De 21 a 28 de agosto, o Brasil celebra a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, que em 2025 tem como tema “Deficiência não define. Oportunidade transforma”. A proposta é promover conscientização, combater o preconceito e reforçar a importância da inclusão efetiva, com foco em políticas públicas que garantam oportunidades e direitos.
Em Rio Branco, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) vive esse momento como uma vitrine de histórias reais de superação e protagonismo. Entre elas, a da aluna Micaele dos Santos Oliveira, de 30 anos, que chegou à entidade em 2011, aos 16 anos, e transformou desafios em conquistas.
Após concluir o ensino médio aos 20 anos, Micaele ingressou na faculdade de Educação Física pela Uninorte, graduando-se em janeiro de 2018. Atualmente, cursa Letras-Libras na Universidade Federal do Acre (Ufac) e já possui Carteira Nacional de Habilitação para carro, conquistada em 2023.
Sua rotina é intensa: de segunda a sexta-feira, frequenta aulas na Ufac e, às terças-feiras, participa das atividades na Apae. “Desde junho, saio de casa às 5h30 para a universidade e fico até o meio-dia. Só venho à Apae na terça. É corrido, mas é gratificante”, conta.
Liderança e voluntariado
A história de Micaele na Apae também é marcada pelo engajamento. Ela foi autodefensora por oito anos, atuou como voluntária de Educação Física em 2018 e participou das Olimpíadas da Apae, em Canoas (RS). Hoje, ocupa o cargo de primeira diretora-secretária da instituição, função atribuída a ela desde de 2024.
“A Semana Nacional não é só para comemorar, mas para lutar pelo que ainda não funciona como deveria. Muitas vezes, temos leis no papel, mas falta a prática. Este ano, com o tema ‘Deficiência não define. Oportunidade transforma’, queremos reforçar que somos protagonistas da nossa história”, afirma.
Barreiras visíveis e invisíveis
Para Micaele, ainda existe muito preconceito e falta de compreensão sobre as necessidades das pessoas com deficiência. “Muitas vezes as pessoas veem, mas não enxergam. Dizem que um prédio é acessível, mas a rampa não segue a lei. Na prática, esperam que a gente se adapte à sociedade, e não o contrário”, critica.
A mensagem que deixa é direta: “Não desistam de vocês. A luta é diária, mas é preciso ser corajoso, meter a cara e seguir. Nada sobre nós sem nós.”
Orgulho de mãe
Ao lado da filha desde o início da trajetória na Apae, Maria Aparecida dos Santos, de 60 anos, se emociona ao falar de Micaele. “Ela é inteligente, obediente e batalhadora. Quando quer algo, vai até o fim. Ajuda vizinhos, orienta sobre saúde, nunca diz ‘não’ para quem precisa. É um orgulho para toda a família.”
A Semana Nacional reforça que inclusão vai muito além do discurso. Histórias como a de Micaele mostram que, com oportunidade, determinação e apoio, as pessoas com deficiência intelectual e múltipla não apenas conquistam espaço, mas transformam a realidade ao seu redor.