A mãe da cantora Nayara Vilela, Vanusa Vilela, prestou depoimento na audiência de instrução realizada nesta quinta-feira, 8, marcado por forte emoção. A pedido da testemunha, o depoimento foi prestado sem a presença do réu na sala, conforme autorizado pelo juiz Alesson Braz, responsável pelo caso.
O empresário Tarcísio Araújo, viúvo da artista, é acusado de induzir o suicídio da esposa, podendo ser levado a júri popular.
Durante o depoimento, Vanusa afirmou que, apesar do que ocorreu, não considera Tarcísio seu inimigo. Segundo ela, o homem foi inicialmente visto como um “príncipe encantado” pela filha, que acreditava ter encontrado o amor de sua vida. O casal namorou por cerca de um ano antes de se casar, mas logo após o início da convivência conjugal, começaram os episódios de ciúmes e discussões frequentes.
“Ela me ligava contando das brigas. Ele a filmava nervosa, e eu sempre pedia que ela se acalmasse. Ambos eram ciumentos”, relatou a mãe. Ainda segundo Vanusa, antes mesmo do casamento, tentou convencer a filha a não prosseguir com a união, devido aos constantes conflitos. Um detalhe que lhe causou estranheza foi o pedido de Tarcísio, a 30 dias do casamento, para que houvesse separação de bens a partir da data da união.
Após o casamento, Vanusa afirma que os desentendimentos se intensificaram. Em um dos episódios relatados, Nayara teria ido visitá-la no hospital e, ao voltar para casa, as brigas continuaram. “Era tudo muito estranho. Eles brigavam, mas logo depois parecia que nada tinha acontecido. Virava uma rotina”, contou.
Segundo ela, a filha chegou a ser filmada por Tarcísio durante as brigas, o que considerava um comportamento abusivo: “Um homem não deveria tratar a mulher assim. Ele devia cuidar dela”.
No dia da morte de Nayara, Vanusa diz que passou a tarde com a filha, que se mostrou animada e falava com carinho sobre o Acre e sua nova casa. Elas foram juntas à loja da cantora e depois fizeram compras. Nayara, no entanto, demonstrava desconforto com o fato de o marido não atender o telefone. Após isso, Vanusa viajou para Sena Madureira.
Durante o trajeto, falou com o filho sobre manchas roxas nas pernas da filha, justificadas por ela como resultado de brincadeiras com os cachorros. Já em Sena, viu chamadas perdidas e recebeu um vídeo perturbador que mostrava a filha com uma arma na cabeça.
“Tarcísio me ligou dizendo que ela estava tentando se matar. Pedi que fosse até ela, dissesse que a amava. Mas ele se recusou. A última vez que vi minha filha foi numa chamada de vídeo. Ela estava sentada no chão, sem arma nas mãos. De repente, olhou assustada para a porta. Foi a última imagem que tive dela.”
Vanusa contestou os vídeos divulgados posteriormente nas redes sociais, que mostram a filha com a arma em punho. Segundo ela, esses registros não correspondem ao momento final de Nayara.
Questionada pelo juiz, Vanusa relatou que a filha fazia uso de remédios para ansiedade, mas não soube dizer os nomes. Foram encontrados comprimidos de Esc, medicamento indicado para depressão. A mãe reforçou que Nayara procurou ajuda psicológica após recomendação sua, mas parou com as consultas após críticas de Tarcísio.
Segundo ela, o marido dizia que as sessões estavam influenciando negativamente Nayara, fazendo com que ela enxergasse problemas na relação. “Ele nunca foi com ela às consultas. Achava que a psicóloga estava colocando ideias ruins na cabeça dela”, contou.
Durante brigas, Nayara teria sido chamada de “louca” pelo marido, o que a deixava profundamente ofendida. A mãe afirmou ter presenciado esse tipo de situação por chamadas de vídeo.
A mãe da cantora afirmou ainda que Tarcísio levou Nayara a um estande de tiros para treinamentos e que, em casa, era comum haver armas de fogo em locais acessíveis, como criados-mudos, caixas de som e dentro do closet do casal.
No entanto, não soube dizer se as armas estavam municiadas.
Durante a audiência, a defesa do acusado perguntou por que Vanusa havia ligado para a psicóloga da filha e se teve acesso a relatórios. A mãe respondeu que buscava entender melhor o estado emocional de Nayara e que soube, por terceiros, que a profissional teria alertado sobre os danos do relacionamento.