Dragas estavam abandonadas próximo à região onde ocorria há algumas semanas “corrida do ouro”. Anúncio com antecedência da operação deu tempo para garimpeiros fugirem.Uma operação policial localizou e queimou no sábado (27/11) pelo menos 69 balsas que estavam sendo usadas por garimpeiros no rio Madeira, no Amazonas, para explorar ouro de forma ilegal. Elas estavam abandonadas nas margens do rio, e apenas um homem foi preso.
A “corrida do ouro” no rio Madeira estava ativa pelo menos desde o início de novembro, segundo o Greenpeace. O frenesi de garimpeiros teria começado após um boato sobre uma embarcação ter encontrado ouro na região da cidade de Autazes, a pouco mais de 100 quilômetros de Manaus. Rapidamente, pelo menos 300 balsas rumaram para aquele trecho do rio. No estado do Amazonas, garimpar ouro no rio Madeira é ilegal.
As imagens das centenas de balsas de dragagem perfiladas foram divulgadas em diversos veículos de comunicação na última terça-feira. Na quinta, o vice-presidente Hamilton Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia, anunciou que a Polícia Federal e a Marinha preparavam uma operação contra as balsas ilegais na região, o que deu tempo para os garimpeiros se dispersarem. Na manhã de sexta, poucas embarcações ainda estavam no mesmo trecho do rio.
No sábado, a PF deflagrou a operação Uiara, com apoio da Marinha e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além da prisão de um homem, os policiais apreenderam mercúrio e ouro no local. A operação foi comemorada pelo ministro da Justiça, Anderson Torres, no Twitter.
O Greenpeace afirmou que boa parte das dragas destruídas já havia saído da cidade de Autazes e foram localizadas em cidades vizinhas, como Nova Olinda do Norte. “Esta ação prova que o Brasil tem capacidade para enfrentar a ilegalidade e garantir a proteção dos nossos rios, florestas e comunidades tradicionais. Basta vontade política!”, afirmou a entidade no Twitter.
O Greenpeace pediu que o governo desenvolva ações semelhantes em outros territórios que atualmente sofrem com o garimpo ilegal, como as terras indígenas Munduruku, Yanomami e Kayapó.
O Ministério Público Federal acionou na sexta-feira o Tribunal de Contas da União para apurar se houve alguma omissão dos órgãos de fiscalização, como a PF e o Ibama, que teria permitido a atividade das dragas nas últimas semanas.
Risco de contaminação
Movidas por motores a diesel, as dragas sugam um grande volume de sedimento acumulado no fundo do rio, que é despejado sobre um espécie de carpete. Os fragmentos de ouro sugados junto com a terra são recuperados com a ajuda do mercúrio, que tem a capacidade de se unir a outros metais e formar amálgamas.
Após essa etapa, o calor de um maçarico separa os dois metais, já que o mercúrio se liquidifica e evapora numa temperatura inferior do que o ouro. No fim do processo, normalmente, as partes que não interessam, como os restos contaminados, são jogados de volta ao rio.
Um dos maiores problemas do uso mercúrio é o impacto causado no ambiente e na saúde: ele contamina peixes que podem virar alimento e se acumula no corpo humano. Os sistemas nervoso e imunológico podem ser afetados, assim como pulmões e rins, com sintomas que vão de tremores a perda de memória – e, em casos extremos, morte.
Garimpo ilegal
O avanço da mineração ilegal acompanha declarações e decisões do governo Bolsonaro que enfraqueceram órgãos de fiscalização e, segundo organizações ambientalistas e indígenas, encorajaram os garimpeiros a buscar a sorte à margem da lei.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais com o Ministério Público Federal divulgada em julho apontou que apenas 34% das 174 toneladas de ouro exportadas pelo Brasil em 2019 e 2020 tinham origem legal comprovada.