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MULHERES AO VOLANTE - Motoristas de Uber contam sobre o dia a dia nas ruas de Rio Branco

MULHERES AO VOLANTE - Motoristas de Uber contam sobre o dia a dia nas ruas de Rio Branco

Mulheres ganham espaço entre motoristas de aplicativo no Acre; apesar de casos de assédio, condutoras contam que se sentem bem, e que nesses casos, sabem desconversar o assunto e focar no trabalho; segurança tem sido um dos maiores problemas

O mês de março é lembrado mundialmente com o mês de homenagem às mulheres. Em um mundo tão diversificado, as mulheres sempre se mantêm em posições inteligentes, seja em casa, com os amigos, ou mesmo no local de trabalho, ainda que seja nas ruas, fazendo as corridas de aplicativo.

Em meio às muitas polêmicas sobre qual o lugar das mulheres, momento em que instituições e grupos menores tenta a todo o momento fazer a melhor campanha de respeito às mulheres, ou mostrar quem está mais ao lado “delas”, duas mulheres guerreiras, cheias de sonhos, correm pelas ruas da Capital do Acre em busca do “pão de cada dia”.

Nessas idas e vindas, entre uma pauta e outra, Elaine Santos e Gleina Silva se tornaram personagens curiosas para revelar um pouco das profissionais de pulso firme e sonhos mil que trabalham noite e dia dentro de um carro para sustentar a casa e dar um pouco mais de qualidade de vida à família.

Na década em que a mulher ganha cada vez mais espaço entre as companhias comerciais, a Uber, por exemplo, a empresa de transporte por aplicativo mais famosa do mercado, lançou uma campanha para aumentar o número de motoristas mulheres em atuação.

Na lista do benefício, elas poderão escolher levar apenas mulheres e até terão desconto no aluguel do veículo, se precisar locar um. Oportunidade que, atrelada à boa remuneração após um mês de trabalho, levou Gleina e Elaine às ruas da cidade de Rio Branco, superando desafios e conquistando aprendizado.

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“Eu estava parada, sem trabalho, e resolvi fazer Uber. Dá para sobreviver bem com o que eu ganho aqui, é uma renda boa. O ruim, mas impossível de evitar, é que o carro desgasta muito, e também quando quebra, a gente tem que bancar tudo. Não tem seguro, e a manutenção é do nosso bolso, então tenho que estar preparada para isso”, comenta Gleina.

A motorista, que de tudo um pouco já fez na vida profissional, é daquelas bem positivas e relata que não tem tempo ruim. Levanta às 5 horas todos os dias, e vai para a rua. “A gente toma um banho, coloca uma roupa confortável, e vai para a rua. Esse horário, cedinho, tem muita corrida, então vale à pena. Eu gosto do que faço”, relata.

A amiga dela, aliás, amiga também das redes sociais, comenta que as mulheres tem um grupo fechado no whatsapp, só delas, para conversar sobre as dúvidas que pairam na hora das corridas. É como uma irmandade: uma vai orientando e ajudando a outra. E na hora da necessidade, a união coloca todas no mesmo espaço.

“A gente está sempre de olho em quem vai pegar na corrida. Muitas vezes, as gente sabe que o crime não está estampado no rosto dos outros, mas o que a gente faz? Vai até o local, e se achamos que é arriscado, se não nos sentimos seguras, a gente cancela a viagem, e o cliente pega outro carro, outro motorista”, comenta Elaine.

Em tempos onde o machismo ainda se faz presente na sociedade –às suas devidas proporções, claro-, a motorista diz que nunca sofreu abusos ou preconceito por ser mulher e estar no comando do veículo. Contudo, destaca: “se isso acontecer, finjo que nada aconteceu comigo, ignoro, desconverso, e sigo meu trabalho”, afirma Elaine.

Com sorriso no rosto, a motorista de aplicativo estava acompanhada do marido. Ele mesmo comentou à reportagem, sem gravar entrevista, que fica preocupado, mas que a esposa está sempre em contato, mantendo-o informado em caso de necessidade. “Nesse tempo todo, por exemplo, nunca passei por algo ruim a esse ponto”, diz.

