Criado ainda na gestão do então governador José Augusto de Araújo, o Deracre (Departamento de Estradas de Rodagens do Acre), ao longo da história acreana, já foi a maior autarquia de que se teve notícias neste Estado. Era tão forte que, além de orçamento próprio, tinha a própria tesouraria da qual saíam os pagamentos de seus prestadores de serviços, sempre na casa dos milhões.
Mas também foi por diversas vezes mal usada e mal gerida e muitos dos seus bens, máquinas, tratores, veículos utilitários e até carros de luxo que transportavam seus diretores desapareceram ou foram sucateados.
Uma das missões dos primeiros gestores da atual gestão foi localizar o que desapareceu, ao mesmo tempo que recuperavam a credibilidade da autarquia, principalmente em relação aos seus prestadores de serviços, empresários que locam máquinas e tratores e os caçambeiros que alugam seus bens. Eram comuns ações de impedir a entrada e saída dos diretores em piquetes, bem como a visível baixa estima de seus servidores.
A revitalização em definitivo, porém, só aconteceu após a reforma administrativa, na qual a autarquia se deligou da Seinfra e passou a ser vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Regional (Sedur).
Nascido no Mato Groso do Sul e formado em Engenharia Civil pela Universidade de Londrina, Petrônio Antunes, de 40 anos, chegou ao Acre em 2007. Trabalhou na Secretaria de Planejamento (Seplan) e depois foi presidente do extinto Deas (Departamento Estadual de Água e Saneamento), na gestão do governador Binho Marques.
No cargo há a dois anos e meio, agora na condição de protagonista, Petrônio Antunes, de 40 anos, recebeu a nossa reportagem em seu segundo gabinete, que fica na Usina de Asfalto, no bairro Distrito Industrial. Veja os principais trechos da entrevista:
Notícias da Hora – Quais são as suas principais realizações?
Petrônio Antunes – Primeiramente fizemos um planejamento junto ao governador, um gestor democrático, que me deu autonomia. Óbvio que ele me passou algumas diretrizes e demandas, ou seja, as grandes obras como o anel viário de Brasiléia, as Pontes da Sibéria e de Sena Madureira, a duplicação da Rodovia 405, em Cruzeiro do Sul, as aberturas das estradas interligando os municípios de Porto Walter e Envira e o estudo para a abertura da ligação com Santa Rosa do Purus. Além disso, tem a parte geral, que é apoiar as prefeituras no melhoramento de ramais e operações tapa-buracos em vias públicas. Neste momento, por exemplo, estamos recuperando e revitalizando a Cidade do Povo. Temos ainda que fazer a manutenção de rodovias.
Notícias da Hora – Quais sãos as previsões para a entrega de algumas dessas obras?
Petrônio Antunes – No próximo ano, pretendemos inaugurar o Anel Viário de Brasiléia, a Ponte da Sibéria, a Ponte de Sena Madureira e a duplicação da Rodovia 405.
“A grande obra do governador foi revitalizar o Deracre”, diz Petrônio Antunes
Notícias da Hora – Os MPs Federal e Estadual impetraram uma ação para impedir a abertura da estrada que interliga o município de Porto Walter. Por que?
Petrônio Antunes – Lá ainda não é uma estrada. Foi feito apenas a abertura, ou seja, a supressão vegetal para o caminho de serviço. Agora vem o próximo passo, que é fazer o projeto da estrada, que passa por várias normativas: raio de curva, declividade, altura, entre outras. Naquela fase, onde foi feita a abertura, por exemplo, podemos mudar o trajeto. Todos conhecem o impacto econômico e social causado pelo isolamento. Não foi por acaso que passamos dois anos planejando essa obra, que não passa pela Serra do Divisor nem corta reservas indígenas. Os ministérios públicos tratam como estrada e, por isso, entraram com as ações. A gente fez o mapeamento exigido pelo Iphan, que é a parte de patrimônio e da arqueologia e também o pedido de supressão vegetal ao Imac, além da consulta à Funai. Enfim, adotamos todas as medidas legais antes dessa intervenção inicial. A abertura em si foi de 33 quilômetros, uma vez já existiam os ramais, ou seja, 54 dos 87 quilômetros da ligação já estavam consolidados. Aquela obra é um sonho para as nove mil pessoas que moram em Porto Walter. Ah, a estrada também vai beneficiar os moradores de Marechal Thaumaturgo. O turismo é bastante prestigiado em toda aquela região.
