“O problema Rosa, não é processo, é ser preso”, disse o ex-prefeito Vagner Sales em ligação interceptada pela Polícia Federal alertando uma envolvida que foi secretária em sua gestão da gravidade do suposto esquema com a ONG CBCN. Mais pessoas ligadas ao esquema podem ser presas esta semana. Espera-se que delações sejam feitas à Justiça pelos presos na Operação Presságio
Mais um capítulo da Operação Presságio desencadeada pela Polícia Federal na última sexta-feira, 14, pode ser escrito esta semana com novas prisões. A decisão assinada pelo juiz de Direito Flávio Mariano Mundim da Comarca de Cruzeiro Sul, que autorizou a prisão dos envolvidos revela que Rosa Maria dos Santos, ex-secretária de Meio Ambiente de Cruzeiro do Sul agia como uma espécie de “manda-chuva” na organização.
Segundo a PF, ela comandava uma série de empresas que atuavam junto à ONG CBCN para lavar dinheiro público e falsificar documentos. Em uma das interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal, Rosa, que foi secretária na gestão municipal anterior de Cruzeiro do Sul, mantém diálogo com o ex-prefeito Vagner Sales, que a alerta de das irregularidades cometidas na parceria com a CBCN e para uma possível investigação em andamento. Experiente na gestão pública, Vagner Sales aponta que Iderlei Cordeiro teria superfaturado pagamentos à ONG.
“Olha, Rosa, ele (Prefeito Iderlei Cordeiro) tem deixado uns pontos nisso aí que não existe...de pagar salários altíssimos desse negócio de vocês aí...”, diz o ex-prefeito, o qual recebe a confirmação de Rosa: “É verdade”.
Rosa Maria, uma das peças chaves no esquema investigado pela Polícia Federal, se diz preocupada com a situação de Jocélio Araújo Melo, coordenador nacional da ONG CBCN. Ela lembra que Jocélio “nunca passou por isso” antes, e agora se vê prestes a responder judicialmente. Em resposta, Vagner Sales diz que Jocélio se rendeu aos “caprichos da gestão”, dando a entender que Jocélio foi longe demais e passou a fazer parte do esquema ao aceitar as imposições da Prefeitura.
No diálogo mantido por Vagner Sales e Rosa Maria, o ex-prefeito diz, ainda, que não conhece o coordenador da ONG, Jocélio Araújo, mas alerta Rosa para que faça tudo dentro da lei, sob pena de arcar com a Justiça. Ela responde a Vagner que tem todas as notas fiscais de tudo que entrou e saiu da ONG, entretanto, não negou que houve erros passivos de investigação.
“Nós estamos prestando conta, Vagner, de tudo que nós fizemos... tipo cada recurso, nota... cada repasse. Eu pego o valor do repasse e tudo que foi pago, toda nota (...)” e acrescenta Rosa Maria: “Ele tem ciência disso, de que vai responder, sabe dos erros que cometeu e que não vai mais cometer os erros que cometeu”.
Pelo diálogo mantido pelo ex-prefeito Vagner Sales e Rosa Maria, observa que o prefeito Iderlei Cordeiro tinha conhecimento, embora que sem dolo, dos pagamentos superfaturados à ONG.
Além de Rosa Maria dos Santos Sampaio da Silva, a investigação chegou à “cabeça” da organização. Os investigadores trouxeram aos autos Idelcleide Cordeiro, irmão e chefe de gabinete do prefeito Iderlei Cordeiro. De acordo com o magistrado, ela era a responsável pelos pagamentos feitos pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul à ONG e empresas de fachada.
“Conversas telefônicas colocam Idelcleide Cordeiro como sendo a pessoa que supostamente comandava os pagamentos e contratações dos Termos de Colaboração em comento, ou seja, era a pessoa que supostamente dava as cartas dentro da suposta associação criminosa”, relata Flávio Mundim.
Pesa, ainda, contra a irmã de Iderlei Cordeiro, a suspeita de enriquecimento ilícito. Em consulta à Receita Federal, os investigadores perceberam que Idelcleide aumentou seu patrimônio e fez movimentação financeira não condizente com os rendimentos obtidos na função de chefe de gabinete da Prefeitura de Cruzeiro do Sul.
A Polícia Federal investiga além dos já citados, com exceção do ex-prefeito Vagner Sales, Cleia dos Santos Oliveira Silva e Maria Alcione Ciriaco Medeiros. A primeira era gestora financeira da CBNC. Já Maria Alcione é apontada como proprietária de uma empresa de fachada utilizada pelo esquema para lavagem de dinheiro.