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POLÍTICA

A balbúrdia e o buraco negro

A balbúrdia e o buraco negro

Parace haver uma incongruência gritante no apelo discursivo que vocifera contra o corte de verbas públicas na educação e, ao mesmo tempo, põe-se na linha de frente da cruzada contra a reforma da Previdência e quaisquer outras medidas de austeridade e ajuste fiscal que possam ser anunciadas.

A tão propalada reforma da Previdência pode não ser a senha para uma guinada do Brasil à beatitude fiscal e econômica. Mas sabe-se que sem ela, cada vez mais cortes serão necessários, inclusive na educação - área que nunca teve propensão para ser prioridade neste governo, nem no governo anterior, Dilma-Temer.

Não se tem conhecimento de outra receita para atingir o equilíbrio fiscal que não seja a contenção de gastos, o aumento de impostos e a aprovação de reformas que ataquem privilégios, em todos os setores da sociedade, do público ao privado.

Com efeito, a opinião pública é majoritariamente contrária aos cortes orçamentários e ao aumento de impostos. Restam as reformas como fontes de salvação das finanças públicas e o consequente livramento do buraco negro que o ministro Paulo Guedes advertiu.

Infelizmente, prevalece, no debate político-ideológico, um juízo político estúpido, que norteia para a nulidade uma posição tomada em relação a determinada agenda, quando, no bojo da argumentação, não está estampada uma etiqueta timbrada, como se o fato de ter uma posição contrária a uma agenda que se considera equivocada, inviabilizasse, imediatamente, o apoio a outra, mesmo que se concorde com esta. É a velha lógica da oposição pela oposição e da situação pela situação.

O selo definidor da posição ideológica é mais importante do que a discussão real sobre o mérito objetivo do debate público cotidiano. O nível foi levado ao rés-do-chão.

O fanatismo e o alinhamento ideológico automático e uniforme têm nos levado a níveis extremos de intolerância, degradação social e aviltamento do pensamento crítico nacional.

A esquerda dividiu o País, sistematizou a corrupção, arriunou as contas públicas, acossou adversários e tentou personificar as políticas sociais e partidarizar as instituições. E o efeito dessa balbúrdia petista reflete agora numa revanche ideológica contra setores que Bolsonaro considera que são antros da esquerda: educação, meio ambiente, direitos humanos.

Em tempo, ser contra os desmontes financeiros em setores estratégicos do Estado brasileiro e, concomitantemente, apoiar a reforma da Previdência é um gesto de responsabilidade cívica para com o País.

Romisson Santos é professor e ativista político.