As primeiras 120 mil doses da CoronaVac, vacina contra a covid-19, chegaram nesta manhã ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Anteontem, em entrevista a uma rádio de Pernambuco, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), confirmou que o Instituto Butantan receberia hoje o primeiro lote da vacina, produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, um dia antes do prazo previsto.
O avião da Turkish Cargo com o imunizante a bordo pousou no aeroporto por volta das 7h35. A carga chegou em sete contêineres refrigerados. O governador esteve no local acompanhado do diretor do Butantan, Dimas Covas, e do secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn. "É um marco muito importante diante de uma pandemia que já levou a vida de mais de 166 mil brasileiros. Nós temos agora a chegada da vacina que, mediante autorização final da Anvisa, vai ajudar a salvar vidas", disse Doria em vídeo publicado nas redes sociais.
As vacinas que chegarão até o final de dezembro fazem parte das 46 milhões de doses compradas pelo governo de São Paulo. As primeiras 6 milhões de doses chegam prontas da China e ficarão armazenadas sob responsabilidade do Butantan. Por questões de segurança, o estado não informa onde as unidades serão armazenadas. O Butantan também importará insumos da China para a formulação e envase da vacina em suas instalações e iniciou obras em uma fábrica para, futuramente, realizar a produção integral do imunizante.
Fase 3
A CoronaVac está em fase 3, a última antes do pedido de registro junto a autoridades regulatórias, no Brasil. De acordo com Dimas Covas, é necessário que 61 voluntários do estudo clínico que conta com mais de 10 mil participantes sejam infectados pela covid-19 para que se possa fazer uma primeira análise do grau de eficácia da vacina. Não é possível prever quando isso irá acontecer, mas de acordo com o diretor do Butantan isso pode ocorrer "a qualquer momento".
Em 9 de novembro, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informou ter determinado a interrupção do estudo clínico da vacina após o registro de um "evento adverso grave", a morte de um voluntário que testava o imunizante. Dois dias depois, no entanto, a agência deu aval para a retomada dos testes. Autoridades de saúde do governo paulista afirmam que não há relação entre o óbito e a vacina. Segundo apurou o UOL, laudos do IML (Instituto Médico Legal) e do IC (Instituto de Criminalística) apontam que o voluntário morreu por consequência de uma intoxicação por agentes químicos. Foi verificada a presença de opioides, sedativos e álcool no sangue da vítima.
Vacina induz resposta imune em 97% dos casos
Dados preliminares dos testes clínicos divulgados nesta semana mostram que a CoronaVac foi capaz de induzir uma rápida resposta imune, mas o nível de anticorpos produzidos foi menor do que o visto em pessoas que se recuperaram da covid-19. As descobertas da Sinovac, publicadas em artigo revisado por outros cientistas na revista científica The Lancet, se referem aos estudos das fases 1 e 2 realizadas na China. Segundo a publicação, a CoronaVac é segura e tem capacidade de produzir resposta imune no organismo 28 dias após sua aplicação em 97% dos casos.
A análise da eficácia da vacina, entretanto, só será possível com os dados da fase 3 do estudo, que está em andamento, além do Brasil, na Indonésia e na Turquia.
Bolsonaro desautorizou acordo No mês passado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que o governo brasileiro não compraria doses da CoronaVac. O presidente e o governador paulista, principal fiador do imunizante no Brasil, são adversários políticos e vistos como prováveis candidatos às eleições presidenciais em 2022. A declaração do presidente desautorizou anúncio do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que em reunião com governadores informou que o governo compraria 46 milhões de doses do imunizante. Na semana passada, no entanto, o presidente recuou e disse que comprará lotes da CoronaVac caso a vacina seja aprovada pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa.