A morte do mototaxista Francisco Lima de Araújo, 33 anos, na manhã desta quinta-feira (25) na Rua Mem Sá, região da Bahia Nova, vítima de latrocínio se soma à execução ocorrida no Calafate, residencial Aroeira, na última segunda-feira (22) em que o entregador de lanches Antônio Cosme da Silva, 25 anos, e homicídio da pequena Melina Queiroz Pimentel, 12 anos. Juntos, os três casos endossam uma triste estatística. Só em 2019 até o último dia 23 de abril 93 pessoas perderam a vida assassinados. O mês de abril registrou 15 mortes, desse número, 12 foram em Rio Branco.
Os dados revelam que a violência instalada no Acre nos últimos oito anos, com agravante a partir de 2017, já não faz mais vítimas apenas de membros de facções como é colocado pelos gestores em Segurança Pública, mas a ineficácia do Estado, em elucidar os casos e a lentidão do Judiciário em julgar e manter longe da sociedade esses criminosos, tem começado a trilhar um caminho ruim. A população começa a ser atingida de forma trágica, no bem mais precioso, a vida.
O delegado aposentando, Walter Prado, comentou a respeito dos casos. Disse que é necessário implantar uma força-tarefa permanente para elucidar os crimes, criando para isso uma delegacia especializada, com todo o aparato jurídico e de pessoal treinado para o enfrentamento ao crime. Ele destaca que as ações nos bairros devem ser permanentes para se fazer “um limpa” e assim mostrar a autoridade do Estado.
“Senão acabar com isso, esses vagabundos vão acabar com o Estado, com os pobres. A criação de uma delegacia especializada para apurar os crimes hediondos. Os crimes dessas barbaridades, os crimes dessas pseudo-facções, que pra mim não são facções. Facção não quer ver sangue, morte todo dia, ela quer lucro. É bandido mesmo. Enquanto não se criar um grupo para apurar especificamente os crimes hediondos, não vai reduzir nada. Por que não reduz? Porque são ações esporádicas e separadas. Não são permanentes”, destaca.
Ele elenca, ainda, que um movimento das polícias deveria ser feito nos bairros pobres das cidades acreanas, sobretudo Rio Branco, onde os índices de crimes são mais altos e onde se concentra o maior contingente populacional. “Rio Branco precisa ser efetivamente ocupada pelo poder do Estado. Não há diminuição. Essa história: ah, está diminuindo, não está não. É só conversa, é fake pra imprensa. Não está diminuindo nada, está cada vez aumentando mais. Tem 783 crimes sem autoria conhecida. Se fizer um levantamento nos bairros periféricos, tem gente pagando R$ 30 reais para poder viver em paz. Daqui uns dias quando a classe média começar a pagar é que vão chiar. Como é que você combate crime se você não elucida? Todo mundo se acha no direito de matar”, diz Walter Prado.
O ex-diretor de Polícia Civil, que comandou uma das forças-tarefas mais elucidativas no governo Jorge Viana, levando os números a índices de 94% de elucidação, disse que falta visão da Segurança Pública do Acre na redução dos delitos. Criticou o governo por pagar a mais ao invés de possibilitar o retorno de policiais civis e militares e o corpo de delegados civis para suas atividades.
“Aí dizem: ‘os caras estão velhos’. Estão velhos nada. Polícia é capacidade intelectual não é esforço físico. Esforço físico se monta para cada tipo de operação. O que precisa é sabedoria, é ter informação. Eu acho que fala-se muito em sistema de inteligência, mas aqui no Acre não está funcionando, não. O índice de violência do último governador, você vai ver que houve um acréscimo terrível”, completa.