A produção cinematográfica Nokun Txai, que mostra um pouco da riqueza e da diversidade cultural das populações indígenas acreanas, poderá ser assistida numa das maiores exibidoras streaming de filme do mundo, a Prime Video. A veiculação da série pela plataforma da Amazon é vista como um reconhecimento aos povos tradicionais da Amazônia num dos momentos maiores ofensivas de retirada de seus direitos, e da elevada vulnerabilidade a que estão expostos na pandemia do novo coronavírus.
São 13 episódios de 26 minutos cada, retratando o modo de vida tradicional e contemporâneo dos povos indígenas, incluindo as mobilizações pela não retirada de direitos em movimentos pelo Brasil e o exterior. Entre os episódios há o com o povo Puyanawa, de Mâncio Lima, cujo o patriarca, Mário Puyanawa, morreu vítima da Covid-19.
O filme retrata como os Puyanawa tentam recuperar seu modo de vida e espiritualidade ancestral após décadas de escravização e imposição da “cultura ocidental” nos seringais amazônicos.
O episódio tem como pano de fundo a realização de uma das principais festas Puyanawa, o Festival Atsa, que é a recuperação do consumo da caiçuma - a bebida fermentada da macaxeira. O processo de produção da Nokun Txai teve a participação direta dos protagonistas. O episódio Beiradão, por exemplo, contou com a co-direção do cineasta Huni Kuin Zezinho Yube.
Nele é retratado como parte dos indígenas de Tarauacá passa por uma escravização dos tempos modernos, ao ter seus cartões para saques dos benefícios sociais - como o Bolsa Família - retidos por alguns comerciantes da cidade, que são chamados por eles de “patrões”, remetendo aos tempos das relações servis dos seringais no século passado.
“Junto com os indígenas pensamos quais eram os temas mais relevantes para tratarmos. A ideia era fazer uma série que não partisse do exotismo, só do ritual, mas também que pudéssemos fazer um recorte da cultura indígena a partir do contemporâneo, do encontro de universos”, explica o diretor da Nokun Txai, Sérgio de Carvalho. Os produtores também buscaram orientações com os principais indigenistas do Acre, entre eles Terri Aquino e Francisco Meireles.
“Essa exibição pela Amazon é importante porque é um filme acreano, uma produção amazônica. É uma afirmação de uma produção amazônica. E neste momento de perda de direitos, com a ampliação dessa visão conservadora e discriminatória contra os povos indígenas, é oportuno mostrar essa valorização dos povos amazônicos”, diz Carvalho.
Ao todo foram dois anos (2016-17) de produção da série, que foi financiada com recursos da Agência Nacional do Cinema (Ancine), desmontada pelo atual governo federal. Seu lançamento ocorreu em exibição nas emissoras públicas de TV do país entre 2018 e 2019. Agora, também estará disponível no sistema streaming para os assinantes da Amazon no Brasil. Ainda não se tem a data precisa da estreia, podendo ocorrer a qualquer momento.