Imagine você chegando a um hospital para buscar tratamento de saúde ou morando perto de uma unidade de saúde do estado e descobrindo que está recebendo doses frequentes de radiação há anos ou meses. O questionamento acima surgiu após visita técnica realizada pelo Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) aos hospitais de Feijó e Sena Madureira, onde as salas improvisadas possuem aparelhos de Raio-X em pleno funcionamento, mas sem o devido isolamento e contenção da radiação.
A situação é considerada gravíssima pela Diretoria do Sindmed-AC, e um documento foi encaminhado para o Ministério Público Estadual, Conselho Regional de Medicina e Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre). Como o caso é considerado grave, a denúncia será enviada também para a Comissão Nacional de Energia Nuclear.
Durante a verificação, os representantes sindicais suspeitam que até mesmo o prédio do Ministério Público Estadual de Sena Madureira pode estar recebendo radiação secundária proveniente do aparelho de Raio-X, uma vez que está próximo ao pronto-socorro improvisado, expondo todos os trabalhadores desse espaço.
“Essa é uma situação gravíssima que deve ser investigada pelas autoridades competentes na área, por isso pediremos ajuda à Comissão Nacional de Energia Nuclear”, detalhou Rodrigo Prado, vice-presidente do Sindmed-AC.
O grande temor surgiu após alertas feitos pelos trabalhadores, que denunciaram a falta de barita nas paredes e a ausência de uma porta adequada no espaço. Assim, o risco é de uma contaminação silenciosa, causando danos irreparáveis à saúde das pessoas.
Em Sena Madureira, o aparelho de Raio-X está apontado para uma parede que dá para o lado da rua. Isso significa que os vizinhos da frente da unidade podem estar recebendo doses diárias de radiação primária, enquanto a radiação secundária, de menor intensidade, se espalha ao redor e, mesmo sendo menos potente, acaba sendo perigosa devido à frequência.
Em Feijó, o equipamento está no almoxarifado, apontado para a frente provisória do hospital. Assim, pacientes, acompanhantes e, principalmente, os servidores podem estar recebendo rajadas de radiação primária, enquanto o material disponibilizado dentro da sala acaba contaminado com a radiação secundária.
“O caso de Sena Madureira já foi discutido pelo Sindicato em reuniões com autoridades realizadas na Sesacre. Existem até denúncias anteriores, quando uma situação semelhante ocorreu no antigo pronto-socorro. A situação está se agravando e trazendo riscos para a população”, explicou Rodrigo Prado.
Denúncias também apontam que a unidade de Manoel Urbano enfrenta situação semelhante, o que levanta um alerta sobre a eficiência do isolamento em todas as unidades do estado.
O objetivo da denúncia é evitar algo semelhante à catástrofe ocorrida em 1987, em Goiânia, quando a exposição ao Césio-137 (137Cs) resultou na morte de pessoas. Na época, indivíduos acabaram violando uma máquina abandonada em uma unidade de saúde, levando o material radiológico para casa por acreditar que era um objeto de valor.