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Gleina destaca que as mulheres se sentem seguras ao entrar no veículo dela e a ver como motorista. “Tem muita gente que entra, mulheres que gostam de andar com mulher, e já comemoram. ‘Nossa! Outra mulher, que bacana. Eu prefiro mulher, me sinto segura’, é o que elas dizem, sempre nesse tom”, destaca

No Brasil, a Uber tem mais de 600 mil motoristas. No Acre o número também é considerável. Segundo levantamento do Notícias da Hora, são mais de 3 mil autônomos em busca de um dinheiro extra ou de fazer uma boa renda trabalhando em horários desejáveis e com flexibilidade.

Apenas 6% desses 600.000 motoristas da Uber no Brasil são mulheres. Claudia Woods, diretora-executiva da Uber no Brasil, afirmou que a empresa está traçando estratégias para aumentar esse número e facilitar a autonomia e empreendedorismo das mulheres que desejam dirigir com a Uber.

No final do ano passado a empresa lançou a ferramenta batizada de “U-Elas” que, por ora, funciona como piloto nas cidades de Campinas (SP), Curitiba (PR) e Fortaleza (CE). É possível que chegue ao Acre, mas ainda não há data para isso. Quando desejar, a motorista poderá ativar um botão em seu aplicativo que aceitará somente passageiras mulheres.

Como explicou a executiva, em entrevista à Revista Exame, o filtro poderá ser desativado a qualquer momento, com a motorista voltando a levar passageiros homens. É, na verdade, uma forma de a mulher trabalhar com mais tranquilidade, do jeito que ela gosta, com o público de sua preferência.

“Eu já fui assediada várias vezes, acontece muito. Tanto por homens, como por mulheres. E isso não é só comigo. Em algumas oportunidades, a gente fica bem constrangida, mas estamos ali trabalhando, fazendo nosso papel, e não estamos lá para nada a mais que isso”, revela a motorista Gleina.

Esse tipo de assédio em corridas por aplicativo também ocorre com os passageiros, muitas vezes quando o homem está dirigindo, ou até o contrário. Casos assim tem ganhado repercussão nas redes sociais e até mesmo na imprensa. Em fevereiro, por exemplo, uma menor gravou o assédio do motorista sobre ela.

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Mas além do assédio nas corridas, Gleina e Elaine são unânimes em dizer que a insegurança nas ruas, nos bairros da cidade, são os maiores motivos de prejuízo na hora do trabalho. Elas já não fazem mais corridas durante a noite, temendo serem alvos de bandidos e comporem as estatísticas da polícia.

“Antes eu ganhava bem mais, mas era porque eu rodava a noite toda se fosse preciso. Nesse horário tem muita corrida, principalmente depois de festas e tudo mais. Sò que agora, com essa onda de criminalidade, a gente fica com medo, e prefere acordar mais cedo, rodar durante o dia, mas à noite, ficar em casa”, conta Gleina.

A motorista também destaca que nunca foi alvo de bandidos, mas que prefere se prevenir do que passar por esse tipo de situação. “Em alguns bairros, se a gente entrar, você sabe o possível tipo de corrida que virá de lá à noite, então, para evitar, a gente prefere não trabalhar. É melhor que ser mal avaliado, ou sofrer riscos entre idas e vindas”, completa.

Elaine vai na mesma linha de raciocínio, e diz que já não roda mais porque o marido fica muito preocupado. “Eu preferi não rodar mais. Foi uam opção minha. Como a Gleina, eu levanto de manhã, rodo um período, depois vou para casa, descansar, e aí, sim, eu entro na rotina mais pesada até a noite. Depois paro. Não rodo mais na madrugada”, relata.

Dia Internacional da Mulher

O Dia Internacional da Mulher é lembrado no dia 08 de março. Histórias como a de Elaine e Gleina as tonam personagens como outras milhares de mulheres que trabalham nas cidades brasileiras em busca de dar melhores oportunidades para os filhos, para a família.

Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, o chamado Dia Internacional da Mulher é comemorado desde o início do século 20. Hoje, a data é cada vez mais lembrada como um dia para reivindicar igualdade de gênero e com protestos ao redor do mundo, incluindo pautas como a criminalização do aborto e a violência contra a mulher.