Ausência de sinal de rádios transmissores havia sido comunicado ao IAPEN cinco dias antes da fuga, mas as providências não foram adotadas, diz o documento
Um relatório emitido pelo Sistema de Monitoração Penitenciário revela que falhas no sistema de câmeras e sinais nos radiotransmissores foram as causas apontadas pela equipe que estava de plantão no último dia 20 de janeiro, dia em que ocorreu uma fuga em massa. Pelo menos 26 detentos, ligados ao PCC, do presídio Francisco D’Oliveira Conde, em Rio Branco, deixaram o presídio.
De acordo com o relatório, havia na sala de videomonitoramento, no momento da fuga, por volta das 3h31 da madrugada, apenas um policial penitenciário. No documento é especificado que o profissional identificou uma movimentação estranha próximo ao antigo presídio feminino. De posse de um rádio comunicador HT Digital buscou fazer contato com outro profissional que estava na muralha, mas sem sucesso.
“De imediato tentamos fazer contato via RÁDIO COMUNICADOR HT DIGITAL com a muralha, porém os mesmos não copiavam”. Aqui abre se um parêntese para enfatizar que era “único posto de serviço que temos comunicação”, o que revela ser humanamente impossível o deslocamento do policial para avisar outros agentes sem que os presos conseguissem fugir.
Ainda no texto assinado pelo gerente de Segurança, Ronaldo de Melo Pereira, ele frisa que o problema já foi comunicado à direção do IAPEN antes do ocorrido, porém nenhuma providência foi tomada nesse sentido. O gerente cita o mesmo sinistro em relatório diário de nº 15, comunicado 44 de 15 de janeiro de 2020, ou seja, cinco dias antes da fuga em massa. Segundo ele, a causa teria sido os bloqueadores de sinal de celular.
A fala do policial penitenciário citado no documento é reveladora. A.R.L cita que a câmera que fica em cima da muralha, que gerou as imagens dos presos escalando o muro, não fazia parte do mosaico de câmeras dispostas no painel. São 168 câmeras. Apenas um agente.
“Todas as imagens das 168 câmeras são distribuídas em 06 TVs, não sendo possível a visualização de todas ao mesmo tempo, pois as imagens ficam expostas na tela em forma de mosaicos, nas quais são divididas até 9 imagens em cada uma, podendo alcançar até 54 imagens no total”, diz o relatório.
E acrescenta: “Desse modo, não se atinge nem um terço das câmeras disponíveis para visualização” e pondera: “há a possibilidade de aumentar o número de imagens no mosaico das telas, todavia perde a eficiência na visualização”.
O relatório acentua ainda que há pouco mais de um mês apenas o sistema de monitoramento passou a funcionar 24 horas, que ainda está em fase de testes. Ou seja, pode sim, apresentar problemas de natureza técnica.
Em outro trecho o gerente de segurança faz um adendo. Diz que até hoje o IAPEN não editou portaria regulamentando o sistema de monitoramento no Francisco D’Oliveira Conde. Nesse sentido, não há uma equipe destinada integralmente ao videomonitoramento.
“Ressalte-se que em meio a tantas possíveis atribuições a este setor, é possível o acompanhamento de algumas por vez, não é possível realizar todas ao mesmo tempo devido ao número de televisores e efetivo de policiais penais de serviço. Destacando-se ainda que, por vezes, as configurações das câmeras são alteradas, em virtude de constantes quedas de energias”, ressalta Ronaldo de Melo Pereira.