O estudo, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Dinâmicas da Violência no Território Brasileiro: Acre 1, que faz parte da publicação Dinâmica da Violência e da Criminalidade na Região do Brasil, dedicou um trecho a analisar a atuação do ex-deputado federal e ex-coronel da Polícia Militar do Acre, Hildebrando Pascoal, no comando daquilo que ficou conhecido nacionalmente como o “Esquadrão da Morte”.
O ‘crime da motosserra’, que teve como vítima Agilson Santos Firmino, de 34 anos, também é citado. Ele teve os membros cortados por uma motosserra pelo grupo de Hildebrando por vingança, devido a uma suposta participação de Agilson no assassinato do irmão de Hildebrando, Itamar Pascoal.
Veja o trecho na íntegra
“Outra figura relevante é Hildebrando Pascoal. Em simbologia antagônica à de Chico Mendes, Hildebrando Pascoal Nogueira Neto era, na década de 1980, comandante da Polícia Militar do Acre, ao mesmo tempo que comandava um criminoso grupo político local, como revelado por investigações (Possas e Rocha, 2014, p. 252). Exercendo forte influência na sociedade acreana e com enorme poder sobre as instituições públicas, Pascoal alcançou, em 1998, o cargo de deputado federal. Contudo, em menos de um ano, teve seu mandato cassado, por crimes de grande repercussão nacional e internacional, tamanha sua crueldade e dimensão. Um dos casos mais emblemáticos foi o célebre “crime da motosserra”, ocorrido em 1996, quando Agilson Santos Firmino, de 34 anos, foi esquartejado com uma motosserra pelo grupo de Hildebrando por vingança, devido a uma suposta participação de Agilson no assassinato do irmão de Hildebrando, Itamar Pascoal. Para Possas e Rocha (2014), Hildebrando Pascoal se valia de sua posição de oficial da Polícia Militar para tomar decisões arbitrárias e ilícitas, por intermédio de instituições estatais, para defender seus interesses privados.
Em certa medida, Hildebrando simbolizava um modo singular de imposição da lei aos cidadãos, pelas instituições locais. Eleito deputado federal, mesmo tendo cometido crimes extremamente violentos, Pascoal era simultaneamente respeitado e temido pela população acreana, o que Maquiavel vê como essencial para um bom governante prosperar. Foi preciso que ele alcançasse a esfera federal e tivesse destaque na mídia nacional para que fosse finalmente submetido às sanções previstas pelo direito penal, as quais nunca lhe tinham sido, até então, aplicadas.
Assim, percebe-se que a história do Acre é, sob certa ótica, alegoricamente marcada por figuras que operam em esferas distintas e demonstram diferentes forças de atuação. De um lado, a esfera ambiental, os crimes inerentes a ela e as lutas traçadas como forma de resistência. De outro, os crimes urbanos e de pistolagem, por vezes extremamente violentos, que acometem a sociedade acreana e que, mesmo com características de vingança privada, possuem algum tipo de participação institucional do estado. A partir dessa simbologia, podemos traçar considerações mais aprofundadas acerca dos principais conflitos e atividades relacionadas no Acre”.