Amor, cuidado, atenção, carinho e muito TNT. Tudo isso foi usado pela mãe da técnica de laboratório Marinês de França Carneiro, de 43 anos, para criar uma "armadura" contra a Covid-19. Marinês trabalha na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Conjunto Habitacional Cidade do Povo, em Rio Branco, e atende diariamente pessoas com sintomas da doença.
Para tentar minimizar a exposição da filha ao coronavírus, mesmo ela usando os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) dados pela Saúde, a aposentada Maria de França, de 66 anos, criou uma roupa que cobre todo corpo e rosto de Marinês. Os looks viralizaram na internet pela forma, estampas, cores e criatividade da aposentada.
“Aquela roupa saiu devido ao medo e pavor que ela tem desse vírus chegar até mim. Então, fez essa roupa para eu vestir porque, segundo ela, o medo que eu passe a mão no rosto é constante. Desse jeito não vou passar a mão no rosto”, conta a profissional.
Marinês falou que a costureira criou seis modelos para o uso. Dois deles têm capuz, que cobre todo o rosto deixando só os olhos de fora.
“Disse que ia fazer com o capuz e eu disse: ‘faça, mãe’. Sempre fui uma pessoa que gostei de coisas que outras pessoas não gostam, têm vergonha, mas eu não me importo, estando protegida é o que vale”, diz.
Proteção de mãe
Em entrevista à Rede Amazônica Acre, a costureira Maria de França explicou como teve a ideia criar o jaleco e reforçar a segurança da filha. Quando mostrou as produções, a aposentada disse que a Marinês ficou sem acreditar.
“Como a gente vive muito nervosa por conta do vírus e ela ali está na linha de frente, colhe sangue, então me preocupei. Disse que ia fazer uma roupa para ela e disse: ‘então tá’. Trouxe o pano, falei que queria um meio grosso e trouxe esse TNT do grosso. Fiz e, quando ela chegou, riu muito e questionou se ia aguentar. Falei que sim, que, abaixo de Deus, aquilo vai proteger”, recordou.
Costureira de mão cheia e mãe atenciosa, a aposentada contou que produz máscaras. Ela e o marido são do grupo de risco, precisam ficar em casa, mas, já que a filha tem que sair para trabalhar que seja bem protegida.
“Sabemos que não protege 100%, mas protege um pouco. Me preocupo muito porque sou eu e o pai dela e ela que cuida da gente. Nos leva para consultar e para tudo. Vai que chega a adoecer, o que vai ser de nós? Perguntou onde tinha arranjado a ideia e disse que Deus deu a ideia para vestir e proteger”, destacou.
Cuidado e diversão
O look de Marinês não passou despercebido na unidade de saúde. Funcionários e pacientes se divertiram com a ‘armadura’ usada pela técnica. A farmacêutica Gabriela Curty afirmou que a colega de trabalho tem levado numa boa toda repercussão dos figurinos, inclusive na internet.
“Temos nossos EPIs que a Sesacre fornece, porém, como a mãe dela é costureira e resolveu personalizar, quando chegou aqui foi muito legal para todo mundo. É uma forma de se proteger e ficar bem diferente. Trazer um pouco de diversão para esse meio que está tão difícil”, revelou.
É com muito carisma e alegria que a Marinês vê toda atenção dada para a situação. Ela falou que sempre gostou muito de cores, estampas e roupas coloridas, então, usar os uniformes criados pela mãe não é nenhum problema.
“No primeiro dia foi muito divertido, tirou a tensão que está muito grande. Usamos a brincadeira para ficar mais leve, porque não está fácil. Adotei dois por dia. Tiro ele, coloco dentro de um saco, chego em casa e deixo de molho na água com desinfetante e sabão. Lavo e coloco no sol. No outro dia, uso outro. Assim, como o material é bom, dá para usar um mês, mas, a partir daí, tem que ser outro”, ressaltou.
O figurino de maior sucesso, segundo a técnica, foi um vermelho com estampas em preto e branco. O look conta ainda com um capuz todo vermelho. Ela diz que usa o capuz quando sabe que vai ter um fluxo maior de pacientes.
“O azul e vermelho têm capuz e deu uma repercussão muito grande. Sempre gostei de bolinhas, cores alegres, rosa. É bem bacana com os colegas, nunca mais tinha rido tanto como ri hoje. A gente sente falta, vivemos com uma dinamite a todo tempo prestes a explodir em nosso colo e é terrível viver assim”, complementou.
Marinês explicou que o desejo da mãe é de que ela se afastasse do trabalho porque sofre de obesidade e pertence ao grupo de risco da doença, mas ela preferiu permanecer no trabalho para ajudar nesse momento de dificuldades e insegurança.
“Disse que se tiver que pegar vai ser aqui [no hospital], em casa, no mercado ou qualquer lugar que eu for. Eu amo o que faço, amo ajudar, quem me conhece sabe, e não ia ficar em paz em casa enquanto as pessoas necessitam. Na Cidade do Povo somos muito necessitados de profissionais. Necessita de alguém para ajudar, que seja quem ama a saúde porque se não amar atrapalha”, finalizou.