Notícias da Hora – Embora seja de responsabilidade do governo federal (Dnit), a BR 364, no sentido Rio Branco/Cruzeiro do Sul, é uma vergonha. O que houve com aquela obra e o que o Deracre faz para atenuar o sofrimento dos acreanos que utilizam a estrada?
Petrônio Antunes – O Deracre tem uma parceria com o Dnit, digamos assim, porque somos coirmãos. Porém, não temos jurisdição para intervir na BR. Os recursos para essas ações são muito grandes. Com relação às tecnologias adequadas à construção, tudo é possível. A engenharia se adapta à região e aos recursos disponíveis. A viabilidade deu para fazer, mesmo com os problemas de engenharia bastante visíveis nos dias de hoje. Gastaram R$ 1 bilhão, mas sabiam que, todo ano, se gastariam cerca de R$ 200 a 300 milhões para fazer a manutenção. De Sena Madureira até depois de Tarauacá, temos um solo jovem, orgânico (tabatinga) e com pouca capacidade de suporte. As matérias primas da região também não ajudam. A BR 364 precisa passar por uma reconstrução, principalmente porque não houve a manutenção adequada. Infelizmente a situação dela é precária.
Notícias da Hora – Como ou de que forma o governo pretende intervir nos ramais?
Petrônio Antunes – Nós temos um grande problema, que é se adaptar à região amazônica. A manutenção dos ramais é como enxugar gelo, ou seja, todo ano tem que ter. E os investimentos são muito altos. Piçarrar um ramal em Sena Madureira ou Manoel Urbano, por exemplo, é um problema: não existe esse material na região. Fizemos convênios com as prefeituras, independente de cor partidária. Nunca houve uma política de manutenção de ramais como no atual governo. Os ramais têm crescimento vegetativo, ou seja, todo ano aumenta a quilometragem. Quando eu assumi, eram 12 mil e hoje já está em 15. Para que alguns ramais tenham trafegabilidade de inverno a verão, estamos trabalhando nos pontos críticos. A gente atua em mais de 10 mil quilômetros de ramais todo ano. Além de tudo isso, tivemos que dar manutenção no que já havia sido construindo em outros governos. Caso não tivéssemos assumido isso, todos aqueles investimentos seriam perdidos.
“Nunca houve uma política de manutenção de ramais como no atual governo”
Notícias da Hora – O prefeito de Rio Branco, reiteradas vezes, disse que não vai intervir nas obras do extinto programa “Ruas do Povo”, alegando que foram os serviços mal feitos e que o problema é do governo estadual. Comente sobre isso.
Petrônio Antunes – Vamos começar pela Cidade do Povo. No projeto inicial, estavam previstas cerca de 10 mil casas, mas foram construídas apenas três mil. A melhoria das ruas era uma reivindicação antiga, embora estejamos fazendo outras intervenções. É um grande serviço cujo investimento é mais de 10 milhões. Quanto às Ruas do Povo, eu penso o seguinte: quando alguém casa com viúva, assume-se tudo no tocante àquele novo relacionamento [risos]. Como agentes públicos, não podemos empurrar o problema com a barriga. Eu não quero entrar no mérito. Isso é uma questão que a Justiça vai decidir. No entanto, o que não podemos é deixar a população desassistida. A minha jurisdição são rodovias.
Notícias da Hora – Qual é ou quais são as obras de maior destaque do governo?
Petrônio Antunes – A principal obra que o governador Gladson fez foi revitalizar o Deracre. Hoje, os servidores têm orgulho de trabalharem aqui. Estamos organizando uma festa com os servidores. Viramos uma grande família. Somos uma autarquia que pode fazer grandes obras, sempre apoiando os municípios e o Dnit. As pessoas estão motivadas por trabalharem com a gente. Hoje os comerciantes querem fornecer para o Deracre. E estamos muito orgulhosos disso.