Uma causa nobre. Assim pode ser definida a busca pela conscientização sobre o autismo. Diante disso, a Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), a pedido do presidente da Casa, Luiz Gonzaga (PSDB), realizou nesta segunda-feira (3) sessão solene para conscientizar as pessoas sobre a importância da compreensão do Transtorno do Espectro Autista (TEA) que, segundo levantamento, atinge cerca de 3 milhões de pessoas no Brasil.
Preocupado com a situação, Luiz Gonzaga propôs a sessão solene em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A sessão contou com a presença de entidades e associações que lutam por direitos e atendimento digno aos portadores de transtorno do espectro autista (TEA) no Estado.
De acordo com dados de um grupo de trabalho criado pelo Ministério Público Estadual (MP-AC), atualmente, o Acre pode ter cerca de 20 mil pessoas autistas sem diagnóstico formal. Acredita-se que 11 a 12 mil pacientes têm laudo e o restante não.
Luiz Gonzaga deu início à sessão destacando a importância da discussão de pautas relacionadas aos direitos e melhorias no diagnóstico e atendimentos aos acreanos com autismo.
“É importante reunir associações, profissionais da saúde, órgãos do governo e sociedade civil para debatermos pautas de melhorias para os autistas do nosso estado. Acompanho a dificuldade das famílias por todo o estado em conseguir consultas e tratamento aos portadores de autismo. E nós precisamos avançar nessa discussão”, disse.
Heloneida da Gama Pereira, presidente da Associação Família Azul do Acre, enfatizou que a associação tem como missão defender, promover e apoiar os direitos das pessoas com espectro autista (crianças, adolescentes e adultos).
“A Associação vem lutando para mostrar o seu importante papel para a sociedade, prestando apoio e orientação sobre o autismo para a população acreana. A nova e boa notícia é que agora de fato teremos um espaço que recepcionará os seus associados e colaboradores e voluntários. Isso graças ao apoio da vice-Governadora, Mailza Assis e do Secretário de Estado de Assistência e Direitos Humanos, Lauro Santos”, enfatizou.
Heloneida ressaltou também a importância da atenção voltada para as mães, onde segundo pesquisas são as que mais sofrem dentro do núcleo familiar. “Vamos buscar apoio de profissionais psicólogos para que possamos prestar esse serviço. Faremos de tudo para amparar essas pessoas’’, complementou.
Um dos momentos mais emocionantes da sessão foi durante a fala da idealizadora do Movimento Autista do Acre, Adejaína Santos, que contou dos desafios vividos em sua experiência pessoal de mãe de crianças com TEA. Ela falou sobre a importância de combater o bullying. “Estimular o conhecimento sobre o autismo diminui casos de Bullying e instiga a aceitação das diferenças no convívio escolar, sensibilizando a sociedade. Essas pessoas não possuem uma doença, mas um transtorno de neurodesenvolvimento. Neste dia, peço encarecidamente a todos os presentes que olhem para esta causa, que os parlamentares vejam isso com carinho”, solicitou.
A coordenadora do Programa de Extensão de Autismo, Rauana Batalha, fez sua declaração como autista e também mãe de autista. Ela pede que sejam elaboradas mais políticas públicas para diagnóstico do espectro em adultos.
“O percentual de adultos com autismo não diagnosticado é muito elevado, e, aqueles que já o receberam na fase adulta, temem a reação das pessoas. No curso de medicina, por exemplo, temos alunos autistas que se escondem por medo de sofrerem preconceito. Espero que com as ações do programa consigamos sensibilizar a população como um todo”, disse.
O médico especialista em autismo, Mazinho Maciel, que também é pai de um autista, falou sobre as dificuldades enfrentadas no dia a dia não apenas por aqueles que possuem o transtorno, como também pelos familiares e cuidadores. Ele pontuou também que nos Estados Unidos, uma a cada 36 crianças são diagnosticadas com autismo até os oito anos de idade.
“Falo agora como pai de um autista, alguém que já passou pelos olhares estranhos, julgamentos e discriminação com meu filho. Nós passamos pela aceitação, negação e luto ao observarmos o autismo em nossos filhos. Temos quase seis milhões deles no Brasil, desses, 14% ceifam a própria vida, é um número muito alto. Nós que lidamos com isso diariamente, temos 200% de chances a mais de desenvolvermos um câncer e 100% a mais de ter doenças cardiovasculares”, relatou.
Mazinho Maciel frisou que, de acordo com uma pesquisa divulgada pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) dos Estados Unidos, existe um aumento na prevalência do Transtorno do Espectro Autista (TEA): uma em cada 44 crianças aos oito anos de idade é diagnosticada com TEA. “O aumento foi de 22% em relação à pesquisa anterior (elaborada em 2020), cuja proporção era de 1 para 36. Caso esses números sejam similares no Brasil, (não há dados oficiais), seriam cerca de 5,9 milhões de pessoas com autismo no nosso país”, acrescentou.