A sensação de insegurança e medo em que vive a população da periferia de Rio Branco com a ação das facções criminosas chegou ao meio empresarial. Um empresário que possui uma empresa em Rio Branco e gera entre 20 e 30 empregos denunciou nesta quinta-feira (11) que teve que fugir do Acre após receber ameaças de morte de supostos membros facção criminosa.
Segundo ele, o motivo seria uma suposta dívida de R$ 200 mil que o empresário teria com um ex-sócio, que "terceirizou" a cobrança para uma facção criminosa que atual em Rio Branco.
O empresário, que não quis se identificar por medo de morrer, contou à reportagem que passou por dias de terror antes de deixar a Capital do Acre, e que teve que contratar segurança particular antes de deixar o Estado. Ele disse ainda que não pretende voltar enquanto não puder viver com segurança com sua família.
Ele relata que o problema começou quando abriu uma empresa com um ex-sócio, que teria "dado muito trabalho e trazido problemas para o negócio no início".
Foi então que decidiu encerrar a sociedade, mas nesse intervalo de tempo o "ex-sócio adoeceu e teve que sair do Acre para fazer tratamento fora".
“Ele foi até o escritório conversar comigo, pediu para eu segurar um repasse que eu fazia para ele mensalmente até ele voltar de viagem. E quando ele voltasse esse laço seria encerrado. Só que quando ele voltou ele não me procurou, ele já foi direto atrás da Justiça, acionou na delegacia me denunciando por estelionato e lá na delegacia não deu continuidade, até porque não existiu estelionato. E daí ele foi até a facção e falou que eu estava devendo para ele R$ 200 mil e mandou a facção cobrar e a facção foi até minha casa. Me ameaçou lá, querendo receber esse dinheiro que eu estava devendo, sendo que não devo dinheiro nenhum”, contou.
O empresário cedeu à reportagem imagens do circuito interno de segurança de sua casa, localizada no bairro Santa Inês, onde dois homens em um carro modelo Fiat foram até sua residência tentar falar com ele e cobrar a dívida.
Um dos vídeos tem a data de 15 de dezembro de 2023, por volta das 20h37. Os homens tentam falar com o empresário e deixam um recado através de um bilhete para que ele entrasse em contato.
Já no segundo vídeo, no dia seguinte, por volta das 16h50, eles retornam e tentam mais uma vez contato com o empresário, sem sucesso.
Os faccionados, segundo ele, enviaram uma mensagem via WhatsApp onde continha a seguinte mensagem: “Eu tô querendo resolver isso na tranquilidade com você, mas parece que você não tá querendo não, só quero o meu dinheiro e não tem mais nada a ver com o cara lá, eu já investiguei sua vida toda, a minha rapaziada tá pronta pra fazer o que eu quero, e você sabe que não são poucos… você tá de boa no seu trabalho na sua casa com a sua família e eu não tô deixando ninguém mexer aí, eu sei que você tem como pagar isso aí eu quero ver a iniciativa do teu lado até parcelado eu tô aceitando, depois que me pagar você pode seguir teu caminho, eu sou um cara que cumpro com o que eu falo, e não quero saber de justiça não, essa dívida é minha e pronto, eu não quero saber do teu sócio, não quero saber de advogado, só quero saber do meu dinheiro, agora se você quiser me denunciar pode ir lá!! Aí nós ver quem vai sair perdendo, do jeito que você tem conhecimento lá eu tenho mais ainda, fica só ao teu critério!! Vou te dar até segunda-feira pra você se posicionar referente a isso, então tá nas tuas mãos a forma que você quer resolver, eu mandei te procurar em uma boa!! Só te digo uma coisa você não tá falando com nenhum menino não!! Se até segunda você não me procurar, pode contratar o segurança que você quiser que eu vou te mostrar quem sou eu.”
Após diversas ameaças, foi aí que o empresário decidiu sair do Estado temendo por sua vida e buscou a delegacia da Cidade do Povo para denunciar o caso.
De acordo com ele, o grupo criminoso, por não encontrá-lo, tentou atear fogo em sua empresa arremessando coquetéis molotov por cima do muro.
Segundo a vítima, nesta quinta-feira (10), faz um mês que foi feita uma denúncia e nenhuma providência foi tomada pelas autoridades de Segurança Pública para resguardar sua vida e de sua família.
Um membro da Segurança Pública do Estado informou que essa prática está ficando cada vez mais preocupante em Rio Branco. Agiotas estão oferecendo porcentagem dos valores das cobranças a membros de facção criminosa para receberem dívidas.
“Conheço empresários que já fecharam os seu negócio por não ter como pagar os criminosos para continuar trabalhando”, finalizou vítima, que hoje vive escondido em outro estado temendo por sua vida e de sua família.
Imagens do circuito interno da empresa mostram a tentativa do grupo criminoso na noite da última terça-feira, 9, por volta das 21h05. Veja vídeo: