Um estudo, coordenado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado esta semana mostra que as forças de segurança estaduais têm dificuldade para combater o crime organizado que atua no Acre, embora o Estado tenha criado o Gefron (Grupamento Especial de Operações de Fronteiras). Diante dessa deficiência, os pesquisadores apontam para a necessidade de ações integradas com órgãos federais, como as polícias Federal e Rodoviária Federal, Ministério Público Federal (MPF) e Justiça Federal.
“As forças de segurança estaduais, por seu turno, parecem encontrar dificuldades na coibição destes crimes, ainda que disponham de órgãos de controle de fronteiras. O estado apresenta, assim, desafios que exigem uma atuação integrada com as forças federais, tendo em vista uma efetiva mudança do seu atual cenário violento’, afirma o artigo Dinâmicas da Violência no Território Brasileiro: Acre 1, que faz parte da publicação Dinâmica da Violência e da Criminalidade na Região do Brasil.
A pesquisa destaca também a atuação de grupos criminosos no território acreano vindos do Sudeste do Brasil, como o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. Há também a presença da facção acreana Bonde dos 13 e Ifara (Irmandade Força Ativa Responsabilidade Acreana). Todos buscam dominar as rotas de tráfico de cocaína e de armas vindos do Peru e da Bolívia, gerando violência nas cidades acreanas.
“Esses grupos impactam diretamente a violência da região, em decorrência de seus conflitos por território e controle das rotas fronteiriças. Para um promotor entrevistado pela pesquisa, as altas taxas de roubos e furtos de veículos no estado devem-se ao fato de que “a maioria desses veículos é desviada para países vizinhos, onde é trocada pela cocaína”, destacam os pesquisadores do Ipea.
E acrescentam: “Outro indicador que mostra o potencial de alteração das dinâmicas locais ligadas ao tráfico é o de homicídios. No início de 2020, ocorreram trinta homicídios em apenas dezoito dias, na capital do estado, Rio Branco (Adorno, 2020). Essas mortes foram, em sua maioria, execuções, esquartejamentos e chacinas, práticas comuns nas disputas entre grupos criminosos”.
Conforme mostra o estudo, outros crimes também aparecem no cenário acreano, como: desmatamento ilegal, grilagem de terras, exploração ilegal de madeiras e conflitos fundiários.
“De acordo com o relatório de 2020 da CPT, o Acre registrou 1.201 invasões de terras, ficando atrás apenas de Roraima (19.662), Pará (19.638) e Amazonas (8.143). O relatório mostra ainda que o estado teve 59 conflitos por terra em 2020. De acordo com dados disponibilizados pelo MPAC,14 houve três homicídios dolosos decorrentes de disputa por terra naquele ano, representando 1,1% do total de homicídios dolosos no estado. As disputas por terra nem sempre resultam na morte dos envolvidos, mas implicam dinâmicas complexas”.