Ele fez sucesso como expoente do movimento cinematográfico, nos 70, e mais tarde tornou-se um rosto familiar como comentarista nos telejornais da Globo
O cineasta, dramaturgo e jornalista Arnaldo Jabor morreu na madrugada desta terça-feira, 15, aos 81 anos. Ele estava internado desde o dia 17 de dezembro no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após ter sofrido um acidente vascular cerebral (AVC).
Nascido no Rio de Janeiro em 12 de dezembro de 1940, Jabor ficou conhecido inicialmente por seus longa-metragens de sucesso nos cinemas nacionais nos anos 1970 e 80, além da atuação como comentarista na imprensa escrita e, sobretudo, na televisão. Filho de um oficial da Aeronáutica e de uma dona de casa, Jabor viu seu talento florescer como diretor de filmes durante a segunda fase do Cinema Novo, na qual engrossou a leva de cineastas devotados a analisar a realidade do país sob inspiração do neorrealismo italiano e da Nouvelle Vague francesa.
Dentre as produções mais conhecidas do diretor, lembradas por seu teor crítico e irônico, estão o documentário Opinião Pública, de 1967, os longas Toda Nudez Será Castigada, de 1973, e O Casamento, de 1975, ambos adaptados de obras do escritor Nelson Rodrigues. Também marcou época no país o filme Eu Sei Que Vou Te Amar, de 1986, com uma jovem Fernanda Torres no elenco e indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes. Seu último trabalho no cinema, A Suprema Felicidade, foi lançado em 2010.
Nos anos 1970, a trajetória de Jabor foi um caso emblemático da sofrida luta do cinema para sobreviver à censura e à caretice do regime militar. Toda Nudez Será Castigada, por exemplo, foi considerado escandaloso para a família brasileira, sofreu cortes, teve sua exibição atrasada e, depois, as cópias recolhidas por soldados a mando de um certo general da época. Mas, ao ganhar o Urso de Prata no Festival Internacional de Berlim, o filme conseguiu voltar ao circuito de cinema no país — ainda que com mais cortes exigidos pela censura.
A migração do Jabor diretor para o jornalista aconteceu a partir da década de 1990, em decorrência do sucateamento do cinema nacional na época do governo de Fernando Collor de Mello. Com o fim dos financiamentos da estatal Embrafilme, extinta por Collor, trabalhar na imprensa foi uma alternativa para Jabor se manter financeiramente. No final de 1995, ele se tornou colunista do jornal O Globo, e mais tarde passou a fazer parte de grandes programas da Rede Globo como o Jornal Nacional, Jornal da Globo, Bom Dia Brasil, Jornal Hoje, além do Fantástico e da Rádio CBN. Jabor não se restringia apenas a um assunto, comentando acontecimentos da atualidade brasileira com seu estio ácido — o que atraiu críticos e admiradores. Os assuntos iam de cinema e arte, até política, economia e sexualidade. Durante os escândalos dos governos do PT, tornou-se uma voz estridente contra os malfeitos da esquerda no poder.
Além de jornalista e cineasta, Arnaldo Jabor também publicou livros como Pornopolítica, em 2006, Amigos Ouvintes, em 2007 e O Malabarista, em 2014. Ainda este ano, Jabor mantinha uma coluna no Jornal da Globo, onde continuava a tecer comentários sobre diversos temas, mas falava principalmente sobre política – abordando agora, notadamente, os passos erráticos e os arroubos autoritários do governo Bolsonaro. Arnaldo Jabor deixa três filhos: João Pedro, Juliana e Carolina Jabor – esta última, cineasta como o pai.