Um artigo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do pesquisador Rodolfo Jacarandá, aponta que a BR-364 tem sido usada frequentemente para o transporte de cocaína para outras regiões do Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro.
No artigo ‘A Cocaína na Amazônia: o tráfico de drogas e a redistribuição das redes criminais no sudoeste Amazônico’, ele aponta que a cocaína que vem da Bolívia, por exemplo, não acessa capitais como Manaus, no Amazonas, e Belém, no Pará, por via fluvial, um modal de transporte mais lento, mas sim por via terrestre, pela BR-364, acessando BR-319 e a BR-230.
“Em 2019, o Atlas da Violência voltou ao tema das “novas rotas” de transporte de cocaína na região, e afirmou que mercadorias provenientes da Bolívia e do Peru chegavam “principalmente, ao Acre”, de onde eram transportadas para outras regiões do país, “na rota do rio Solimões” (Ipea, 2019, p. 8). Porém, o rio Solimões está bem distante do Acre e alcançá-lo exige muito tempo de navegação a partir dos rios Juruá (a partir de Cruzeiro do Sul, no Acre, por exemplo) ou Purus (cuja cidade de maior porte mais próxima é Sena Madureira, também no Acre). Em contrapartida, de Cruzeiro do Sul a Rio Branco no Acre, e de lá para Porto Velho, em Rondônia, a BR-364 permite acesso direto tanto para o sul quanto para a BR-319 e a BR-230, as quais interligam o oeste ao leste amazônico e ao nordeste do país. Esse parece ser o grande diferencial com relação ao tráfico de cocaína na Amazônia brasileira, em 2022: o uso ainda mais intenso e frequente das estradas locais de Rondônia e Acre, com o objetivo de acessar as rodovias federais que conectam o sudoeste amazônico ao restante do país”, revela o pesquisador.
E acrescenta: “de toda sorte, feita a travessia a droga é transportada majoritariamente pelas estradas. Diferentemente do que ocorre no Amazonas, a malha viária Acre-Rondônia-Mato Grosso oferece a infraestrutura necessária para o rápido escoamento de cocaína”.
Para se ter uma ideia do volume de cocaína aprendida, de junho de 1995 a 2021, foram apreendidos 128.408,40 quilos. O dado faz parte da série histórica elaborada pela Polícia Federal. Todo esse volume de entorpecentes foi apreendido na BR-364 nos estados do Acre, Rondônia e Mato Grosso. A quantidade é superior ao que foi apreendido, no mesmo período, no Amazonas e Pará, que utiliza a rota do Solimões. Foram 60.594,62 quilos.
“Considerando os valores totais de apreensões em quilos, e assumindo que a PRF apreende a maior parte do total de cocaína contabilizada pela PF no Acre, em Rondônia e no Mato Grosso, as estradas parecem ser o elemento-chave para melhor compreensão do uso das rotas de transporte na Amazônia. Embora os rios sejam vias de fácil acesso e pouco fiscalizadas, as estradas permitem maior agilidade, encurtam o tempo do transporte e dão acesso a uma infinidade de vias de fuga e esconderijos, por estradas menores (as chamadas linhas) ou mesmo trilhas mais fechadas”, afirma Jacarandá.