publicado no site medrxiv.org.
Até o momento, os anticorpos se mostraram uma boa opção por sua capacidade de neutralizar a habilidade do vírus de infectar as células do corpo humano. Depois de identificados, podem ser produzidos em massa — uma abordagem que já foi adotada com sucesso em outros casos, como para tratar o vírus do ebola.
Mais de 130 vacinas estão sendo produzidas contra a covid-19 no momento. Algumas, mesmo em fases mais avançadas que as outras, como é o caso da Coronavac, feita pela chinesa Sinovac, que está entre as fases um e dois de produção. Segundo a agência Bloomberg, mais de 90% das pessoas que receberam doses da vacina produzida pelo laboratório produziram anticorpos contra a covid-19 num intervalo de 14 dias.
Nenhuma terapia ou vacina tem aprovação clínica ou aval da Organização Mundial da Saúde para ser aplicada especificamente a pacientes infectados pelo novo coronavírus.