Após ser violada por um amigo mais velho, a jovem de 14 anos foi estuprada pelo policial que recebeu o chamado para o caso
Um jovem de 14 anos, de Nova Orleans, nos EUA, não queria ir até o pronto-socorro para receber um kit estupro — recipiente com materiais usados para coletar amostras de DNA após uma agressão sexual — depois de ser abusada por um amigo de 17 anos. Sua mãe e a terapeuta tentavam convencê-la a ir, quando o policial Rodney Vicknair, de 53 anos, chegou ao local.
Na teoria, as regras do Departamento de Polícia de Nova Orleans demandam que em um caso como esse, um detetive treinado em crimes sexuais ou de abuso infantil, deve agir desde o começo. Entretanto, não foi isso que aconteceu naquela tarde de maio de 2020. Quatro meses depois, a polícia sinalizou a prisão de um homem por agredir a menina. No entanto, ao invés do acusado de 17 anos, tratava-se do policial. De acordo com os promotores, naquele dia o oficial conheceu a jovem que abusaria meses depois.
Poucas horas depois de conhecê-la, Vicknair passou o braço em volta dela enquanto tirava uma selfie com a menina. Além disso, deixou que ela brincasse com o seu cacete e “brincou” sobre “bater no seu traseiro” e mostrou fotos de uma jovem com roupas íntimas.
Os americanos passaram a desconfiar da má conduta sexual de profissionais como professores, clérigos e outras categorias com acesso e autoridade sobre as crianças. Porém, ainda há pouca consciência sobre os profissionais envolvidos com a lei. Uma pesquisa realizada pelo jornal Washington Post, revelou que nas últimas duas décadas, pelo menos 1.800 policiais estaduais e locais foram acusados de crimes envolvendo abuso sexual infantil de 2015 a 2022.
A investigação também identificou que os abusos raramente acontecem com crianças próximas dos policiais e na maioria dos casos, os alvos são meninas entre 13 e 15 anos. Também foi constatado que os policiais costumam conquistar intencionalmente a confiança dos pais e/ou responsáveis pelas vítimas, e criam oportunidades para ficarem a sós com as meninas.
Segundo Chuck Wexler, responsável por liderar o Police Executive Research Forum, uma organização de formação e política de aplicação da lei, o número dos acusados é “muito preocupante”.
— Tudo o que pudermos fazer para evitar isso e responsabilizar os responsáveis, ajudará a restaurar a confiança na polícia — explica Wexler.
O Departamento de Polícia de Nova Orleans já teve problemas anteriores com o abuso sexual infantil. Recentemente, a cidade pagou US$ 300 mil (R$ 15 mil) em um processo judicial relacionado com o programa Police Explorers dos anos 1980, liderado por um tenente acusado de abusar de dez jovens. O caso foi investigado pelo chefe da unidade de crimes sexuais juvenis, que em 1987 também foi condenado por crimes sexuais infantis.
Fora isso, dois agentes permaneceram no Departamento de Polícia após serem acusados de abusar de adolescentes. Eles estão entre os seis policiais do Departamento de Polícia de Nova Orleans condenados por crimes envolvendo abuso sexual infantil desde 2011. Vicknair é o mais recente entre eles.
Ele foi contratado em 2007, mesmo tendo um histórico que incluía diversas prisões e uma condenação por agressão a menor. Vale destacar que, suas interações com a jovem de 14 anos não foram relatadas aos superiores, mesmo quando foram testemunhadas por outro policial. Segundo matéria do jornal Washington Post, ele visitou a casa da menina durante mais de um mês, dizendo para policiais que estavam sob seu treinamento que eles deveriam aguardar no carro enquanto ele entrava sozinho.
Quando as suspeitas sobre o comportamento de Vicknair foram comunicadas ao departamento, ele continuou trabalhando por uma semana. Durante essa semana, segundo a vítima, o policial a agrediu sexualmente. Em novembro de 2022, ele confessou ter violado os direitos civis da menina, além de admitir que a trancou em seu carro e a tocou por baixo das roupas. A vítima e sua mãe entraram com uma ação federal de direitos civis contra a cidade em 2021.
No processo, a prefeitura informa que o Departamento de Polícia não é responsável pelo abuso, pois o oficial estava fora de serviço no momento do crime. Agora, quatro anos depois do ocorrido, o caso irá a um júri para receber um julgamento na semana que vem.